Ontem, as minhas costelas separaram-se um bocadinho e pude respirar.
Cinco horas da manhã, abriram-se-me os olhos como duas gárgulas inverosímeis.
Lá fora estava tudo morto, pelo menos assim imaginava.
Tive dificuldade em estar deitada porque gotejava na garganta.
Já me havia esquecido destas coisas.
Sentei-me no chão e encostei a cabeça à espera que parasse, tudo o que estava morto rodopiava e eu?
Eu estava atada de tão altas mãos.
Era tão vermelho…
Olhava o espelho dos outros e via a cor deixar-me as faces, estava na minha boca e eu estava impregnada no meu gosto.
Voltei a depositar-me, à espera que se acalmasse.
Desfalecer ali não seria uma boa ideia, o chão era duro, o meu crânio é de algodão.
Não gosto de mortes involuntárias.
Voltei para o quarto e adormeci de medo.
Medo de me sufocar de escarlate quente.
Sinto que existe um mundo dentro de mim cheio de coisas e caminhos entrecruzados.
Qualquer dia abro-lhe uma brecha e entro para ver.