“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

24
Nov 10


Na podridão, que doa, que enoje, que deixe marcas de suor e unhas partidas.

Que aleije e perdure.

Que deixe o corpo amontoado, despido de pele.

Ou então deixa-me estar.

Que faça fechar os olhos e se funda comigo.

Que a luz expluda em lírios brancos e a pele seja toda ópio, absinto, heroína e rebuçados sem o dia de amanhã.

Corpo de linho, mãos de tecedeira afã.

Tão forte que o meu rosto se transforme no espelho de todos os dias.

Ou então eu jamais consentirei.

Ou então deixa-me estar.

 

II

 

 

E continuaremos a perder-nos, neste rio de tristeza e desilusão, até não sentirmos dor.

De pés ensanguentados, de mãos espinhosas e cobertas de abrolhos do vale do desterro.

Há golpes que demoram a ser desferidos.

Cresci a saber que todos somos desenhados para devorar o nosso próximo na fome.

 

 

III  


Sinto-me nua no meio do mato e do silvado.

O desejo de retornar, abre-me crateras no peito.

Tudo parece rodopiar e a minha cabeça não se segura.

Se pudesse gritar…

Se pudesse gritar tudo…

Gritar muito…

Gritar

Gritar

Gritar

Vociferar

Berrar

Bradar em silvos delapidados de graça.

Se pudesse gritar até rasgar a garganta e esfacelar o coração...

Partir o peito e calcá-lo como Cristo calcou a serpente no monte das oliveiras.

Se eu pudesse gritar esta indizível tristeza.

Este mundo de desespero.

Este caudal farto e infecto de dor que corre em círculos sistémicos e resulta em espasmos.

Desfazê-lo em sangue líquido e ir embora.

 

publicado por Ligeia Noire às 12:11
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