Sentada na cama.
Perdi as horas lá fora e fixei-te com força, podia tentar.
Concebi que existias.
É só o que me apraz.
Amo-te.
Amo-te.
Amo-te.
E não percebo como estas palavras se sentaram na minha boca e fizeram um ninho espesso.
Estarei lívida?
Não existe ninguém.
Mas dói aqui dentro.
Dói muito.
Como se fosses feito de coisas vivas e me quisesses chamar sem barulho.
No entanto afiguro ouvir gritos e salmos desesperados e delapidados de graça.
E não posso fazer nada.
Não tenho os olhos que precisas para que te possa alcançar.
E preciso morrer, morrer, morrer.
Queres morrer comigo?
Dar-me a mão e partir comigo?
Talvez assim me saibas encontrar.
Eu permanecerei deitada, bem quietinha à tua espera.
Já nada me desarma aqui.
Respiro e imagino que existe o meu protector.
Porque hoje eu sou de vidro e todo o resto é neve.
Preciso que me adormeças, preciso que me feches as pálpebras e me apertes contra tudo o que fizer parte de ti.
Contigo posso ficar assim.
Contigo, que só existes na minha cabeça, posso imaginar que para lá deste chão não existe mais nada.
Sinto-me bêbada, sinto-me completamente anestesiada, assim como, se tivesse ópio até aos ossos.
Sinto isto a nadar cá dentro e só quero dizer que te amo.
Eu amo-te.
E no entanto não és.
Não existes.
Não te posso descrever porque às vezes és homem e outras vezes és mulher.
Às vezes tens bocadinhos de coisas que nem sequer sei.
Tinha-me esquecido disto.
Do sentir coisas desiguais.
É extremo porque não é por ti, por ele, por ela, por vivos ou mortos.
Não há altar para oferendas, se não houver a quem consagrar.
Se existisse, seria eu a oferecer-me às minhas mãos.
Não acordei assim.
Eu sei que não acordei assim.
Não sei o que se passa comigo, às vezes, sinto que expludo de nada.
Hoje, se explodisse, daria à luz um lírio branco.