“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

28
Out 13

 

As coisas que não conto a ninguém, as coisas que não conto a ninguém roem-me e liquefazem-me os ossos e, então, depois, fico esta coisa invertebrada e  fraca.

Sabes Supremo, hoje é um dia triste e hoje neste dia triste os olhos enchem-se e enchem-se e como imitam a chuva e como imitam a chuva tão bem.

Não aconteceu nada, estava a tentar ler e enquanto lia, não lia, tinha lágrimas e elas não me deixavam ler.

Asylum Party vai tocando, vai tocando e penso que não lhe posso contar que estou triste porque depois ele fica triste também e eu não quero que ele fique triste porque quando isso acontece, anoitece mais cedo e não posso sair daqui e não posso ver onde ponho os pés.

Amo-o sim, mas continuo a ser inútil e estragada e a querer ir embora.

publicado por Ligeia Noire às 12:54
música: "La Nuit" dos Asylum Party
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19
Out 13

 

Os meus amigos, as minhas amigas, pensei neles todos, não são muitos mas também não sei se são bons, talvez a rapariga-que-tem-nome tenha sido e ainda seja a que ainda gosto sem esforços, sei lá... às vezes aquela frase do Chino bate à porta I hate all of my friends. They all lack taste sometimes, acredita que isto tem lá dentro um mundo, acho que temos rios, riachos, oceanos e regatos a correrem desenfreados entre nós, eu e as pessoas, os amigos…

Sim, oiço o Hesitation Marks e, ao contrário dele, gosto e como lhe disse, se as discotecas passassem isto, sairia mais vezes, se bem que hoje em dia, nem mais nem menos.

Mostrou-se agradecido pela minha compaixão para com a sua vida embrulhada, atribulada, de merda vá. Ora, lembrei-me logo, que faz uns meses que rabisquei qualquer coisa sobre a compaixão que não é piedade mas troca de sapatos como na canção dos Depeche Mode.

Dir-lhe-ia que beber mais que dormir não é bom mas já visitei esse buraco e sei que o melhor é fechar bem a boca, porque este é um dos casos em que o ofício de corpo presente faz maravilhas.

Enquanto tudo isto se sucede lá pro meio das montanhas avermelhadas, o cavaleiro branco, arcano, intitula-me de capuchinho vermelho e não sabe de caminhos longos.

E foda-se não quero falar mais, quero dizer que gosto bastante do Hesitation Marks, é o sucedâneo mais que natural ao The Slip e o melhor que um Reznor casado e com dois filhos pode deixar resvalar sem vislumbrar o rato de bigodes encarquilhados que vive na cave.


What a pathetic string of words

Just leave them lying on the floor

The warning posted on the door

Not over here not anymore

There was a place that could have been

Step over all that used to be

Since you've invited yourself in

Some things I'd rather you not see

  

See I keep lying to myself

Don't know what else there is to do

If I could be somebody else

Well, I think I would for you

 

Didn't seem like something more?

So long I can't remember when

And this has happened all before

And this will happen all again

And I only have myself to blame

And I only have myself to blame

  

See I keep lying to myself

Don't know what else there is to do

If I could be somebody else

Well, I think I would for you

Since you have let yourself come in

 

Não sejas tolo gajo, deixa-te estar aí em cima porque, aqui em baixo, é só lodo, só lodo.

 

Wave goodbye
Wish me well
I've become
Something else
Something else, something else
It's just the world

 

All lyrics  or excerpts mentioned here are by Trent Reznor/Todas as letras ou excertos contidos nesta página são da autoria de Trent Reznor


publicado por Ligeia Noire às 10:43

13
Out 13


Quando me levantei, olhei para as rosas e pensei em pegar numa, mas deixei-as quietinhas. Não são as minhas rosas, não têm perfume e enfeitam a mesa de um casamento, a mesa de um casamento numa quinta no meio de árvores, rosas centradas numa toalha negra com debruados prateados, onde um castiçal de pé alto segura velas que se extinguiram quando a noite se fez.

Ao meu lado estava a rapariga de cintura fina que se vestiu no carro quando me veio buscar e, ao lado dela, o nosso militar preferido e depois eram pessoas estranhas.

Não sei bem como estava, sei que a conversa foi agradável e risonha, falámos desde os nossos dias no curso, dos jogos ocultos que encetávamos, da corrupção, da vida lá fora, do preço do arroz, da recruta, do Shining, filmes sem sangue e tripas mas com espíritos, até às fotos feias que nos tiraram e às fotos bonitas que tirámos com a rosa entre nós.

Dançámos os três mas dançámos mais as duas.

A certa altura, já no jardim sentada, coloquei o copo de champanhe na beira da janela e não me levantei para admirar os morteiros que iam iluminando o céu escuro da floresta que albergava tantos movimentos escritos e coordenados.

Puxei o fio da memória, uma memória recente, memória de horas anteriores:

«então, a próxima vez que nos encontrarmos vai ser no teu casamento...

-Eu não quero casar.

-Dizes isso porque não estas apaixonada.

-Estou apaixonada e continuo a não querer casar. Sabem, na verdade, não queria nem ter de viver com alguém…»

Quando era mais nova nunca me vi casada ou com filhos, sempre me imaginei a viver sozinha, o meu paraíso, os meus discos, os meus filmes, o meu canto.

«Ai não, não. Sentir-te-ias sozinha e quando quisesses conversar?»

Eu sempre me senti sozinha, sempre me senti por desabafar e, mesmo quando o fazia e quando tentava mais a sério, nunca me entendiam os amigos, foi sempre a escrever que atingi o propósito que é tido nisto do desabafar, no haver de um confidente, talvez não saiba falar em condições, talvez não saibam ouvir em condições.

Não, não quero casar porque não quero partilhar algo tão íntimo como o meu amor, os meus beijos, as minhas palavras açucaradas com pessoas de olhos e câmaras fotográficas esfomeadas, não quero passos e gestos encenados, já sei tudo isso de cor e enjoa-me, compreendo mas não assino por baixo.

O mesmo sinto quando me passam o caderno de honra... nunca sei o que escrever, sei sempre que vou mentir, escrevi três linhas neste e ela reclama:

«no meu só escreveste felicidades, sinceramente...»

Nem sei que lhe respondi, acho que encolhi os ombros mas se lhe dissesse que não queria mentir, não a ela, não iria entender de qualquer das formas porque ela agora é casada e tem um cão e uma casa.

Não houve igreja, houve largada de pombos e discursos à-estado-de-rede-social, houve mais daquela música que detesto, vestidos demasiado curtos, compridos, justos, ondulantes, coloridos... houve isto e aquilo e ele brincava:

«no teu, teria de haver uma banda gótica a fazer-te a entrada» ela brincava também:

«já há gente a casar de negro», pensava eu: nem tu imaginas quantas e acho tudo muito bonito e criativo, como quando me mostram o álbum de fotos da família mas onde está aí a diferença?

Continuam a ser protocolares, para os outros, encenados, só muda a cor e a música e talvez eu não me aborrecesse tanto nesses, já não tenho vinte anos e a diferença reside noutro lado.

Ele ligou-me, fui para o fundo do salão, era tarde lá e ele bebia vodca à minha saúde, a minha boca sabia a Baileys, o meu corpo sabia ao aperto do enlace do espartilho.

Olhava para o tecto de madeira, para o bolo, para os noivos bonitos e felizes, felizes talvez da felicidade deles, daquelas pessoas, pessoas que seriam provavelmente tios e tias e avós e pais e coisas que tais e sabia que eu não saberia passar por aquilo, não sou anfitriã, odeio ser o alvo de olhares e expor a minha intimidade e aquilo que sinto aos outros porque conquistar, seduzir, charme são brincadeiras de menina mas o amor e a paixão são tão íntimos como o sutiã que não trazia, como o cinto de ligas que nos enlaça a cintura mas que é magia nossa, não sei, não sei, é um admirável mundo novo, terreno minado.

«-Quando mo apresentas? E ele quer casar um dia?

-Nem casar ou ter filhos.»

Talvez nem dormir comigo todos os dias, gosto que ele goste de quartos separados, de cedência a vontades... apenas.

Quartos a funcionarem como frigoríficos, abrem-se quando temos fome ou sede.

Gosto das nossas determinantes diferenças, da minha natureza de gata arredia e do galope do seu cavalo medieval, gosto que isso se transfigure em ideias de esterilidade e antipatia para com o mundo que nos rodeia.

Prossigo com medo e sensação de ameaça mas um destes dias alguém mais velho revelou algo muito sábio que eu ainda precisava aprender: há sempre uma parte de nós que tem de se guardar, de adormecer, de ceder, de ser deixada para trás quando nos apaixonamos. Dizia ela que, o dia mais triste da sua vida foi o dia em que conheceu o marido porque sabia que não daria de outra forma, que com aquele era a sério, era amor e o amor e a individualidade não se coadunam nunca.

Ainda me custa saber a certeza disso mas há o equilíbrio, é esse o segredo de tudo, uma boa canção tem de saber ser equilibrada em todos os seus braços.

Viemos embora tarde, fui falando trivialidades até chegar a casa e poder fechar os olhos, foi bonito, foi aborrecido, gargalhadas e análises deliciosas de três amigos sentados num sofá de jardim acantonado num passadiço, enquanto eles casavam.

Em cima da mesa tenho o leque de madeira, com um padrão de tulipas de um rosa arroxeado que ela trouxe de Havana e me ofereceu.

Não, não era capaz.

publicado por Ligeia Noire às 11:50
música: "Deliverance" de Tarja Turunen

05
Out 13

 

Beware

 

[Intro]


(He came to me with money in his hand
He offered me, I didn't ask him
I wasn't knocking someone's door down
I was running from that
When I got out, I was in that
I was already through that
I had that, I had the studio
I went to the studio, I went to Fox studios!
I had it all, I looked at it and said:
«This is a bigger jail than I just got out of.»
I don't want to take my time going to work
I've got a motorcycle and a sleeping bag
And 10 or 15 girls. What the hell I want to go
Off and go into his - and go to work for?
Work for what, money? I got all the money in the world
I'm the king, man. I run the underworld guy
I decide who does what and where they do it at
What am I going to run around and act like I'm some
Teenybopper for someone else's money?
I make the money, man. I roll the nickels
The game is mine, I deal the cards)

 

I close my eyes and seize it
I clench my fists and beat it
I light my torch and burn it
I am the beast I worship...

 

And I know soon come my time
For in mine void a pale horse burns
But I fear not the time I'm taken
Past the point of no return
Wage war like no tomorrow
Because no hell, there won't be one
For all who deny the struggle
The triumphant overcome

 

Trips to where, few have been
Out of thin air, upon high winds
Rites begin when the sun descends
Have felt what few will ever know
Have seen the truth beneath the glow
Of the ebb and flow, where roots of all mysteries grow
I am below, so far below
The bottom line
Transmitting live, transmissions rise


From the depths out of controlled by
Suspended glance of an unblinking eyes
Imminent gaze cast 'pon the path that winds
'Pon the path I find, and claim as mine
To ride the waves, of unrest
Made to make me shine as a testament
To why the ways of the blind will never get
Shit but shanked by my disrespect
Dismiss this life, worship death
Cold blood night of serpent's breath
Exhaled like spells from the endlessness
In the bottomless wells of emptiness
Channelled to invoke what we represent

 

Secret order
Elitist horde of
Creeping fire
Seizing power
Riders of the lupus hour
Eye on palm
Time is gone
Moonlight drawn
Fly till dawn
Sacrifice to rise beyond
Deep inside the violent calm
Of the coming storm
In blood sworn
To glorify and for life adorn
With all that dies to become unborn

 

I close my eyes and seize it
I clench my fists and beat it
I light my torch and burn it
I am the beast I worship...
I am the beast I worship

 

In the time before time eyes 'bove which horns
Curve like psychotropic scythes
And smell of torn flesh bled dry
By hell swarms of pestis flies
Vomiting forth flames lit by
An older than ancient force
That slays this life with no remorse

 

The spiral storm
Of flames inside
The torch I raise
The force I ride

 

Feel my vessel go up in flames
Flesh torch lit by thee unnamed
Direct connection to the source
Vestment of unnatural force
Forever burning black torch
Wisdom of the old and true
Possessed by the chosen few
Shining to reveal the ways
Of a darkness that pervades
All that is and ever was
Inferno of witches blood

 

Worship is not on bended knee
Nature knows not of mercy
To pray is to accept defeat
Power pisses on the weak
Bow and beheaded by the beast
Beggar on a bitches leash
Scum is desperate for relief
Worship is the way I ride
Witching currents through the eye
Of storms that force the false to die
Worship the flames with which I rise
Into apocalyptic skies

 

Harsh winds flay mine flesh to bone
In splintered skeleton I roam
Wastelands with not to call my own
But the path I walk alone
The hunger burns, within my gut
As my bones turn into dust

 

And I know soon come my time
For in mine void a pale horse burns
But I fear not the time I'm taken
Past the point of no return
Wage war like no tomorrow, know well there won't be one
For all who deny the struggle
The triumphant overcome ...

 

I close my eyes and seize it
I clench my fists and beat it
I light my torch and burn it
I am the beast I worship...
I am the beast I worship

 

 

Letra de Death Grips/Lyrics by Death Grips

publicado por Ligeia Noire às 12:01
etiquetas: ,

02
Out 13


Como os antípodas se juntam… porque se encimar a cabeça no parapeito vejo tudo a perecer, a esperança, a estabilidade, os amigos, o dinheiro, o futuro e o caralho a quatro mas se me guardar e fechar a janela… hmm é delicioso, é bonito, é génesis de mim e do espaço que ocupo.

Grey view, o Herbst para além dos seus Lantlôs e Líam, tem ainda mais um lado, LowCityRain, post punk, cá para nós aquilo cheira a gótico certeiro, à semelhança dos UltraNoir mas confinemos essas observações a esta página, não vá arranjar chatices...

Bem, acontece que o projecto finalmente debutou na cena musical e com um homónimo do qual já se conhecia duas canções.

Enquanto se espera pelo sucessor do Agape, ouve-se e reouve-se esta novidade que quase parece anacrónica porque cheira a negro e fumo de cigarro e noite de nevoeiro lá das bafientas caves urbanas oitentistas.

Fico contente que ele tenha decidido tomar as rédeas dos vocais, tanto nos já mencionados LowCityRain, como nos Lantlôs porque é perfeitamente capaz de vocais agressivos, quanto barítonos melodiosos, tenho pena, apenas, que assim tenha perdido a única oportunidade de voltar a ouvir o Neige em registo mais agressivo, visto que o gajo se vai deixar disso no Shelter.

Nada que não se esperasse, o francês não é de medos ou de convocar esperanças infundadas.

Depois de toda esta ladainha, olho para cima e não restam dúvidas de que não mudei, queres saber a melhor?

Tenha um colega, amigo ao qual vou ao casamento daqui a uns dias, que cada vez que me via a usar uma espécie de ushanka preto e felpudo sem orelhas me chamava de Nevruska, e nem ele sabia bem porquê, o destino é rato.

Só falta lançar o cabelo da janela da torre e partir. 


publicado por Ligeia Noire às 12:42
música: "Grey View" de LowCityRain

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