Estou exausta, ontem cheguei a casa depois do trabalho e só me apetecia dormir até à semana seguinte, por falar em semana seguinte, tenho de ir buscar o vestido, pois é, tenho... e enquanto escrevo as letras que compõem a palavra -tenho- pergunto-me o que me aconteceu... não me apetece mais nada, não quero isto nem aquilo e sabes a melhor?
Agora, cada vez que a flor-selvagem fala comigo, sinto um enfado terrível!
Garantindo a premissa de há uns tempos (que alguns pensavam ser uma defesa acentuada) de que nunca gostei dele como achava que gostava, toda a minha obsessão foi apenas com o sentimento, com o mistério, a periculosidade, comigo e com a forma como o mundo se desenrolava cada vez que me aleijava, escrevi tanto inspirada no que ele me fazia sentir, ou no que eu me fazia sentir, maravilhosa a forma como tudo funciona, maravilhosa.
Sou até capaz de te confessar que nem, ai como lhe chamei aqui... hmmm nada, pois.
Bem, mas nem esse meu amigo me apetece encontrar e dirias tu: «ora bolas falling quão apaixonada te encontras?» e te diria eu: «meu caro amigo, não sei se é do enamoramento mas sinto-me assim e nada posso fazer ou quero fazer.», alheada do passado e do futuro, assaz enlevada, como se me tivesse, também enamorado, pela rapariga que o Cavaleiro despertou, pela forma serena e desprendida com que me trajei para viver aqueles dias, sim eu sei que tenho de ir buscar o vestido e tu sabes o que arrasto quando digo isto.
E há música e a música constringe-me, como um espartilho e como gosto, ah como gosto.
Sinto-me ninada, protegida, escondida, alcançada e tudo e tudo eu me sinto neste lagar, sono de berço.
E, perdoa-me, mas terei de falar do Neige e dos seus Alcest, por mais estranho que te possa parecer, esta entidade, que inicialmente julguei ser o meu ponto mais distante, fez com que abrisse os olhos para a leveza, a serenidade, a fantasia de melancolia doce, o mar, os gestos lentos e educados que eu, uma presa de violências espontâneas que se fazia de adagas e pingentes de gelo, sempre desdenhei.
Essa rapariga de entraves que rejeitava tudo o que lhe parecesse mar calmo e poesia... ah, como essa rapariga abriu carreiros, como essa rapariga se fez fruta madura.
Está agora compreendido o anjo do lado de lá, o anjo cheio de acalmias, sem os movimentos bruscos e as insurreições e rebeldias que esta procurava nos que, apenas, lhe excitavam os sentidos.
Como esta entidade a fez parar e colher flores: rosas e violetas e lírios, até chegar às glicínias sem sequer lhes conhecer o nome.
Pode parecer jocosidade minha, não a encubro, mas há similitudes entre eles. Encetei por carreiro tal, graças a um amadurecimento e perda de peso que só calcar tal carreiro me poderia ter ensinado.
Como sou apaixonada por Alcest, foda-se é maravilhoso, tudo ali é maravilhoso, tenho de lhe agradecer a forma como me abriu os olhos, a acalmia que me proporcionou, o berço, o caminho certo para fora do labirinto...
Há muita beleza nas cidades por esse mundo fora, a arquitectura, as igrejas, as pontes, os jardins, há pessoas agradáveis, coisas bonitas mas nada me atinge como a música, por mais miserável que seja a situação ou por mais eufórico o ambiente, a música é dona de mim.
Não consigo sequer pôr por palavras o que sinto enquanto ouço é como explodir de amor, tenho vontade de anunciar ao mundo como se fosse o evangelho, partilhar a beleza indescritível, deixar que outros sejam abençoados também.
Não sei para onde vou mas sei de onde vim e onde quero estar e continuar.