“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

02
Fev 10


Prick your finger it is done

The moon has now eclipsed the sun

The angel has spread its wings

The time has come for bitter things

   

I

   

Sempre que há algo para ser decidido, podemos usar de desculpas para nos enovelarmos perante a conduta:

"Ainda falta isto e aquilo e aquele outro, depois penso, depois decido depois faz-se, depois aplico-me, depois vivo realmente."

Quando o nevoeiro se dissipa, aí ficamos desnudos… sem amarras perante o caminho que escolhemos e que se abre, imperialmente, à nossa mercê.

O que se pode fazer quando se está, supostamente, naquilo a que nos conduzimos?

Não.

Não foi Deus, não foi a Mãe-Terra, não foi ninguém, senão a nossa pessoa, a maior condicionante, a mais forte vela, a abrir-se ao vento em alto-mar.

Lugar correcto, lugar hierárquico, lugar de futuro, lugar do supostamente.

"Não há outra saída, não podes esconder-te num bugalho, ei! Abre-te!".

Aquilo que mais violentamente abjuro, é esta sensação que me empola a alma.

Esta coisa que rebenta em mim sempre que me estabeleço.

Se é o que não quero: martirizo-me.

Se é o que supostamente me satisfaria: os defeitos eclodem.

O medo toma a face, do que no primeiro caso seria desgosto e frustração, para o "continuar no sacrifício".

Esta constante perda, insatisfação.

Esta prolífica sensação de derrota, de desterro.

Como se tudo fosse sempre nada, não importando o quão muito me fosse disposto.

Essa constante irrealização é-me tão nata, tão intrinsecamente sulcada no sangue que, muitas vezes, o asco que sinto dela ultrapassa a minha capacidade de aversão e passa somente a violência. 


      

II

 

 

Às vezes, sento-me no musgo por trás de casa e a vontade do nada é tão absurdamente imensa, que fico tempo incontado a aquecer o sangue liso.

O corpo fica ali, à luz do sol invernal, qual lírio esfomeado, a manhã toda.

E, em vão, procuro pela vontade, pela ambição, pela criatividade… pelo querer.

Mas, em deliciosa e lenta desvontade, (como se na realidade da minha alma o meu corpo fosse outro ser, o qual se distancia milhas de mim, impedindo a aproximação pela mísera culpa) nada encontro.

Sim!

É apenas por responsabilidade e culpa que me movo em direcção a ela.

Não a posso deixar a cargo de mim!

Se a minha alma ficasse no comando… ah! Que esfarpada seria a escadaria…

Quantas farpas não me rasgariam as unhas...

Ó Senhor da Luz completa, não posso!

Não posso porque ela mataria a minha temperança, extinguiria todo o meu esforço vidral.

Esforço esse, que aglomerei todo este tempo na crença de que -eu e eu- ainda possamos ser nós!

Corpo junto. Alma ligada.

...porque no lamaçal que me cobre, eu sei o quão egoísta, narcísica e egocêntrica sou.. ao ponto de nada me interessar, ao ponto de que tudo o que me interessa ter de a mim estar ligado pelo inquebrável.

Todo o resto não me alcança. Todo o resto que se atravessa no meu caminho lentamente se esvai de aborrecimento e leve candura.

Ou então em luxúria de fantasia a prazo.

No fundo…

Eu

Tu

Ele

Ela

Nós

Vós

E eles sabemos o quão inútil é viver.

Tudo o que criamos, descobrimos, prezamos, abrasamos, matamos é reduzido a reminiscências que se esfarpam até os vermes devorarem e regurgitarem o que resta no cenáculo.

Toda a intelectualidade dos cinco mundos não sacia a existência.

Eras de individualismo exacerbado.

O tão diferente que se tornou tão repugnantemente igual.

Ah, a repugnância!

A única coisa que vale por tudo, é uma lareira magistral sob um luar de Inverno.

 

publicado por Ligeia Noire às 11:50

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