“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

31
Jul 13

 

Church bells toll
Thunder roars around me
I’ve been warned to prepare myself
For the fall

I’m armed to the teeth with tender pain
Of all yesterdays

Tears on tape
I will follow into your heart
Sketching rain from afar

Tears on tape
She surrenders needle in arm
While we dance into the storm

Darkness falls
Settling the score with love for once and for all


Soaked in blood I cry my farewells

To the summer rain, lonely and afraid

Tears on tape
I will follow into your heart
Sketching rain from afar

Tears on tape
She surrenders needle in arm
While we dance into the storm

And for a moment there’s no pain
For once there’s no more pain in your eyes


but maybe a little love, just enough
To convince us to keep breathing on

Tears on tape
I will follow into your heart

Tears on tape
I will follow you, into your arms

 

Lyrics by Ville Valo/Letra de Ville Valo

publicado por Ligeia Noire às 12:06
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29
Jul 13

 

Estou exausta, ontem cheguei a casa depois do trabalho e só me apetecia dormir até à semana seguinte, por falar em semana seguinte, tenho de ir buscar o vestido, pois é, tenho... e enquanto escrevo as letras que compõem a palavra -tenho- pergunto-me o que me aconteceu... não me apetece mais nada, não quero isto nem aquilo e sabes a melhor?

Agora, cada vez que a flor-selvagem fala comigo, sinto um enfado terrível!

Garantindo a premissa de há uns tempos (que alguns pensavam ser uma defesa acentuada) de que nunca gostei dele como achava que gostava, toda a minha obsessão foi apenas com o sentimento, com o mistério, a periculosidade, comigo e com a forma como o mundo se desenrolava cada vez que me aleijava, escrevi tanto inspirada no que ele me fazia sentir, ou no que eu me fazia sentir, maravilhosa a forma como tudo funciona, maravilhosa.

Sou até capaz de te confessar que nem, ai como lhe chamei aqui... hmmm nada, pois.

Bem, mas nem esse meu amigo me apetece encontrar e dirias tu: «ora bolas falling quão apaixonada te encontras?» e te diria eu: «meu caro amigo, não sei se é do enamoramento mas sinto-me assim e nada posso fazer ou quero fazer.», alheada do passado e do futuro, assaz enlevada, como se me tivesse, também enamorado, pela rapariga que o Cavaleiro despertou, pela forma serena e desprendida com que me trajei para viver aqueles dias, sim eu sei que tenho de ir buscar o vestido e tu sabes o que arrasto quando digo isto.

E há música e a música constringe-me, como um espartilho e como gosto, ah como gosto.

Sinto-me ninada, protegida, escondida, alcançada e tudo e tudo eu me sinto neste lagar, sono de berço.

E, perdoa-me, mas terei de falar do Neige e dos seus Alcest, por mais estranho que te possa parecer, esta entidade, que inicialmente julguei ser o meu ponto mais distante, fez com que abrisse os olhos para a leveza, a serenidade, a fantasia de melancolia doce, o mar, os gestos lentos e educados que eu, uma presa de violências espontâneas que se fazia de adagas e pingentes de gelo, sempre desdenhei.

Essa rapariga de entraves que rejeitava tudo o que lhe parecesse mar calmo e poesia... ah, como essa rapariga abriu carreiros, como essa rapariga se fez fruta madura.

Está agora compreendido o anjo do lado de lá, o anjo cheio de acalmias, sem os movimentos bruscos e as insurreições e rebeldias que esta procurava nos que, apenas, lhe excitavam os sentidos.

Como esta entidade a fez parar e colher flores: rosas e violetas e lírios, até chegar às glicínias sem sequer lhes conhecer o nome.

Pode parecer jocosidade minha, não a encubro, mas há similitudes entre eles. Encetei por carreiro tal, graças a um amadurecimento e perda de peso que só calcar tal carreiro me poderia ter ensinado.

Como sou apaixonada por Alcest, foda-se é maravilhoso, tudo ali é maravilhoso, tenho de lhe agradecer a forma como me abriu os olhos, a acalmia que me proporcionou, o berço, o caminho certo para fora do labirinto...

Há muita beleza nas cidades por esse mundo fora, a arquitectura, as igrejas, as pontes, os jardins, há pessoas agradáveis, coisas bonitas mas nada me atinge como a música, por mais miserável que seja a situação ou por mais eufórico o ambiente, a música é dona de mim.

Não consigo sequer pôr por palavras o que sinto enquanto ouço é como explodir de amor, tenho vontade de anunciar ao mundo como se fosse o evangelho, partilhar a beleza indescritível, deixar que outros sejam abençoados também.

Não sei para onde vou mas sei de onde vim e onde quero estar e continuar.

 

publicado por Ligeia Noire às 11:13
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23
Jul 13


Prelúdio


Enquanto ele lavava as frutas, eu procurava por umas tesouras, não encontrei nenhumas mas uma faca também servia, dobrei a fita ao meio e cortei.

 

Why am I?

Why am I here?

So distant from

My old life?


Está sol hoje, está sol hoje e não sei.

Eu não sei se já tinha sido -aquela- alguma vez... não, nunca.

Fui-me assim pela primeira vez, quero contar-te tudo mas não sei, perco-me toda...

Estava na sacada, o cabelo ainda estava molhado, deixei que pendesse pelo parapeito enquanto bebia cerveja e os olhos se me humedeciam ao som de cada corda da guitarra que ele deixava ressoar.

Mesmo se tivesse querido tentar aquele quadro anteriormente, não o teria conseguido, não assim, não tão imaculado.

 

You see,

I'm waiting patiently

And what this means to me

Nobody ever knows.


Percebi, ali, que as minhas alegrias serão sempre meias alegrias, atordoadas de melancolia e é bom e sabe bem ser assim.

Ofereceu-me rosas de manhã, três rosas, três rosas muito vermelhas.

Às vezes era dia, outras vezes era noite, contemplámos a lua, descobrimos o mar e flores, muitas, as roxas principalmente.

Fomos ali e acolá e eu prometi ir lá e quis que a promessa se tivesse feito verdade já ali, ou então também não importava porque eu era nova, renascida, tudo era diferente e eu não tinha medo, nem sequer percebia porque tinha tido medo quando me senti tão segura depois…

Gosto que ele não use perfume como eu, inebriada sim, aquele cheiro é o mesmo do da última carta, do do último passeio pela cidade religiosa...

No jardim da outra margem, quando ele desenlaçou o cabelo de trigo para que secasse e eu estava deitada no colo dele como se fosse uma reprodução da pietà... pareceríamos duas mulheres a olhos incautos.

Cavaleiro-das-Terras-Brancas é estranho sim, exótico e o trecho join me in death, this life ain’t worth living fez todo o sentido que poderia alguma vez fazer…

Há compreensão em toda a extensão do azul daqueles olhos glaciares e apeteceu-me chorar muitas vezes porque a beleza é assim, triste e avassaladora e de pontas que aleijam a sério.

E dizia-me que compreendia na plenitude o quão verdadeira fui quando lhe disse que era um gato, e chamava-me gata, gata de passos finos e sorrateiros, gata que brinca e esconde os olhos e as mãos nos bolsos dele, gata que não é de ninguém.

Numa das noites que acabava de cair fomos para o pequeno jardim do terraço, havia alemães e americanos e outros e outros e depois havíamos nós, nós sozinhos, ainda com o cheiro dos livros velhos nos dedos, era noite e bebemos muito, e falámos ainda mais e fomos e viemos e brindámos uma última vez.

Lembro-me do castelo, do loureiro, da escadaria de pedra, das ruas estreitas, da água, dos momentos em que parávamos e olhávamos para dentro dos olhos.

Houve até um dia em que fomos dar a um cemitério e, se tudo isto não fosse natural e imprevisto, poderia ter perfeitamente acreditado que estava dentro da cabeça do Poe, musicada pelos My Dying Bride.

Percebes Supremo porque não queria ir embora? Voltar à minha vida miserável, às pessoas que conheço, era como se quisesse ser sempre assim, uma estranha em terra estranha, de braço dado ao Cavaleiro a quem disse o laço branco porque quis, por ser merecedor, por sentir, por derrotar todas as espadas desembainhadas e até o meu punhal apontado ao peito.

 

Have you forgotten

All this beauty

Around you?

All your worries,

Could easily fade

Behind you...

 

Who is pulling you back?

The end is near.

With such...

With her strength.


As portadas escancaradas do quarto enquanto ele enlaçava a fita vermelha nos meus pés…

… Circe poisoning the sea, Sur l'océan couleur de fer, embalavam esta alegria berçal, este querer não ir e querer não me mexer muito para não sentir que estava a perder o orvalho, ah Alcest!

Claro que sim, claro que tinha de banhar a cidade nocturna, nevoeirenta com a voz do Neige, todo o meu corpo se enrolava e escondia ainda mais no Cavaleiro enquanto cantavas: homem nevado...

Houve a My Pain dos Triptykon:


Fall asleep in my arms
Never to wake up ever again

Morning comes as a surprise
To the solitary heart
This world within my mind
Did it ever even exist?

I wish my touch could mend your bleeding wounds
And mark my existence in your time
I fight the impending lure of belated sleep
For fear of waking up and you are gone


Diz tudo, não é?

Mas, curiosamente, foi The Gathering que imperou e perdurou, a brisa nocturna bailava com a voz da Anneke para cá e para lá e fui adormecendo, esperando a bênção de nunca mais acordar.

Não foi luxúria, euforia, tristeza, foi outra coisa... foi desaparelhamento de tudo o que tinha sido até ali, era como se fosse eu, sim, eu, mas eu mais leve, mais graciosa, eu sem passado e principalmente sem futuro, um eu contente, de sorrisos, um eu enamorado, nobre.

Um eu sem ligações, sem conhecer ninguém, um eu que não queria voltar.

Acordar para voltar? Não.

Descobri uma rapariga elevada e cristalina que nunca logrou existir até agora, uma rapariga celestial, mais filha de ti do que outrora alguma vez conseguiu ser.

Sabes, contei-lhe os meus dois segredos, contei-lhe de ti… contei tudo a bem dizer.

Senti-me tão afastada do mundo e de toda a sua feiura, só existiam lírios, gatos, acordes de guitarra acústica e vinho de tantas proveniências, caía-me e caía-me e havia a viagem de comboio com o rio lá ao fundo e a minha cabeça no ombro dele, enquanto os dedos se seguravam às suas mãos como se fosses tu, havia tudo isto a bailar à minha volta.

Misturo os dias todos, ainda é difícil destrinçar, é tudo uma arca russa, um baile sem paragens.

À noite, disse-lhe que estava enamorada, apaixonada, que o amava nas línguas todas que interessavam, não quis saber de depois, depois, depois, depois que se foda... interessava-me dizer-lho e dizer-lho ali.

Chorei por entre o meu cabelo descido e espalhado quando ele estava a tocar sentado na sacada, chorei quando disse que o amava e chorei quando foi embora, chorei três vezes, três rosas, ele levou a metade da minha fita vermelha e eu tive certezas de gelo de que não queria falar com mais ninguém.

E magoa-me que a vida seja tão desajeitada e dura quando comparada àquela que se desenrola quando somos deuses, almas, anjos enlevados e não caídos.

E não sei se fui demasiado egoísta ao pedir que me salvasse mas não pode ser mais ninguém a fazê-lo senão um Cavaleiro de coração puro e alma branca.

Because Circe is always poisoning the sea…

 

к моему любовнику

 

publicado por Ligeia Noire às 14:07
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15
Jul 13

 

Ante Scriptum: Rapariga, lembra-te de que ir trabalhar depois de uma noite de absinto e tabaco é uma leviandade e tu já não tens idade para leviandades mas adiante, tenho de me abstrair e enquanto espero deseja-me sorte.

 

 

(…)  That’s Charles Baudelaire, that’s Charles Bukowski, that’s a Finnish writer called Timo K. Mukka (vai apontando para as tatuagens no braço) his stuff has never been translated but he is a guy who used to live in the middle of the woods in Lapland in Finland and ah… he ah… lived twenty- nine years and looked like sixty when he died.

I don’t know the stories about him being a crazy alcoholic, just downing bottles and bottles of vodka and just writing in a manic frenzy but ah… he also had a family and I heard that he was a great father, you know, and he wrote about life in little, tiny… towns and villages in Finland and they are extremely sexual and very depressing but he…

You know… very few writers… write down… ah… write down their thoughts as they really are.

You can tell when you read somebody, and you can actually tell he hasn’t been editing himself to be more appreciated in literary circles, in a way, I am not saying that it is dumb down, I am saying you can just instantly see the flow.

The brush strokes get heavier at the end of the sentence or they don’t… or lighter and that’s how he wrote and ah... he is one of my idols in a way of being a father, a good father, and the support of a family and then still living a very passionate life and being able to get so much out of himself that makes life worth living for I guess.

 I think one of the things… his stuff is so… is so very Finnish and not even Finnish it is more Lappish so the language is very hard to translate, there are lots of words that even I don’t get because it is old-school.

It is like lots of dialects that very few people use, so it is very, very hard to get the all vibe down and I think some of his work has been translated into German or Swedish but I don’t know how well it would do in English.

It is like those rural writers here in America, when you write about a very specific place and you have to write in a certain specific way to get the actual mood of living in there and nobody who’s ever been there can get the entire right feel out of it.

I actually spend a couple of weeks in Lapland to write Venus Doom…

So yeah, I rented a cabin in the middle on the woods and, and I just went there and ended up hooking up with all the local reindeer herders, listening to their stories  and taking helicopter rides over the mountains and wrote a few songs, I actually wrote the basic ideas for Sleepwalking Past Hope back in Lapland and for Cyanide Sun as well and I can hear the Lappish influence in those two tracks in Venus Doom because for me they sound, the right word for it would be… they sound really widescreen, like  really cinematic, there’s like a big landscape behind the music, it’s a very wide angle and I am really proud of those things, I can really hear the sound of the North.

So, I was thinking of maybe going back there for the next album.

You know people tend to be… keep very much to themselves, they are not very open, there’s not a lot of chit-chat going around and they are very honest, in a way, there’s no small talk, they don’t bullshit you.

So let’s say if I walk into a bar somebody, a guy, can walk up to me and say «are you a good guy?»

If I say «yeah, I consider myself a fairly good guy», «Ok, in that case, come along and sit down with us.» So it is that direct, there’s no bull whatsoever and I love the honesty in that because, you know you kill a lot of time by trying to please people, trying to, you know, having the mask on, and back in the North they don’t care about that. That’s the cool thing about it, something very unique.

But, nowadays, also because so many things had become so liberal kids have to  stretch further and further to make themselves noticed, if you know what I am saying, cultural and all that.

There are not so many taboos anymore and obviously kids are always searching for taboos.

You know, if we just think of, let’s say, intoxicants… you know, back in the day weed was like this cool illegal thing it is nothing nowadays, meth it’s nothing nowadays, cocaine is nothing nowadays and smacks are just not interesting for anybody, you’re just not off.

You know, so they are searching for something, they’re searching for, you know… what they call? Ahmm, how George Bataille said transgression literature.

Something that rips the reality around you apart and you can restructure it through the way you clothe yourself, through the way you live your life.

The search for individuality is becoming more obsessive at all times people want to be so different…

You know people rise to the barricades or stretch the boundaries and try to see if the grass is greener on the other side.

A lot of people don’t do that on a psychological or on an intellectual level, you can still get a lot by just reading… you know lots of thoughts and a lot of ideas.

A lot of people seem to, I am not saying everybody, seem to have the obsession that you have to show your individuality and your crazy identity through outer means… and It is not important I guess…

You know... it is better to shut up and say one good sentence once every ten years and you will be a God … ha ha ha I am not saying that you should do that.

(…) yeah especially in America if you are watching telly what’s going on there? It is getting ridiculous all the reality shows and everything.

Nothing is taboo anymore, so what are they looking for next?

What’s going to be the next kick, murder?

Or suicide is going to be the next kick or something and it has (…).


Post Scriptum: Parece tontice mas relembrar estas coisas ajuda-me a respirar, cá está um dos últimos góticos mas shiuu não digas a ninguém, é que as pessoas ainda se prendem ao eyeliner.

Voltar a esta entrevista deixa-me calma, como quando costuro ou arrumo a casa, já a sei de cor e às vezes partes dela vêm-me à cabeça em determinados momentos e confortam-me e lembram-me que ainda aqui estou depois de tudo, ainda aqui estou.

 

publicado por Ligeia Noire às 10:11
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02
Jul 13

 

Estava a recomendar-lhe a versão do quarteto de cordas da Join me in death numa de gozo mas se casasse, não haveria dúvidas de que era com essa que entrava, o romantismo levado ao extremo, junta-te comigo na morte porque em direcção ao altar eu caminho, dizem no oriente que a morte traja de branco, há velas e flores, Cristo de sangue ungido nas mãos e pés, tu vestes de negro e levas violetas na lapela, punhos e cravat de renda branca, despediríamo-nos assim, ali, da vida e que a morte me abençoasse contigo.

Talvez tirasse de lá as pessoas, as pessoas não fariam falta, a menos que fossem outro tipo de pessoas.

O Valo explicava, aquando do boom que foi o Razorblade Romance, que a canção não era sobre o suicídio mas uma versão moderna da estória de Romeu e Julieta, a minha amiga diz que o organista provavelmente não a saberia tocar… ela escolheu três músicas e perguntou qual era a minha favorita, o cânone em ré maior do Pachelbel claro, não conhecia o gajo mas quem não conhece o tema?

Agora que estou metida nisto fico surpreendida com o protocolo e os rituais que proliferam na cerimónia.

É que há várias composições de Mendelssohn, Händel, Bach, Beethoven ou Verdi para cada momento, há para a entrada das Damas de honor, para a entrada da noiva, para a saída do altar dos noivos, para a saída do altar dos convidados… uma profusão de rituais simbolistas admirável.

Também me falava de que queria que fosse cantado o Avé Maria, sim esse do Schubert, na altura da troca das alianças, o que irá acontecer porque como fazia parte do grupo coral, há um tenor que irá proporcionar o momento, o restante enlace será acompanhado por vozes e piano dos restantes elementos, só espero que não esteja demasiado calor, porque isto de desmaiar lá à frente é coisa que ainda não experimentei.

Trabalhei no Domingo até meio da tarde, o calor era tanto que não sabia se me apetecia saltar do primeiro andar ou atirar a outra e dormir um sono depois.

Ainda por cima, pedi ao meu irmão para me ir buscar e a meio do caminho o carro avariou… resultado: fiquei a conhecer melhor a namorada dele, enquanto ambas riamos nervosas ao contemplar o que ele e os amigos magicaram: rapinar uma corda de um portão para rebocar o carro com o carro de um deles, se não morri de ataque cardíaco já não morro.

Falta uma semana e estou nervosa, ando para aqui a falar de casamentos e trabalho e calor, ando às voltas e voltinhas e ignoro e ignoro e reparo que hoje não há metáforas, nem parágrafos barrocos, é só trivialidades e menoridades.

As coisas em que eu me enovelo, Jesus Cristo.

Voltemos às menoridades, eu não me apoquento com estas coisas: viagens, trabalho, dinheiro, casa, carro, família, ela foi lá passar o fim-de-semana, disse-me que a nossa prezada estava bem na vida, que a casa era maravilhosa etc. e tal confesso que a princípio fiquei um pouco confusa, a hesitação (Hesitation Marks ah ah ah) quis entrar mas foi só isso, somos diferentes, eu admiro-a, somos diferentes e pronto, avaliei, pactuei, brinquei com ela, tentei parecer-lhe o mais normal e comum possível nas observações que fazia mas na realidade mandem-me para Tóquio, eu visto aquelas saias rodadas pretas e atiro-me de um arranha-céus com um sorriso oco no rosto.

É por dentro que os fios têm de estar ligados, é por dentro que têm de fazer sentido, por fora só me interessam a roupa e os sapatos enlaçados.

Às vezes, ainda me ocorre pedir a um gajo muito mau e poderoso que me salve e me coloque no berço mas são apenas desejos iguais aos dos chocolates ou dos sapatos pretos de correias que comprei hoje: fomes.

A Join me in death, lembro-me bem…  andava para aí no segundo ano do curso e ao chegar às aulas da parte da manhã, ouvi aquele memorável início, aquelas notas de piano a ecoarem pelo átrio, arrepiei-me da cabeça aos pés, era como se alguém te estivesse a ver de lingerie sem quereres, era a tua intimidade ali espalhada por todo o lado, por rapazes de boné, homens de camisa, raparigas de piercings, raparigas platinadas, estava baixinho, a maior parte deles não se apercebeu mas eu… eh pá… para mim era como estar na terra dos mil lagos, em altura do sol da meia-noite.

Não havia rádio na escola, rádio no sentido de uma emissão com locutores e tudo, como nessas escolas da treta americanas. Provavelmente, era uma aparelhagem lá no quarto escuro deixada em modo de repetição, a música tocou o dia todo, os meus colegas nunca mais a esqueceram, ainda hoje sabem quem eles são, ainda hoje se lembram de mim quando os ouvem ou vêem o heartagram, tenho de ir à Finlândia um dia destes pedir-lhes comissão.

Eu bem digo que um dia conto a minha história de enamoramento por estes rapazes mas duraria tanto tempo, envolveria tantos momentos, pessoas, caminhos sem retorno e eternidades consoladas a álcool, que ficará para o dia último, noite última, sim, noite.

 

publicado por Ligeia Noire às 13:36
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