“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

01
Nov 14

 

Ligeia sou eu e ela.

 

Edgar Allan Poe, não é novidade alguma que é um dos meus escritores preferidos, logo, qualquer filme inspirado nalgum dos seus escritos me passa pelas vistas. Então quando me veio parar às mãos o The Tomb a.k.a. Edgar Allan Poe’s Ligeia salivei só de pensar na noite que se avizinhava, isto em 2009, Ligeia é a minha estória preferida de Poe e de todos. O filme não é grande coisa, cheio de lugares comuns, interpretações desinspiradas e um argumento cheio de frases feitas e que se perde pelo caminho mas mas mas e mas porque há sempre um mas, obcequei-me pelo filme… sabes quando há algo no qual vês potencial e então devotas-lhe condescendência e ficas ali a ver tudo o que poderia ter sido?

Claro que o filme é apenas levemente inspirado no conto, assim como já o do Roger Corman em 1964 o tinha sido mas a premissa era boa, os protagonistas eram carismáticos mas faltava um argumento de jeito, conhecimento de causa e calo. Existiam cenários brilhantes, uma bailarina russa que em tudo encarnava a nossa bela sirena, testa alta, esbelta, a leveza e o andamento sorrateiro de um gato que o ballet lhe forneceu ao corpo, cabelos longos e fartos, não negros, não de azeviche mas belos.

Cheguei ao contacto com a actriz por estar muito indignada com o facto de terem referido no filme que Ligeia era um nome de origem russa, quando é grega a sua proveniência e ela respondeu. Respondeu dizendo que sabia mas que não podia fazer nada.

A estória revolve em torno de um professor universitário que nas suas várias palestras sobre o ocultismo repara numa mulher que está sempre presente. Essa mulher é uma estudante de nome Ligeia que viu a sua mãe morrer há muitos anos e no seu leito de morte, esta passou-lhe o desejo de descobrir a cura para a morte através do aprisionamento de almas humanas.

Ligeia estuda religião e misticismo e procura incessantemente por resolver o que falha quando tenta sugar as almas do último suspiro das suas presas. A história não tem nada que ver com a do Poe mas nem tem de ter, apenas lamento ter caído no bacoco triângulo amoroso, na femme fatale e num final previsível e enfadonho. Com um protagonista aborrecido e com olhar sedado durante todo o filme e um argumento que se perde a si mesmo, não há muito o que fazer. Talvez apenas o momento em que ele visita Ligeia e bebem absinto juntos… talvez aí se tenham salvado uns dois cêntimos do tesouro.

Ouvi dizer que o filme era do mesmo realizador do do corvo mas não tem de perto nem de longe o mesmo misticismo e olha que o corvo tinha um argumento e premissas bem simplistas mas lá deu frutos.

 

Julho, 2014

 

 

Da Finlândia ao Mundo

 

A primeira vez que venho aqui escrever depois de tanto tempo, não me apeteceu dizer nada porque nada havia para ser dito.

No entanto, andava por aqui um certo incómodo, uma necessidade de beijar e modelar palavras. O que me fez pensar no quanto da minha escrita é necessidade…

Mas para lá com as indagações, dói-me a cabeça e, apesar de ter andado a ouvir coisas tão díspares por estes dias e semanas, o que toca agora e desde ontem é o Colours in the dark da Tarja.

Não me sai da cabeça aquela imagem aquando da 500 letters, precisamente na parte em que ela canta: “Why do you want to hurt me?”. Quando bate com o salto umas três vezes no chão.

A Finlândia faz parte dos meus amores de sempre e para sempre.

Não sei bem se começou com os H.I.M., talvez tivesse começado antes mas sei que, ao contrário da Rússia, foi a música que a trouxe até mim e não havia nada para não gostar.

Desde os abetos, das bétulas, do sol-da-meia-noite, da neve ao épico Calévala, a toda a correnteza de música divina que lá nasce, que lhes corre nas veias.

Não há apreciador de metal que não respeite e namore o mistério da terra dos mil lagos.

Tentei aprender Suómi, língua de casos, e como tanta coisa, ficou por aí num caderno vermelho à espera que volte a nascer em mim a paciência, a disciplina e o tempo.

Acima de tudo, há um fascínio assombroso pelo longínquo, pelo frio, pela neve, pelo raro e pelo misterioso.

É romantismo sim, o mesmo fascínio que os povos sul-americanos, africanos, os chineses ofereciam aos olhos dos românticos do século dezoito, o exótico.

Não é que seja pelos músicos mas porque eles são, para além de música, formas de compreender o país e de saber mais sobre ele.

Mas depois percebo o apelo da decadência francesa e das suas catedrais góticas, da misantropia norueguesa, do cinema sueco, da batcave inglesa, dos celtas e do folclore escocês, da rebeldia irlandesa, ai e o cinema, o cinema sim. A Irlanda talvez se tivesse despertado em mim depois de todo o aborrecimento nas aulas de literatura, mais tarde fui procurar tudo o que faltava, porque o que sabia eu na realidade?

O IRA, o Oscar Wilde, o Stoker?

Depois, veio o teatro, as batatas, a fome, a metáfora do mar, os rituais e a música e que música…

Curiosamente, depois de começar a namorar com o Cavaleiro-das-terras-brancas é que comecei o meu apaziguamento com os Estados Unidos da América…

O paradoxo!

Eu era daquelas que dizia não ter nenhuma vontade de provar, conhecer, ou de saber a terra, o ar, os bichos de tão arrogante e sufocadora nação. E foi preciso um russo para me apaziguar com os yankees.

Havia desprezo e ignorância em mim, a mesma ignorância que me levou a insultar o Camões, até estudar o Renascimento, o Petrarca e o Sá de Miranda.

Somos tão mesquinhos na nossa ignorância.

Talvez literatura e línguas tenha sido a área certa, gostava de ter tido mais sal no sangue para me ter dedicado a sério.

Eu vejo, admiro, degluto os aromas, as letras, a poesia, os quadros, a música, a História, o folclore, a mitologia mas depois não sei.

Tentei aprender francês sozinha mas depois tinha de trabalhar, de fazer camas e carregar sacos, de varrer e estender roupa e depois havia a saúde que me preocupava e fui-me esquecendo e tudo ficou arrumado como cartas de amantes em caixas de madeira.

 

Julho, 2014

 

 

Masonic Youth: “O Caos é uma ordem por decifrar”

 

Ouvindo o novo dos Wovenhand e pensado quão maravilhosa será esta edição do Amplifest, com os intemporais Swans, que vou começar a desbravar, a deliciosa Pharmakon, que anseia por calor num mundo maquinal de que ela se serve, e o celestial Eugene na sua roupagem Wovenhand. Soube que já andava p’ra aí um álbum novo e eu que ainda não absorvi o último... Todo o brilhantismo da mistura da folk americana das montanhas, do post punk inglês com aquele toque ritualístico e até psicadélico que só se encontra ali e ali somente.

Quero um dia poder falar da obra de arte que é o filme de Jim Jarmush, Only Lovers Left Alive, ele disse que éramos nós ali, escarrapachados e somo-lo e somo-lo tanto que assusta.

Leio o Homem Duplicado de Saramago e penso.

Como cresceram e me desiludiram a maior parte dos amigos muito amigos, como não tenho amigos agora que queira e como me sinto segura e crescida com olhos que me protegem.

Sempre soube que todos os que não mereciam ou mereciam mas eu não o considerei, conseguiriam um lugar ao sol e eu seria a indigente do costume. Não venho reformular nada, apenas confirmar o seu caminho em direcção à terra prometida e com ares de escolhidos pelo altíssimo, qual Israel em dia de Julgamento Final.

Comprei um vestido de renda, negritude e flores, pareço eu em gomos irascíveis de Primavera, é para ele, para o reencontro depois de séculos de desencontros e ocupação em prazeres mundanos.

 

Julho, 2014

 

 

I’m your little scarlet, Starlet.

Singing in the garden, kiss me on my open mouth.

 

O Cavaleiro-das-Terras-Brancas ligou-me ontem.

Passaram-se meses e meses e continua enamorado, leal, doce, músico suave.

Disse-me um poema, confesso que não sei de quem ou que dizia, estava tão surpresa que as palavras eram apenas sons. Fiz mais uma vez anos e, de todos, ele foi o que mais me surpreendeu.

 

Agosto, 2014

 

 

Mother and the enemy

 

Tenho tantos discos para ouvir e tantos livros para ler, tantas tranças para fazer, amigos para sossegar, o vestido vermelho para remodelar, coisas, sabes, coisas…

Mas o que faço são retalhos de contorno, retalhos de entretimento enquanto espero que o sol maior chegue e a minha vida se espraie toda, se desabroche e nunca amanheça.

Oiço Mother and the Enemy dos Lux Occulta banda polaca que me suscitou a curiosidade depois de por acaso lhes descobrir o último álbum: Kolysanki.

Já tentei vir aqui e escrever umas linhas mas paro sempre e depois volto e paro outra vez, não é que não queira conversar contigo Supremo mas não sei por onde começar porque não há o que começar, não há tormentas, estou em paz e o que me atormentava não tem agora poder algum.

 

Setembro, 2014

 

 

Dia dos mortos

 

Tenho tentado escrever, tenho vindo aqui, tenho escrito e depois guardo. Não sei se é porque não consigo terminar o que escrevo, se é porque sinto que nem sequer comecei.

Oiço Culto of Luna, o Vertikal e sinto-me cheia de força, aliás, já nada me mete medo, apenas me preocupo com a saúde, todo o resto se tiver de ser será e pronto.

Há muito tempo que aprendi a viver um dia de cada vez, como os bêbados em recuperação.

Vou casar, ah rio e sei que ris comigo e rimos ambos e tu daí lanças-me esse teu olhar docinho de soslaio e eu desfaço as tranças e salto de nenúfar em nenúfar e não quero saber e realmente não quero mesmo saber.

Só falta esperar e eu espero.

Voltando ao plano dos mortais, não sei de mais nada, dos amigos nem sombras, também, se queres saber, pouco me importa, queixam-se, desabafam, viram-se do avesso, criticam-se, um enfado terrível! Talvez já não goste de nenhum deles porque deixei andar e não me importei, nem me importo e quando voltam… apenas me enfadam mais.

Serei crua, talvez, mas não me importo.

Tudo talvez se resumirá ao: “quando estive não estavam”, quando estavam… não estavam na mesma ou ao  facto de sempre ter sido um lobo solitário, gosto de estar sozinha; como dizia o Bukowski:

 I am the best form of entertainment I have! Let's drink more wine.

 Às vezes, a gente percebe que isto é tudo uma troca de favores, um comércio de necessidades e depois a gente abre a pestana e manda foder tudo e sente a leveza a coçar-nos as asas e ah! É bom sentirmo-nos solitários e feitos de aço, além camarada que a gente vê terra lá ao fundo!

E acabando com a melhor banda do mundo,

All is quiet, the city sleeps…

 

 

publicado por Ligeia Noire às 00:29
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