És uma farsa.
Cobres-te de lâminas na esperança de que ninguém te toque.
Tens o coração desmaiado e a alma podre.
Tudo o que respiras é desperdiçado.
Cada vez que te levantas, partes-te mais um bocadinho.
Há dias em que acordas e, os olhos já abertos, fecham.
Tens alma de puta e corpo de virgem sacrificada.
Não sabes uivar, uma vez que os uivos devem ser poderosos e desprendidos de vida.
A tua língua de lamentos se esconjura e tudo o que fazias de ti é hoje cinza bolorenta que alimenta vermes.
Não adianta chorar.
Pois não chores porque chorar... de nada adianta.
Não chores é cansativo.
És a vida apartada.
A morte desperdiçada.
O limbo permanente.
Tens olhos enfermos.
Olhos derramados.
És bicho condensado em corpo desvalido.