Quero ir para casa, quero mesmo muito ir para casa.
O bem que me faz estar, simplesmente, sentada à lareira com a gata ao colo e os gatos a subirem pelas pernas da mesa.
Não ter espaço para me chorar, para poder agasalhar-me, é, simplesmente, desumano.
Já não me reconheço, começo a achar que comporto toda a gente porque na realidade não gosto de ninguém.
Quero abrir os ouriços verdes com os meus sapatos velhos e guardar as castanhas nos bolsos da minha mãe.
Quero estar nas caleiras, a aquecer o sangue ao sol da manhã e ver surgir o corpo velho do meu cão preto.
Quero ir para casa pai, quero ir para a minha casa velha de pedra, comer santieiros.
Hoje não há pele, carne, ou costelas que me protejam o coração.
Abro a camisa branca ao espelho e coloco-o na pedra de mármore, na pedra gelada.
Pobre coisa mirrada… anda vê-lo Supremo, desce e chora-o comigo.
Não tenho nada que seja teu comigo, sabes que gostaria de ter aquele rosário de prata fechado na mão para poder voltar a sonhar contigo.
Sinto que já não estás aqui, que foste embora e tenho medo, tenho saudades de subir para o teu colo branco.
À noite, quando chove e o vento sibila, é como se o rosário se materializasse e eu te sentisse à janela, pedindo permissão como os vampiros antigos.
Ser esta versão de mim arruína-me
Quando é que me levas contigo?