I
E a culpa, e a culpa mas a culpa fica melhor em português.
Ora vamos lá ao ponto de situação, parte primeira.
Se me perguntam e perguntam muitas vezes, pelo motivo:
Respondo sempre que é nada e coisa alguma mas se procurar bem lá no fundo, por entre o mofo, encontro uma palavrita espirituosa, ora cá vamos nós ao escapismo, à fuga.
Fugi para a minha corrente situação porque pensei que ainda ia a tempo, que me podia consertar, que podia remendar-me.
Simples e certo, foi exactamente por isso.
E o resultado é negro, é bastante negro diria eu, continuo igual, continuo partida, danificada e em queda.
Ou melhor, o saldo de culpa é positivo, bastante positivo, aumentou consideravelmente.
Se calhar, sou mais corrompida do que aquilo que imagino, se calhar, a minha tentativa de conserto era auto-destruição vestida de cogumelo vermelho.
Desesperança e desespero que me levam a usar da noite fictícia para adormecer os olhos em dias de sol cheio.
Eu disse-me muitas coisas mas não as posso encimar aqui.
II
...Anda cá rapariguinha, deixa-me fazer-te tranças.
-Faz-me tranças lenhador, faz-me tranças bem bonitas.
-Deixa que t’as ate com este cordel vermelho, criança pequenina.
-Pois ata lenhador invernoso, ata-as bem.
-De quais caminhos te extraviaste, para aqui desertares, criança estremunhada?
-Pois de nenhuns lenhador, de nenhuns. Se extraviada me achas, então extraviados sempre foram os caminhos que me descobriram.
-Chega-te aqui, à beira da margem, olha que bonita ficaste, vê como refulgem ao sol, como ele as namora com todos os seus braços doirados.
-Desfá-las lenhador, desfá-las e começa tudo outra vez para que possa pousar a cabeça no teu casaco de serapilheira.
-Não tens medo que escureça rapariguinha?
-Pois não tenho lenhador e até sou capaz de apostar que, à luz da lua, esse teu cordel parecerá de cetim fidalgo.