Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce.
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas.
Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?
Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte.
Vestido de armadura reluzente,
Cavalga a fera estranha sem temor.
E o corcel negro diz: "Eu sou a morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"
Antero de Quental, in Sonetos
Post Scriptum: Hoje declamaram-me o poema acima. Uma voz que veio das terras brancas. A noite fazia-se de veludo e estava meigamente escura. Tenho medo porque, mais uma vez, não me parece que tenha chegado a casa. E, também, porque nunca havia sido alvo de tal feito, nunca me havia sido declamado nada, minto já me leram Kafka mas bem, não era i um poema.
Tenho medo porque o risco deve ser praticado longe do conhecimento e em local ambíguo.
De onde veio ele e porque me encontrou, se eu não sou a casa pela qual ele anseia?