Em verdade, em verdade, vos digo:
se não comerdes a Carne do Filho do Homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós.
Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia.
Pois, a Minha Carne é verdadeira comida e o Meu Sangue, verdadeira bebida.
Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue permanece em Mim e Eu nele. (Jo 6,53-56)
Viste-me a laçar os braços e a balançar o cabelo?
Viste-me a comer o pó e a molhar as mãos todos os dias?
Viste-me a mergulhar nos pesadelos e a gritar de garganta rasgada?
Deste-te conta de que as minhas mãos estão partidas e os meus olhos não são, senão, ribeiras que correm?
Tens sentido o tremor e a fadiga que exalo?
Não te cansas, também, das vozes incansáveis?
Ficas quieto quando me ouves estrebuchar em golfadas sôfregas de continuidade?
A violência desenhada nos teus dedos, a espera pelo receptáculo que te contenha.
A desvontade da vã procura.
A desflora, a cerimónia da completude.
Continuo à espera que desças, continuo à espera de morrer pela espada.
O ódio e a rejeição são tamanhos que temo já nem sequer conhecer-me.
Regaço vazio e dormente das horas que se acumulam, das pedras que carrego às costas, das veias que se acobrearam, de tudo o que fica lacrado e não corre, de tudo o que, morto, não apodrece.
De todo o cansaço e desapontamento que já não levanto do chão.
De todas as casas escuras onde procurei abrigo.
Será assim o final?
Ou terá ele mais espinhos e abrolhos e far-me-á o crânio ficar, ainda, mais apertado?
Onde está o teu filho, Supremo?
Onde está o teu filho para entrar no labirinto e desbastar as coisas todas?
Quero aquietar o coração, quero aplacar a alma, quero juntar as mãos e prender a vontade.
Fala-me de respostas e beija-me a fronte.
Preciso enrolar-me no teu colo para chorar o mundo e adormecer os olhos.
Espera por mim.