Não tenho nada a que aspirar.
O peito transborda do que jamais encontrará receptáculo.
Só preciso de ficar sozinha e imaginar que adormeço sem precedentes.
A minha vida…
O que foi a minha vida?
Qual foi o propósito pelo qual me puseste cá?
Desiludi-te?
Queimei o caminho?
Não tenho ambição.
Não quero ser.
Nunca me falaste da morte em vida.
Nunca me disseste de onde veio toda esta tristeza.
Nunca me mostraste a cara.
Tu que estás, tu que és.
Tu que te desfazes em todos nós, não me deixas ir embora.
Colocas a navalha nas costas para que não possa deitar-me.
Dás-me dores que não consigo carregar.
Mas eu lembro-me bem de ter sonhado contigo.
Não sei se eras como nós, mas sei que tinhas mão e colo… e lembro-me do altar frio onde se achava a minha cabeça na qual a tua mão se depositou.
Não me lembro, ou talvez não me deixes lembrar, se falavas as minhas palavras mas sei que te entendi.
Sei que nesse sonho consegui ir-me.
E, uma vez ida, a tristeza cresceu e cresceu como se eu fosse feita de partidas.
Não me lembro de ter sentido leveza, ou liberdade.
Lembro-me de teres vindo da tua casa, que não é igual às casas, e me teres dito coisas sem palavras mas que o meu íntimo percebeu.
Lembro de me teres concedido o retorno.
Por que fizeste isso?
Esperavas que eu soubesse ser-me?
As palavras são rudimentares, parcas... e eu não me sei dizer o que tu me disseste.
Sei de ter acordado completamente avassalada com a tua presença.
É estranho ter o Supremo tão perto.
Podias ter deixado que eu me enrolasse no teu colo, só um bocadinho, somente um instante para saber o que é ser una.