I
Têm sido tempos difíceis e a forma como lido com a realidade não mudou.
A realidade não mudou e os tempos sempre foram difíceis.
Ando em círculos até aprender a sair.
Não há paciência para ninguém.
Todos me parecem fora do contexto e tenho usado demasiado a domino para não os ofender. Os que seguravam a corda deixaram-na demasiado tensa, por demasiados anos...
A corda sempre me salvou mas eu nunca quis ser salva.
Eu sempre soube que tudo iria tornar-se demasiado penoso.
Eu.
Sou ainda mais insurrecta e obtusa mais apática e desmemoriada.
Perdi o sentido. Na minha cabeça nada faz sentido.
II
Um dia destes, quando estava nas escadas à espera, vi uma pessoa dispersa.
Cabelos e barba ruiva, cheio de chuva.
Foi a primeira vez que vi um olhar assim.
Ele olhava em frente para algo que não existia, ele fumava o cigarro lentamente.
Ele sentou-se e encostou a cabeça ao vidro.
A desvontade das suas mãos,
Os olhos dele estavam tão longe e tão irreparáveis que cheguei a casa e os meus agitaram-se.
III
Não estou receosa pelas brechas que encontrei na corda, talvez o caminho se esteja a desanuviar. Talvez já falte pouco. De facto, apenas espio por brechas mais fundas e esclarecedoras. O meu cansaço, não é, senão, irreparável.
IV
Toda esta semana foi demasiado violácea para que eu conseguisse sair de dentro.
Tudo o que venho a sentir adensou-se e multiplicou-se por mil. O que faz sentido é tão frágil e está tão poucas vezes comigo que talvez seja pouco provável o regresso.
Hoje não sinto medo ou peso.
Está perto.
Tenho alguma pena e muita tristeza