“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

17
Nov 10


Em verdade, em verdade, vos digo:

se não comerdes a Carne do Filho do Homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós.

Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia.

Pois, a Minha Carne é verdadeira comida e o Meu Sangue, verdadeira bebida.

Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue permanece em Mim e Eu nele.  (Jo 6,53-56)

 

Viste-me a laçar os braços e a balançar o cabelo?

Viste-me a comer o pó e a molhar as mãos todos os dias?

Viste-me a mergulhar nos pesadelos e a gritar de garganta rasgada?

Deste-te conta de que as minhas mãos estão partidas e os meus olhos não são, senão, ribeiras que correm?

Tens sentido o tremor e a fadiga que exalo?

Não te cansas, também, das vozes incansáveis?

Ficas quieto quando me ouves estrebuchar em golfadas sôfregas de continuidade?

A violência desenhada nos teus dedos, a espera pelo receptáculo que te contenha.

A desvontade da vã procura.

A desflora, a cerimónia da completude.

Continuo à espera que desças, continuo à espera de morrer pela espada.

O ódio e a rejeição são tamanhos que temo já nem sequer conhecer-me.

Regaço vazio e dormente das horas que se acumulam, das pedras que carrego às costas, das veias que se acobrearam, de tudo o que fica lacrado e não corre, de tudo o que, morto, não apodrece.

De todo o cansaço e desapontamento que já não levanto do chão.

De todas as casas escuras onde procurei abrigo.

Será assim o final?

Ou terá ele mais espinhos e abrolhos e far-me-á o crânio ficar, ainda, mais apertado?

Onde está o teu filho, Supremo?

Onde está o teu filho para entrar no labirinto e desbastar as coisas todas?

Quero aquietar o coração, quero aplacar a alma, quero juntar as mãos e prender a vontade.

Fala-me de respostas e beija-me a fronte.

Preciso enrolar-me no teu colo para chorar o mundo e adormecer os olhos.

Espera por mim.

 

publicado por Ligeia Noire às 18:50
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