Às vezes, pensamos que se mantivermos a porta fechada o vento manter-se-á do outro lado, sem sequer o conhecermos.
Acontece que, as rajadas têm sido fortes e, hoje, a porta abriu-se mesmo.
O futuro deveria ser embrumado mas, às vezes, o passado parece-me mais obtuso do que o porvir.
Desde o meu despertar, que a música tem sido a minha corrente de suspensão.
Começa mesmo a ser um mundo à parte.
Como se estivesse enrolada no colo de Deus e tivesse um lírio vestido.
Meto-me dentro dela e o mundo desaparece ou pelo menos esbate-se.
E consigo vomitar o excesso de asco, a dor incrustada, a raiva violácea, o cansaço comatoso.
Para, enfim, poder chorar o meu corpo inteiro e deixar a alma em ferida.
Há dias em que lá fora, nada interessa.
Tenho a cabeça alagada de coisas mas ainda não estou preparada para as transformar em palavras.
Hoje voltei a sentir aquela tristeza descontrolada e espontânea.
Tão silvestre que o movimento da urbe me fazia chorar por dentro.
Já não posso dizer que estou cansada disto porque o adjectivo se desvalorizou.
Talvez esvaziada sirva melhor.