Já alguma vez sentiste que tudo o que estavas a experienciar era tão avassalador que as palavras não te chegavam?
Pois, é isso que eu sinto.
Para além de me esquecer de como escrever.
Hoje foi mais um daqueles dias em que me sentia demasiado violácea para sair à rua.
Aquela vontade de chorar tresloucadamente sempre presente.
Hoje dormi razoavelmente mas acordei como se nem tivesse descansado uma mísera hora!
Desde que entrei naquela sala que tenho vontade de desistir... e como é preciso coragem... mas ao invés de o fazer (assim como em tudo na minha vida) vou me deixando levar.
Se é correcto?
Não, mas não há outro caminho... eu sei que tu sabes de outro caminho, eu sei que tu sabes o quão forte tem sido o fogo que me consome... mas tu nunca chegas.
Por mais que cerre os olhos até doer, tu nunca estás lá e eu tenho de continuar.
Quem era eu há um ano?
Quem sou eu hoje?
Queres mesmo saber Supremo?
Nos dias de carvão negro sinto que já deveria ter prescrito da tua receita.
A vergonha e a pena são tão pesadas nesses dias que sinto a caixa torácica a apertar-se, literalmente.
Até chorar me assusta, da última vez, parecia que ia desmaiando, não achas que eu tenho direito a fazê-lo?
Às vezes saio de mim e olho-me devagar, e sinto tanto desgosto...
Com os olhos sempre vazados, sempre à espera do que não pode ser esperado.
Cravas-me a espada nas costas e abres-me brasas nos pés e mesmo assim dizes, com as tuas palavras, que eu tenho a liberdade de escolher?
Das pessoas já eu me retirei há muito tempo.
Sim, tenho de lhes falar às vezes mas eu sou mais que uma... do amor?
O amor é coisa que desconheço.
Tu sabes do que falo, falo da fome que tenho de mim, da desilusão que foi este caminho.
Como se nunca o tivesse calcado.
Não, não sei que direcção seguir mas agora não faz qualquer diferença.
Como se tivesse passado fome por tanto tempo que nenhuma comida do Mundo me satisfaria.
Lembro-me de ter sete anos e estar encostada ao pátio da escola e lembro-me.
Lembro-me de ter sete anos e ser noite, o quarto do hospital era demasiado branco e anti-séptico.
A minha mãe teve de deixar-me e eu lembro-me de sentir pela primeira vez solidão.
Ou talvez não, talvez a tivesse sentido antes... não me lembro.
Só me lembro de sentir contentamento em casa, assim como da primeira vez que chorei de olhar vago e prostrado na janela.
Lembro-me da tristeza, do céu estrelado de cetim e do cheiro a álcool etílico do quarto.
Engraçado, acho que nunca tinha colocado letras nestas sensações.
E, hoje, olho para trás e vejo-me da mesma forma: pequena e incompleta.
O quarto continua a ser branco.
A solidão ficou.
Continua a busca pela chave, pela resposta.
Quando me encontrar contigo espero que seja a primeira coisa a ver nos teus olhos.
Tens olhos?