(...) E entrou e nem por isso a vida ganhou sentido. Tantas mesas com pessoas, tantos olhos. Tantas dores feitas de medo. Tantos dias passaram. Dias em que ela queria ir. E não, não vale de nada traçar os passos, as cores, as histórias.
Falar das pessoas e das coisas porque nada fora dela lhe interessava. Tudo o que lhe fazia abrir os olhos era sangue. O dela e o dos que o partilhavam com ela. Nada correu bem, nada correu mal. Dependendo da janela a vista nunca se repete.
Há sempre coisas que não estavam lá. Há sempre olhos diferentes dos nossos e se nós pudéssemos usar um par diferente a cada dia nascido, talvez nem precisássemos de falar, talvez tudo fizesse sentido, tudo fosse bom ou tudo fosse simplesmente tudo.
Às vezes ela pensava que tinha força e que aquele era o caminho certo, outras vezes as células eram todas fracas e ela sentia que o caminho não era certo ou errado mas sim, o possível. E, sendo o possível, tudo estava na mesma, nada tinha mudado.
Sempre o possível, sempre a insuficiência de vida ou então a insuficiência de força para a viver. Um ano passou. Um ano, uma cama de manta dourada, uma musica tingida de negritude, uma (...)