“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

23
Dez 14

 

To mine eyes thou art
as unto the sun.
most beautiful of all
is to me thine light.
in the desert blooms a rose.
such as thou, flower which
abideth in my tent.
and while about us blows a
hurricane of wordly winds.
like unto the fury of the gods.
as we lay unto each other
we heareth not.
thy breath is like
unto the cedars of lebanon
thy gaze is but the
moon in mine heart.
the perfume of thy body
is like unto the pools
of the northern lands.
full of salt and life.
I am yours
my goddess.
unto you I build my
circle.
Unto you I offer my gold and
my chests.
Thou art all I hath dreamed.
and unto you is all glory.
nether shall my bones go.
nether shall my thoughts disperse.
but always unto you my love,
blooming in the barren sand
of the world.
always unto you
my rose of the desert.

 

By C.S.

 

Flores e letras me ofertas, o escolhido, o anjo caído, o meu mago, filho da lua dedicou-me este poema e aqui o pouso, por entre aromas invernais e escuridões alumiadas pela lua amante e branca, sou eu e tu e somos nós que aqui estamos e esperamos pela lua primeira. Meu feiticeiro guarda-te da invernia dessas montanhas inescrutáveis no meu regaço. Desentraçarei os cabelos e os laços e serei tua fortaleza porque está quase, uma eternidade antes me esperou, uma eternidade depois me esperará.

publicado por Ligeia Noire às 14:00
etiquetas:

14
Jul 14

 

From the day
You arrived
I've remained by your side
In chains, entombed

Placed inside
Safe and sound
Shapes and colors are all I see

On the day
You arrived
I became your device
To name and soothe

Placed inside
Safe and sound
Shapes and colors are all I see
Shapes of colors are all I feel

From the day you arrived
I have stayed by your side...

Placed inside
Safe and sound.
Shapes of colors are all I see
Shapes of colors are all I feel
Placed inside
Safe and sound.
Shapes of colors are all I see...
Safe inside

 

Letra de Deftones

 

publicado por Ligeia Noire às 14:31
etiquetas: , ,

09
Abr 14

 

You missed the winter and it followed you back home

Where sun kissed the crimson footsteps in the melting snow

We are doing our best to disown the golden mean

By these acts of cruelty in the name of beauty to be free

 

The acoustic funeral for love in limbo

We're dancing with tags on our toes

I save my last breath for your window

To write you this song

For the acoustic funeral

 

On the verge of a vow to kill all reason locking that door

To a nightmare within a nightmare we are bound to adore

Let the planchette in the shape of heart glide to you

And finally confirm all fears to be so real

 

It's so real.

It's unreal underneath the ice so thin I am turning blue

The one last thing I know to be real is the shadow of you

Killing love with a kiss

 

Let's re-enact the fall for the acoustic funeral

 

Lyrics by H.I.M./Letra da autoria dos H.I.M.

 

publicado por Ligeia Noire às 14:13
etiquetas:

27
Dez 13

 

Novembro e meio

 

Olá,

Como tens andado?

Tens-me visto daí? Rido… pois com certeza, advertido, suponho mas já não equaciono o porvir, deixo que a água escorra pelos pingentes de gelo que me servem de gelados como ele diz que as pessoas fazem por lá.

Toca a Dying Song, surpreende-me a melodia açucarada e catchy de que se permeia, enquanto ele vai rasgando com palavras de poetas e de nevoeiro toda aquela toada de guitarras, teclas e batidas controladas.

Vou recordando este Screamworks: Love in Theory and Practise porque no outro dia ele me falou da genialidade de pormenores e melodias que eu, na minha tacanhez, não quis admitir, reconhecer, apreciar e que lhe iam alegrando os ouvidos no metro.

A minha vida está um novelo, uma confusão, um labirinto que não se pode sobrevoar…  o que me remete para o curioso ditado do tem cuidado com o que desejas porque já o Manson dizia when all of your wishes are granted all of your dreams will be destroyed…

E não explicarei porque, mesmo sendo eu, esta rapariga sem caminho, sem futuro, sem cheta, sem porra nenhuma, tenho um gato laranja e um cavaleiro branco apaixonados por mim, de formas diferentes, de estórias e enredos díspares mas saídos do nada e caídos como Nefilins.

Aquele a quem pertenço ofereceu-me um disco dos Pink Floyd , dois discos dos Supertramp e um livro de poesias do Edgar Allan Poe de capa vermelho-sangue.

O meu coração carameliza com livros de capa vermelha, ainda por cima pequenos….

E o laranja, o gato laranjinha compôs-me o que te revelo a seguir:

 

I have a precious jewel

I keep it in my pocket

And it goes everywhere with me.
When the moon is out at night,

Its rays shine on it and
the stone talks to me 

saying sweet starry things.
When the sun is out
and the clouds are rolling

They reflect on the stone and it

Shines for me 
speaking loudly.

when the rain falls the drops

form on the stone and

tell sad stories but

always my precious jewel is

on my mind and

nearby.

she is so rare and

her name is…

 

Autoria de C.S.

 

O seu nome é, o seu nome é….

 

Dezembro e fecho

 

E é nesta profusão de novidades e de coisas que se irão equacionar no Verão quando o sol raiar porque ela estará com os caixões à espera, os dois refulgindo de negro azeviche ao sol.

E não é que volto pela ducentésima vez à estória da minha Ligeia, volto a deixar que o vento uive sem que me encontre atormentada e que a chuva caia sem se me molharem os olhos porque me doem as costas e as pernas por dias de trabalho escravo, deixo que o meu corpo descanse e deixo que todas as minhas vontades sensuais se desenrolem e acreditem e venerem apenas esta mulher, esta deidade.

Ligeia, Ligeia, é de sons conjuratórios que o vosso nome é feito.

Meu Deus como vos amo, como vos adoro e reverencio.

 

publicado por Ligeia Noire às 15:39
música: "When the sun hits" dos Slowdive
etiquetas: , ,

25
Set 13

 

Rés-do-chão

 

I find myself in love

The fall of you defining me

I’m always home with her as a shield

You are me.

Gosto muito deste trecho, principalmente a forma como o sujeito se dá conta do seu estado…

«Então como te encontras?

Cá eu encontro-me apaixonado…»

Um feliz acaso de palavras.

 

Étage 1: I'm scared of swimming in the sea

 

Estou na cama ainda, dói-me a cabeça e não me apetece ir já pro mundo, tudo é fumo lá fora e coisas de fazer. Fui trabalhar estes dias e em modo Staccato:

How

Did

You

End

Up

In

Hell?

E eu lá sei…

 

Étage 2: I hate being undermined

I'm afraid I can be devil man

And I'm scared to be divine

 

Três concertos e, escolher, deveria ser-me vetado, Altar of Plagues, Alcest e Tarja Turunen. Acho que já se esta a prever qual vai ser, não posso estar no mesmo país e não ir, tenho de presenciar e pronto, dê por onde der.

 

Étage 3: When I allow it to be

There's no control over me

I have my fears

But they do not have me

 

Sim, já deu para perceber que ando a ouvir o novo álbum da Sirena, é curioso como nunca lhe perdi o rasto, ao contrário dos Nightwish, que já vão na terceira vocalista e ainda por cima uma que nunca me despertou paixões. A Tarja é especial e eles sempre o souberam, principalmente o Tuomas, no entanto, em nenhuma banda de metal sinfónico ou quejandos há um letrista como ele, o domínio de inglês que lhe permite escrever verdadeira poesia, é raro. Faltam esmeraldas, rubis e diamantes que lhe coroem a voz, faltam as palavras dele, as estórias do dead boy. No entanto, também lhe falta a ele a centelha… continuo a encontrar verdadeiras maravilhas nos Nightwish, a Poet and The Pendulum ou a Song of Mysef mas falta enoquiano para elevá-las aos céus, falta a voz dela, o sotaque dela, aqueles olhos verdes brilhantes, os vestidos, a graça, aquela mulher domina o palco, abalroa-o, a voz cobre o registo lírico e o dramático numa agilidade imperiosa. Sempre de saltos que tocam os céus e cabelos negros em esplendores de Inverno, é assim que uma deia se comporta, sem dar explicações e sendo inalcançável e toda de gelo, menos quando os olhos se lhe desaguam na música, posso dizer que há três mulheres que me conquistaram o coração, a minha Rainha grega Galás, a Sirena Finlandesa e a Dido não a de Cartago mas a sua congénere holandesa.

Sílfides de ser.

 

Étage 4: I'm afraid of loving women and I'm scared of loving men

 

Tenho mais um casamento nos dias que se avizinham, confesso não me apetecer muito ir, já não sei como me comportar sozinha com a rapariga-que-tem-nome, nunca pensei dizer isto mas se a outra estivesse lá, se calhar… sentir-me-ia mais à vontade. No entanto, tenho curiosidade de voltar a rever todos os meus amigos, quanto tempo não passou desde que éramos seis e contentes?

 

Étage 5: Memoria, no one hurts like you

 

E ele diz: eu gosto muito de ti e eu sorrio sozinha em cima da cama com as letras a dançarem-me toda.

 

Étage 6: She is a killer

 

A deusa Fínica terá de esperar por mim…

 

Étage 7: Va la niña, al llamado del mar

Cabellos de agua y piernas de sal

Mejor dejar el cuerpo, no volver

Que anclarse a morir

 

Porque só poderia ser Alcest a escolha do precipício.



Aos vinte e dois de Setembro de dois mil e treze.

 

publicado por Ligeia Noire às 11:13
etiquetas: , ,

02
Jul 13

 

Estava a recomendar-lhe a versão do quarteto de cordas da Join me in death numa de gozo mas se casasse, não haveria dúvidas de que era com essa que entrava, o romantismo levado ao extremo, junta-te comigo na morte porque em direcção ao altar eu caminho, dizem no oriente que a morte traja de branco, há velas e flores, Cristo de sangue ungido nas mãos e pés, tu vestes de negro e levas violetas na lapela, punhos e cravat de renda branca, despediríamo-nos assim, ali, da vida e que a morte me abençoasse contigo.

Talvez tirasse de lá as pessoas, as pessoas não fariam falta, a menos que fossem outro tipo de pessoas.

O Valo explicava, aquando do boom que foi o Razorblade Romance, que a canção não era sobre o suicídio mas uma versão moderna da estória de Romeu e Julieta, a minha amiga diz que o organista provavelmente não a saberia tocar… ela escolheu três músicas e perguntou qual era a minha favorita, o cânone em ré maior do Pachelbel claro, não conhecia o gajo mas quem não conhece o tema?

Agora que estou metida nisto fico surpreendida com o protocolo e os rituais que proliferam na cerimónia.

É que há várias composições de Mendelssohn, Händel, Bach, Beethoven ou Verdi para cada momento, há para a entrada das Damas de honor, para a entrada da noiva, para a saída do altar dos noivos, para a saída do altar dos convidados… uma profusão de rituais simbolistas admirável.

Também me falava de que queria que fosse cantado o Avé Maria, sim esse do Schubert, na altura da troca das alianças, o que irá acontecer porque como fazia parte do grupo coral, há um tenor que irá proporcionar o momento, o restante enlace será acompanhado por vozes e piano dos restantes elementos, só espero que não esteja demasiado calor, porque isto de desmaiar lá à frente é coisa que ainda não experimentei.

Trabalhei no Domingo até meio da tarde, o calor era tanto que não sabia se me apetecia saltar do primeiro andar ou atirar a outra e dormir um sono depois.

Ainda por cima, pedi ao meu irmão para me ir buscar e a meio do caminho o carro avariou… resultado: fiquei a conhecer melhor a namorada dele, enquanto ambas riamos nervosas ao contemplar o que ele e os amigos magicaram: rapinar uma corda de um portão para rebocar o carro com o carro de um deles, se não morri de ataque cardíaco já não morro.

Falta uma semana e estou nervosa, ando para aqui a falar de casamentos e trabalho e calor, ando às voltas e voltinhas e ignoro e ignoro e reparo que hoje não há metáforas, nem parágrafos barrocos, é só trivialidades e menoridades.

As coisas em que eu me enovelo, Jesus Cristo.

Voltemos às menoridades, eu não me apoquento com estas coisas: viagens, trabalho, dinheiro, casa, carro, família, ela foi lá passar o fim-de-semana, disse-me que a nossa prezada estava bem na vida, que a casa era maravilhosa etc. e tal confesso que a princípio fiquei um pouco confusa, a hesitação (Hesitation Marks ah ah ah) quis entrar mas foi só isso, somos diferentes, eu admiro-a, somos diferentes e pronto, avaliei, pactuei, brinquei com ela, tentei parecer-lhe o mais normal e comum possível nas observações que fazia mas na realidade mandem-me para Tóquio, eu visto aquelas saias rodadas pretas e atiro-me de um arranha-céus com um sorriso oco no rosto.

É por dentro que os fios têm de estar ligados, é por dentro que têm de fazer sentido, por fora só me interessam a roupa e os sapatos enlaçados.

Às vezes, ainda me ocorre pedir a um gajo muito mau e poderoso que me salve e me coloque no berço mas são apenas desejos iguais aos dos chocolates ou dos sapatos pretos de correias que comprei hoje: fomes.

A Join me in death, lembro-me bem…  andava para aí no segundo ano do curso e ao chegar às aulas da parte da manhã, ouvi aquele memorável início, aquelas notas de piano a ecoarem pelo átrio, arrepiei-me da cabeça aos pés, era como se alguém te estivesse a ver de lingerie sem quereres, era a tua intimidade ali espalhada por todo o lado, por rapazes de boné, homens de camisa, raparigas de piercings, raparigas platinadas, estava baixinho, a maior parte deles não se apercebeu mas eu… eh pá… para mim era como estar na terra dos mil lagos, em altura do sol da meia-noite.

Não havia rádio na escola, rádio no sentido de uma emissão com locutores e tudo, como nessas escolas da treta americanas. Provavelmente, era uma aparelhagem lá no quarto escuro deixada em modo de repetição, a música tocou o dia todo, os meus colegas nunca mais a esqueceram, ainda hoje sabem quem eles são, ainda hoje se lembram de mim quando os ouvem ou vêem o heartagram, tenho de ir à Finlândia um dia destes pedir-lhes comissão.

Eu bem digo que um dia conto a minha história de enamoramento por estes rapazes mas duraria tanto tempo, envolveria tantos momentos, pessoas, caminhos sem retorno e eternidades consoladas a álcool, que ficará para o dia último, noite última, sim, noite.

 

publicado por Ligeia Noire às 13:36
etiquetas: ,

21
Jun 13


A drop of your blood tastes like wine today



publicado por Ligeia Noire às 13:40
etiquetas: ,

10
Mar 13

E escumo a pensar na possibilidade de algum dia estes gajos tocarem, cantarem, celebrarem esta linha de coca ao vivo, já nem concebo a possibilidade de ser por terras lusas, era só mesmo tirá-la do estúdio, do disco e celebrá-la ao vivo, o estar presente seria inestimável.

Foda-se, agora que falo nisso, estas duas bandas devem, devem não, foram as mais preciosas descobertas desde, desde sei lá pá, desde os Nefilins, sim, amor todo e sem trejeitos persecutórios, a cena pura do mesmo.

Foi ouvir, comprar e guardaram-se logo no altar onde estão os eleitos.

 

Siren of souls
Howling and piercing the night
These are the streets
Clinic fingertips
Sex and violence

A naked soul
Smashed apart
Yearning, searching, longing
These are the streets
I call my home

A light pressure
Reality dissolves
I am shattered
Light, streams, energy
My ground is shifting
A mosaic of senses

Matter is running through my fingers
Time is laughing at me
This is the world:
Pulse
Surreal

 

Lyrics by Lantlôs/Letra da autoria de Lantlôs


publicado por Ligeia Noire às 22:01
etiquetas: ,

04
Fev 13


Estás a ver aquele videoclip dos Gojira em que a miúda arrasta um caixão através de uma corrente que lhe sai do umbigo?

Bem, foi o que fiz com tudo o que está aqui e espero que a caída fique protegida dos salteadores nesta fundura desmedida.

É que todas as palavras que aqui escrevo, neste meu caderno medicamentoso, são mesmo aquilo que quero dizer, toda a simbologia entrelaçada faz amor com os desenhos alfabéticos e dá à luz a criação.

Tudo faz sentido, nada em mim é por acaso, nada aqui é por acaso.

Espero, assim, que os decalcadores não se lembrem de que os vales podem ser fundos e que os silenciosos de sempre encontrem o caminho.

Ontem, o argonauta trouxe o Baudelaire, só lhe conheço poemas avulsos e os paraísos artificiais, hei-de lê-lo com calma porque, mesmo estando a ser declamado em português, houve um clique imediato e ao ouvir o nome do autor, sorri no escuro.


Je t'adore à l'égal de la voûte nocturne,
Ô vase de tristesse, ô grande taciturne,
Et t'aime d'autant plus, belle, que tu me fuis,
Et que tu me parais, ornement de mes nuits,
Plus ironiquement accumuler les lieues
Qui séparent mes bras des immensités bleues.

Je m'avance à l'attaque, et je grimpe aux assauts,
Comme après un cadavre un chœur de vermisseaux,
Et je chéris, ô bête implacable et cruelle!
Jusqu'à cette froideur par où tu m'es plus belle!


Charles Baudelaire


E por falar em franceses, sonhei com a rapariga limpa, a dos maravilhosos cabelos de trigo, queria tanto ter arriscado, achas que ela teria parado de florir, esconderia o azul dos olhos, a voz pequenina?

Sei que gostará de coisas mais solarengas e saudáveis mas desde que lhe lacei um vestido feito à pressa com fitas roxas, a liberdade tomou-me à força e contemplei-lhe as pestanas, intimas guardiãs de pedras jacintinas.

És toda o contrário da noite, és toda raios e limpeza e vontade e espontaneidade e afabilidade.

Meu mais belo narciso fulvo derramado na imensidão azul deste meu receptáculo de tristeza.

Ficas tão bem no meio de todas estas palavras, gostei de começar contigo.

 

publicado por Ligeia Noire às 16:05
etiquetas: ,

27
Nov 12

 

Oiço My Dying Bride, o Evinta e, apesar da Loud assentar que foi um exercício inútil, continua a parecer-me um

belo, fantasmagórico, ambiental e melancólico trabalho do que melhor se faz nesse plano.

Estou triste, deve ser de tudo estar acobreado lá fora... bem, agora não, agora está escuro, uma lua siberiana

de tão bela e um céu que se deixa alumiar por ela, finalmente.

Estive a pensar ontem, pensar, e já não sei o que sabia, pelo menos não com certezas de quem agarra a mão dos pais para atravessar a estrada.

É que a culpa também não é minha, é desta inconstância e insatisfação que tenho.

E sabes o que me veio à memória?

Quando estive com a flor-selvagem, exactamente há quatro anos.

E, apesar do que quero dizer se prender com:


-afinal até gosto dele, afinal até lhe sinto um doce carinho nostálgico-


Bem, apesar de ser isso o que queria escrever para que ouvisses de olhos fechados, o que rememorei foi o quão leve, desprendida e animada me deixei ficar, nada mais, apenas corpo e irracionalidade.


Singular.


Tudo foram toques e beijos e mãos e enleios de desejos, sim desejos.

Mas estive lá, não só para o beijar mas para a ver também e lembro-me do antes, lembro-me de estar naquela

casa térrea em rua perigosa e estarem na sala esperando para que me juntasse aos comensais para o jantar.

Estava no jardim feio e escasso porque o telemóvel tocou.


Ela.

Olá.

Ouvi.

Ouvindo…


Cerrei os dentes mas depois a minha raiva tesa escacou-se de tão fraca e chorei uma meia dúzia de lágrimas

corridas para as mãos, para que pudesse ir jantar incólume e esperar pela noite branca.

O quarto era espaçoso, estava muito calor, a rapariga que dormia ao meu lado ressonava, procurei pelos auscultadores e…


Cult of Luna.


Estava naquela paixão arrebatadora de os ter descoberto há meia dúzia de dias e de não conseguir desapegar-me deles.

Eram e são como um exército de templários que se coloca à porta do castelo para que dali ninguém passe; provavelmente até seria a Leave me here ou a Waiting for you… e chorei apenas metade do que havia para chorar, para que ela não acordasse.

Naquelas horas nocturnas tive saudades de casa, odiei os doirados cabelos tabágicos do lado, quis que a flor-selvagem, que dormia a alguns metros e por quem eu não estava enamorada mas que me prendia o sentido, saltasse do tecto como um vampiro faminto e me fizesse esquecer as dores velhas e cansadas, odiava

a cidade e chorava por tudo, pela que já não sei e sei e não sei, perco-me toda...

Ela estava no planeta ao lado desde que as cervejas verdes ocuparam o seu espaço na mesa de pedra do episódio anterior.

Rememorei hoje, esse ontem todo.

No dia seguinte, entrei na escarpa dele para poder voar.

Não pairar, voar, e voei e gostei e foi bom e branco.


I'll be your lover, I'll be forever

I'll be tomorrow, I am anything when I'm high


Nunca a denominei neste caderno, até hoje não consegui arranjar uma palavra que a vestisse, para ela não

consigo...

Tem ficado solta pelas páginas, nomeio-a para mim nas entrelinhas, e não há um nome criado para que Adão a

possa convocar à reunião baptismal e Deus a reconheça.

E, já que falamos de senhoritas, sonhei com a rapariga-que-tem-nome numa destas manhãs de fim-de-semana.

Ela conduzia e eu estava com ela, num carro incógnito, na estrada secundaria que fica por baixo daquela árvore

impossível que não vou nomear.

Engraçado esse sítio porque ela não lhe pertence, nem o conhece mas eu sei-o de cor.

Já parti a cadência do que aconteceu mas ainda vejo o ramo de flores que colhi para ela e que ficou esquecido

na berma da estrada, no meio da erva.

Lembro-me bem delas, açucenas cor-de-rosa e lilás pálido, talvez, mas o róseo abonava o bouquet, eram para ela e faz todo o sentido que pode fazer.

Rosa cai-lhe bem no colo, confunde-se com a sua compleição eterna de mulher em todas as vidas:


Bela e orvalhada.


Acordei com a certeza de que estive apaixonada e ainda continuo nesta coisa de arrebatada e ávida por si, dona. 

 

 

publicado por Ligeia Noire às 12:01

mais sobre mim
Agosto 2015
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


Fotos
pesquisar
 
arquivos
subscrever feeds