“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

24
Jan 12

 

I  

 

E a culpa, e a culpa mas a culpa fica melhor em português.

Ora vamos lá ao ponto de situação, parte primeira.

Se me perguntam e perguntam muitas vezes, pelo motivo:

Respondo sempre que é nada e coisa alguma mas se procurar bem lá no fundo, por entre o mofo, encontro uma palavrita espirituosa, ora cá vamos nós ao escapismo, à fuga.

Fugi para a minha corrente situação porque pensei que ainda ia a tempo, que me podia consertar, que podia remendar-me.

Simples e certo, foi exactamente por isso.

E o resultado é negro, é bastante negro diria eu, continuo igual, continuo partida, danificada e em queda.

Ou melhor, o saldo de culpa é positivo, bastante positivo, aumentou consideravelmente.

Se calhar, sou mais corrompida do que aquilo que imagino, se calhar, a minha tentativa de conserto era auto-destruição vestida de cogumelo vermelho.

Desesperança e desespero que me levam a usar da noite fictícia para adormecer os olhos em dias de sol cheio. 

Eu disse-me muitas coisas mas não as posso encimar aqui.

   

II

   

...Anda cá rapariguinha, deixa-me fazer-te tranças.

-Faz-me tranças lenhador, faz-me tranças bem bonitas.

-Deixa que t’as ate com este cordel vermelho, criança pequenina.

-Pois ata lenhador invernoso, ata-as bem.

-De quais caminhos te extraviaste, para aqui desertares, criança estremunhada?

-Pois de nenhuns lenhador, de nenhuns. Se extraviada me achas, então extraviados sempre foram os caminhos que me descobriram.

-Chega-te aqui, à beira da margem, olha que bonita ficaste, vê como refulgem ao sol, como ele as namora com todos os seus braços doirados.

-Desfá-las lenhador, desfá-las e começa tudo outra vez para que possa pousar a cabeça no teu casaco de serapilheira.

-Não tens medo que escureça rapariguinha?

-Pois não tenho lenhador e até sou capaz de apostar que, à luz da lua, esse teu cordel parecerá de cetim fidalgo.


publicado por Ligeia Noire às 17:46
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