Vá, deixem-me prosseguir cá dentro.
Agora que passou o prazo de temer que regressasses a qualquer instante.
Já me nasceu a certeza de que te enovelaram outra vez.
E enquanto te arrumo na caixa, para que quando voltares eu seja lago finlandês às tuas palavras consumidoras, encontro mais um fragmento para a construção do meu Frankenstein.
A beleza que existe e que aparece nas esquinas do tempo.
É tão desoladoramente belo e eu sou tão infantilmente fantasiosa.
Já o cativei para dentro de uma caixa de música feita de cedro e agora canta só para mim.
É o cabelo, eu sei que é o cabelo, é sempre.
É tão solarengo aquele cabelo, tão de veludo e tão dele e o rosto que emoldura, é dual em toda a sua plenitude, esconde-se e tem olhos de cetim.
Corpo de cavaleiro, porte de cavaleiro, voz de poema nocturno.
Ah senhor... que subversão!
Provo-te em doses demasiado elevadas e reparo que não quero saber quem és, não quero que adulteres a construção.
Quero apenas a paixão perfeita que te devoto.
Quero apenas continuar a beber-te, encher-me de ti o suficiente para me embriagar em noites de quebranto.
E quando sonho que existes, olho para dentro dos teus olhos e eles brilham muito.
A beleza tem de ser comungada em silêncio.