Durante as férias li dois livros.
Nada de especial, não fosse o facto, de os andar a tentar ler, há décadas!
No final da leitura fico sempre com a sensação de que o nada é o que importa, de que já tudo foi dito, feito, sentido, perguntado, procurado, cantado, escrito mas não respondido.
Talvez, talvez quando tudo estiver claro perceba o sentido da existência humana.
Sei o que me é caro e o que me prende, de resto tudo se resume a um imenso vazio de coisas que baloiçam.
Daqui.
Dali.
De lá.
Para cá.
Vai.
Vem.
O próximo livro que vou intentar deixou-me imersa, umas boas horas da madrugada, a pensar nas drogas. E atrás delas veio tudo o que cabe nesse saco, o sexo, o amor, a amizade, a arte. Enfim, tudo o que nos suporta a alma. Tudo o que nos aproxima do divino. Todas essas substâncias que nos revelam o perigo, o mundo, a travessia da fronteira.
Tudo o que nos dá prazer é escapismo.
A beleza é a mais casta das suas formas, a mais ambivalente e fértil.
Adornar o corpo, transformá-lo, controlá-lo, oferecê-lo, destruí-lo… As formas primitivas e intuitivas de prazer que derramam essa beleza multiforme nos olhos do espírito.
Quem se quer ver ao espelho?
Quem estará do outro lado?
A tenra sedução da liberdade, do esquecimento, da elevação.
O mundo prossegue mantendo o jardim do Éden, aliás, todo ele é o jardim do Éden.
Uma balança inimitável que alberga o bem e o mal em cada um dos seus pratos, um cabaz encoberto, uma lista de compras.
E o ser humano, na sua multiplicidade de olhos, escolhe o ângulo por onde verá, um só prato.
O Supremo não é múltiplo, é uno e pela sua unidade, não há divisões, tudo é um todo, tudo é pertença a si.
Libera me, Domine, de morte aeterna
porque tudo o que procuro nesta constante queda é a finitude.