“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

03
Mai 11


Quero escapar-me.

Se me perguntassem qual é o meu desporto favorito, eu diria escapismo.

Pratico-o sempre que posso mas de preferência quando estou à luz do sol e à luz dos outros.

Acho que posso considerar-me uma profissional, tendo em conta os meus longos anos de experiência.

Às vezes, adiciono-lhe violência porque, como não gosto do perigo desequilibrado, me desato pela certeza do castigo em ambiente controlado e higienizado.

E isto é por mim e em mim, uma vez que não gosto de correntes e autoridades alheias, mecanizadas e planeadas.

As flores da Páscoa, que estavam sobre uma toalha de linho na mesa da sala, estão agora e ainda no meu quarto.

São rosas que picam a cada milímetro do seu caule e, não sei como dizer a cor, porque o vermelho, o cor-de-rosa e o roxo podem misturar-se.

Ainda não estão secas mas já não estão vivas.


Breathe the air through the water


Neste fim-de-semana descobri que:

- O meu sangue não é açucarado;

- A minha mãe pensa que tudo o que tem sucedido em catadupa já saiu do domínio das leis da Física.

 Tenho voltado aos pesadelos de coisas que me varrem a cabeça de um lado ao outro e, sinto-me um cão ou neste caso, uma cadela, vadia e inquinada com raiva.

Um bicho desregrado e desconsolado que se atira contra as grades do seu ambiente controlado deixando-as cobertas da saliva seivada que lhe escorre do focinho, até às garras embrutecidas.

E tudo isso é provado pelos factos pequeninos, como o de pegar naquele instrumento prateado e querer cortar todo este cabelo.

Este espécimen que aqui presenciam, sabe-se alterado quando viola aquilo que lhe é sacro.

Não me vai fazer sentir melhor mas a que tenho dentro de mim, quer me fazer ver que sim, para depois vir de dentro, sentar-se na minha garganta e rir-se da minha vontade utópica de perfeição na devastação.

O poeta é um fingidor mas eu sou uma pessoa.

Ainda faltam tantos dias para saber…

E como se me quisesses afagar a fronte fizeste acordar aquilo que melhor me adormece, a flor-selvagem.

Tenho que agradecer-te.

Como me sabes tão bem…

Ele é o escapismo em correnteza de rio precioso.

Pensei que… não, não pensei.

E que palavras ele me trouxe e de que palavras me encheu.

Sei que a estória das gavetas ainda é cal fresca mas não estou zangada.

Ele é teu filho, não o admite, não te conhece conscientemente mas é tão teu filho, por isso, nunca espero que fique e nunca guardo amarguras, porque sei que ele e eu somos de sempre e isso é melhor que ser de agora.

Foi tudo isto e é tudo isto que me escorre dos dedos enquanto tento escapar-me ao saco negro e industrial que se aproxima a passos largos.

publicado por Ligeia Noire às 01:08

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