“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

28
Nov 13

 

E se eu escrevesse e se eu te contasse o que já sabes mas libertasse, assim, espaço no disco para erguer mais as costas? Não era isso que eu fazia, que eu sempre fiz?

Hoje lembrei-me da rapariga de cabelos de trigo encaracolados, a alta e esplêndida Bretã, está tanto frio que me custa escrever, está tanto frio que os meus duches gelados, estão ainda mais gelados.

Gosto deles, dos dois, amo o Cavaleiro-das-Terras-Brancas e tenho a minha alma espelhada e a cumplicidade de crianças que nunca cresceram com o do outro lado, com o gato cor-de-laranja.

Há uns tempos, pensei nunca conseguir espelhos onde banhar os olhos e agora isto... e agora isto que, às vezes, pesa que deveria ser leve mas há toda esta insustentabilidade...

No entanto, são eles que me mantém longe do abismo, não penso, não penso e se penso não salto.

Quanto a elas e a ela, em particular, já nem sei se quero ir, se posso ir, já não gosto dela e o gostar tanto que gostei, perdeu-se no tempo, é engraçado como isto circula aqui pela Terra, quando estava de mãos e peito abertos, insistiam em ir para outro lado, viver outras coisas, desconfiar do abraço, agora posso dizer com certeza de anos que não sinto absolutamente nada.

E sinto-me toda.

Acabaram-se elas, agora são eles.

publicado por Ligeia Noire às 14:18
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15
Ago 13

 

Se calhar é sinal da idade, não é que dantes fosse diferente, nunca foi de ânimo leve que enfrentei sítios que negam música, se é que me faço entender, mas como as minhas ressacas estão cada vez piores, ou melhor, sempre foram uma desgraça, já mal bebo e, consequentemente, já não é tão fácil abstrair-me da música de merda, o "restaurante" e tudo o que lá sucedeu foi sem mácula.

Então, ter oportunidade de ouvir Rammstein e Manson pelo meio das musiquinhas das rotinas, onde eles eram feios e delas aproveitava-se uma e, juntando-se as performances da Dita VonTeese nos ecrãs e os amiguinhos que se juntaram às nossas tarefas e à festa que encetámos, é, valeu mais cinco pontos. Gostei de toda a parafernália envolvida e do vermelho das paredes mas esqueçamos os demais porque dançarmos as três como nos velhos tempos, principalmente com a rapariga-que-tem-nome, ali…

Depois, confesso que não me importava de ficar apenas à beira-rio a beber vinho tinto e a contemplar a vista inigualável, sempre fui a gaja dos concertos e das noites privadas ou dos jardins e cemitérios à noite ou então estou apenas a ficar sem paciência.

A coisa boa disto tudo é que acordo fresca que nem uma alface, o que no meu caso significa as olheiras do costume, dores nas costas mas cabeça no sítio, se calhar foi ele que me pôs assim, mostrou-me o outro lado e agora tudo me parece fosco, reparar que o banquete ficava a dez passos de tudo o que foi há umas semanas... as aparentes coincidências matam-me.

Faltam dois dias, encomendei uma tela de presente, espero que goste, falta-me decorar a cesta e ir à caça de pétalas, ela quer que seja eu a vesti-la, a laçar-lhe o corpete e eu quero também, a de cabelos de trigo estava nostálgica, chorou, abraçamo-la e sentimos que não tinha passado tempo nenhum desde o ramo de couves à mesa da cozinha mas, ao mesmo tempo, passaram levadas de água e bebidas que se tornaram demasiado doces.

publicado por Ligeia Noire às 12:21
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09
Jan 13


Não há nada de bom em envelhecer, exceptuando a proximidade da morte, isto se já não te tiveres matado primeiro.

 

Ya White Pony, é outra delícia, só conhecia o Around the Fur, que me foi dado a conhecer pelo resgatador de rapunzeis, ou então foi aquele disco que gravei do da rapariga que era Joana e não Maria mas compunha as duas na ordem inversa.

Não era dela, era do namorado, claro que era do namorado mas beijei-a na mesma.

Há quem entre no negro só pela pinta e pelo perigo mas tudo volta ao sítio, tarde ou cedo, não me compete a mim mas White Pony não era?

Sim bom, muito, é mais sexo, I feel like more, é nisso, é disso.

 Não sei se os conhecia até aí, não me recordo, há muitas zonas cinzentas por essa altura, álcool.

Eh pá conhecia sim, apetece-me rir agora, porque conhecia sim, a change, a tal da casa das moscas que é precisamente deste álbum e estava num disco que a minha menina, para quem não há nome que caiba, me gravou, afinal o álcool não encobre tudo.

E nas bebedeiras prosseguimos, nesta última vez corrigiu-se, ficámos por lá e bebi bastante, a ressaca foi… foi.

Acordei apenas com o pensamento de que se há algo que tenha em comum com o Bukowski é o ódio de estimação pelos bebedores de fim-de-semana, os da paisagem, quem diz bebedores diz os que se vestem de negro caro por fora.

Não jantei, comi azeitonas pretas e dancei muito, sim muito, já te contei que nunca tinha fumado?

Pois bem, nunca tinha sequer posto um cigarro -tabaco- aceso na boca em todos estes anos de (inserir aqui prefixo que invalide o substantivo seguinte) vida, desta vez estava tão lá que quebrei a virgindade patética.

Deixo sempre as coisas mais fáceis pro fim.

Foi engraçado, a rapariga-que-tem-nome trazia qualquer coisa de diferente, não estava tão serena desta vez, tão delicada, tão bela, quis não gostar dela, porque estava aborrecida com o que já disse nas páginas anteriores.

A dos cabelos de trigo foi brincando com o Rosé e comemos azeitonas pretas e ela contou-nos da poeira estelar e eu fiquei a gostar ainda mais dela, passou à frente, passou sim.

Achei que a rapariga-que-tem-nome fosse mais audaz do que ela e eu sei que no fundo é.

É que ela escolheu outro caminho.

Não questiono o sucesso do percurso, sei que sim mas fiquei desiludida e a gatinha de vestido continuava, e a outra admoestava-a da altitude a que estão as estrelas e eu ria, não sei se pela bebedeira, se pela periculosidade da minha vontade.

Continuámos esperando pela ceia, havia muita coisa à volta e falava-se que era mais fácil despires-te, foderes com alguém de quem gostasses, conhecesses bem, do que o oposto.

Bem, em suma com quem tivesses uma relação, eh pá juro que desta vez não queria estar na outra margem, juro que não queria mas nisto estou e sempre estive.

Já tive esta conversa com mais duas pessoas e chego sempre à mesma conclusão.

Então não é mais espontâneo o mistério, o desconhecido, alguém que, de preferência, não voltes a ver, esteja no mesmo plano espiritual ou com quem não precises criar qualquer tipo de ligação, alguém a quem não tenhas de agradar para além da vontade?

Vêem o que tu deliberas que eles vejam de ti, controlas o que mostras.

Sei lá, aqueles que estimas, que conheces… há sempre coisas a cumprir, a respeitar, rituais… estão sempre ali, as expectativas que tens de preencher, além do mais, a consciência só estorva, há o medo do desapontamento, há o life is short and love is always over in the morning o que valida o desconhecido e o meu pavor de manhãs que se liga ao pavor de relacionamentos porque abolem a individualidade, quer queiramos quer não e manhãs + nove às cinco + expectativas + caminhos sem inebriamentos a granel…

Parou.

Não é regra mas é a abundância.

Deu-me tanto gozo lapidá-la, se calhar ela não é tão parecida comigo como achei que fosse, está a voltar ao plano dos planos.

Cometi o erro de pensar que estava com ele por segurança, fui demasiado obstinada em pensar que ela não tinha vontade de se apaixonar.

E é uma mistura de irritação, de confusão, de saudade que me toma mas que passa porque no fundo ela continua a ser a Mulher Escarlate, tem é medo de a voltar a vestir.

 

Go get your knife and kiss me.

 

publicado por Ligeia Noire às 01:02

30
Mai 11


Se bem que tu não tens caracóis mas os teus fios dourados podem ser os mesmos desta bela serenata de que tu tanto gostavas.

Não fiques triste, sabes que sou assim mas hoje é o teu dia, o dia de seres emulada neste espaço de devaneios lisos.

Rapariga de olho azul que tem medo de fantasmas, rapariga de cabelos vastos de trigo.

Rapariga que se assusta e se aborrece porque não sabe estar apaixonada.

Rapariga doce, rapariga que gosta de tunas, cigarros, martíni e azeitonas gordas.

Rapariga que um dia leu o meu caderno de capa preta.

Rapariga, rapariga, tantas estórias, tantas desavenças, tantos abraços, tantas cervejas e vinho do Porto no bar do senhor de barbas e cabelos longos.

Foi nesse sítio jazzistico que apareceu o homem de tranças, o homem de cabelos loiros e mente dispersa.

Vocês riam dele mas na verdade era ele quem se ria de nós.

Lembro-me, com saudade, de vos ver na sacada preparadas para o abalroar com os vasos da vizinha, só porque ele queria fazer-nos sopa à meia-noite.

Há melhor hora para sopa?

Lembro-me do chão de pedra atrás da capela, onde eu e a rapariga-que-tem-nome desafiamos a noite e tu, assustada, dizias ouvir barulhos e vozes.

Claro que eram pessoas, desviados da sociedade que fumavam haxixe e riam alto no apeadeiro.

Não eram mais que pessoas.

Lembras-te de como a noite estava bela?

Cheia de estrelas brancas... claro que não lembras, estavas assustada e querias voltar para o ninho.

A rapariga-que-tem-nome ficou zangada e disse muitas palavras pelo caminho.

Eu, confesso que estava extasiada e também gostava de ir mais longe, mas ficou para outro dia, dia esse que jamais se repetiu.

A capela que não tem boca ou poderia contar muitas estórias, continua lá, o apeadeiro está agora vazio, a rapariga-que-tem-nome está muito longe e tu... vendes sonhos.

Também tenho saudades e, depois de anos volvidos, acontece sempre o mesmo, o passado amacia-se e mistifica-se.

Agora temos todas, sendas diferentes, caminhos compridos e desiguais, talvez um dia a inocência volte.

Todos sabem que esta é a tua.

 

Um dia a areia branca teus pés irá tocar

E vais molhar teus cabelos na água azul do mar

Janelas e portas vão se abrir só para te ver chegar

E ao te sentires em casa sorrindo vais chorar

 

Debaixo dos caracóis dos teus cabelos

Uma história p’ra contar de um mundo tão distante

Debaixo dos caracóis dos teus cabelos um soluço e a vontade

De ficar mais um instante


As luzes e o colorido do que tu vês agora

Nas ruas por onde andas

Na casa onde moras

Tu olhas para tudo e nada te faz ficar contente

E pensas a toda a hora voltar p’ra tua gente

 

Debaixo dos caracóis dos teus cabelos

Uma história para contar de um mundo tão distante

Debaixo dos caracóis dos teus cabelos um soluço e a vontade

De ficar mais um instante 

 

Tu andas só pela tarde e o teu olhar tristonho

Deixa sangrar do peito, uma saudade e um sonho

A areia do mar espera que chegues num sorriso

Pisando a areia branca que é teu paraíso


Debaixo dos caracóis dos teus cabelos

Uma história para contar de um mundo tão distante

Debaixo dos caracóis dos teus cabelos um soluço e a vontade

De ficar mais um instante…


Debaixo dos caracóis dos teus cabelos, versão da Tuna Universitária de Aveiro ao vivo no FITUA 2002. Tema original de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.


publicado por Ligeia Noire às 13:32
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18
Mar 11


Há muitos tu neste caderno medicamentoso, e apetecia-me falar do tu de hoje, o tu que não posso clarear em palavras, o tu que não sei se ainda gosto.

Tu que nunca sei como enunciar.

Tu que fazes com que tenha de metamorfosear e camuflar ainda mais as palavras porque és um espírito sempre presente e não tenho a certeza se quero que leias isto.

Como dizem os Interpol de uma golfada I am safe without it mas, às vezes, meus caros músicos, as coisas surgem, aparentemente, abandonadas à nossa porta e temos de as carregar no bolso.

E é assim que me sinto em relação a ti, que estou melhor sem te pensar, sem me lembrar, sem te trazer para

os olhos, às vezes, até acho que já morreu e não me sinto culpada por isso.

Tudo é dúvida, pelo menos em mim.

E também me pergunto por ti mas confesso que já não há atmosfera ou tempo para quebrar, aliás, não há coragem.

Mas hoje aconteceu uma daquelas coisas que me fez retroceder alguns anos e ver-me embevecida a contemplar as maravilhas do que não se pode explicar.

Já não esperava que o universo ainda se importasse em cruzar-nos a distância.

E de facto, parece que ainda não perdi a ingenuidade porque o coração tremeu e os olhos sorriram e eu com eles.

Como se aquilo tivesse provado, que tudo era verdadeiro, real e inequívoco.

Como se fosse suceder para além das nossas vidas e vontades. Como se fôssemos conhecidas de outras reminiscências.

E fiquei feliz por saber que o Supremo ainda não se esqueceu de nós e quer que nós façamos o mesmo.

Na verdade, depois de perceber que apenas eu me sentia alentada, todas aquelas coisas pesaram nos bolsos e na alma.

Não vejo as coisas planas e, se calhar, foi tudo empolado na minha cabeça desde o princípio.

E no princípio era o verbo e o verbo fez-se carne e, uma vez enxaguado dela e de sangue e coisas que alimentam a alma, este pereceu às mãos de si mesmo.

O verbo não foi eterno porque se consubstanciou.

Todavia, foi apenas na sua concretização, no seu alagamento com vida, que este pôde algum dia entender-se e ser entendido.


publicado por Ligeia Noire às 00:55

13
Jan 11


Chego e sento-me e olho quieta para o céu nocturno da cidade que me acolhe.

Na minha terra os únicos pássaros que interpelam a noite são as corujas e os mochos e, claro, os morcegos mas essas são criaturas de outros passeios.

Aqui, desde ontem que oiço chilreios constantes à hora das bruxas, como se dialogassem com a noite.

Estarão presos por certo, não os imagino em árvores.

O que mais sinto falta neste quarto anti-séptico, nesta terra de ruelas, é a solidão deliberada, a dança a horas da vontade, deambular e restar-me em sítio incerto e calmo.

Enquanto aqui sigo sentada, ao som do chilreio nocturno de pássaro que desconheço, percebo-me calma, aquietada mas também triste, não triste por mim, hoje não, mas triste por saber-me certa da minha solidão de entendimento.

Não me atingem e eu canso-me.

Sei que sabes que já falei disto mas acabo sempre por pisar no charco, não é?

Curioso, o ser humano, sempre à espera que da próxima vez seja diferente, sempre a esperança, a luz ao fundo do túnel que como diz o Valo a maior parte das vezes, senão todas, é apenas um comboio em andamento.

E move-se rápido e atinge-nos e nunca morremos, nem saímos do percurso porque a viagem é circular e não há esquinas para nos escondermos, ou caminhos alternativos.

E no meio de toda esta conclusão que me atinge sempre, tenho momentos, ou tive momentos em que pensei que nem tu, espírito distante, escapavas, pensei já não te conhecer e, perdoa-me dizê-lo, mas até não te gostar, não te conseguia escrever, as palavras não existiam e tudo o que me saia dos dedos não ladeava o coração.

É muito tempo sabes, é muita água, muitas rosas esfaceladas e nuas além-caminho.

Muito tempo, muito tempo mas questionar é natural e por certo continuo a amar-te.

De ti falei e de ti haverei de falar em palavras escritas mas precisas esperar porque tu és e eu preciso de muito tempo para agarrar palavras para ti.

E tu,flor-estranha-da-selva, por ti tudo é mais fácil porque o que te sinto é feito de carne e abraços.

A ela, jamais a perderei porque é minha, já tu, nunca serás meu.

E eu preciso colher as flores e levá-las para a minha câmara para as contemplar a noite inteira.

Tu tens sido demasiado constante, tu que deveria detestar calmamente, adoças em demasia e fazes-me ansiar demasiado, tu assustas-me tanto.

E ainda faltas tu, minha mourning child, disseram-me que pareces doente, que o teu rosto está sereno e triste e pálido, muito pálido, que os teus braços e pernas estão finos, o teu cabelo escuro e pousado nos ombros, está tão quieto como tu, o teu colo e o teu peito estão sós e o teu corpo está delgado.

Eles não entendem, eles não te sabem abraçar e eu sei mas não posso.

Gostava de ter esse teu corpo frágil no meu colo e fazer-te chorar noites inteiras para que finalmente pudesses prosseguir a vida.

Não te quero entender a dor, particularmente essa, que jamais te vai abandonar, receio, mas tudo o que fizeres, eu não questionarei, o amor de sangue é extremo e eu não questiono.

Mas permite-me que refira o quão bela me pareceste, o quão formosa a quietude te poisou no rosto, apenas as lágrimas perturbavam a brancura dos teus traços, jamais te havia vislumbrado tão bela e, apesar de terem sido olhos alheios a dizerem-me da tua curta visita, pressinto que continuas bela porque continuas triste.

Perdoa-me se te soo incorrecta e assaz íngreme mas não existem desvios ou imprecisões nestas palavras.

Recordo o momento em que me abraçaste com olhos de ribeira… o mundo ruiu cá dentro por saber-me sem curas para o teu pesar, para o corte abrupto e imperecível com que o teu coração foi afrontado.

Quando de ti me falaram, eu sabia que tinha de voltar a desenhar-te, a acabar-te o devaneio em que no passado Verão te enleei.

Sei que não lês isto e fico contente, pois acredito que este mundo começa à noite e para lá dos nossos olhos, onde as almas deambulam e se cruzam e dançam e nada mais importa.

Gostava de deitar-me em mantos de veludo carmesim e deixar a Clair de lune embrulhar-me e colocar-vos jarras, imensas de flores.

Das minhas mãos só podem sair carícias, dos meus braços laços ininterruptos e do meu peito, do meu peito e no meu peito mantenho tudo guardado nada sai.


publicado por Ligeia Noire às 04:04
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13
Dez 10


És uma das razoes que me fez vir para cá.

Ainda gostas de mim?

Ainda tens o cordel azul atado na sapatilha?

Ainda guardas os bilhetes?

Depois do mundo que conheceste, continuas a achar-me especial?

Quando ouves a palavra amizade, o meu nome ainda é a primeira coisa de que te lembras?

Ainda guardas a madeixa de cabelo com o laço?

Fico feliz por não leres isto, no fundo são tudo perguntas retóricas.

Tenho medo, tanto medo de... passou tanto tempo.

Eu sei que deveria estar aí para me mostrares a tua vida, as tuas coisas, para comermos Häagen-Dazs, para me levares pelos sítios bonitos da selva mas isto tem-me embrulhado tão profusamente que o que me é mais caro tem ficado em hibernação.

Quando me lembro da primeira vez que nos vimos ainda me apetece chorar.

Seria completamente impossível acontecer tudo o que aconteceu uma segunda vez.

Eu jamais conseguiria abrir a alma como o fiz contigo.

Sempre houve uma inocência e uma elevação na nossa amizade que ainda hoje não consigo pôr em palavras.

Ainda hoje tudo isto permanece um mistério.

O essencial é invisível para os olhos.

Tenho saudades de estar abraçada contigo no chão do quarto, sinto falta da pertença que me trazias, sinto falta da verdade dos teus olhos.

Às vezes, tenho uma vontade que faz doer de fazer a mala e aparecer-te à porta.

Abraçar-te e não pensar em mais nada.

Agora, que recordo tudo, preciso dizer-te que me salvaste, salvaste-me muitas vezes de mim.

Estou tão orgulhosa de ti, tão orgulhosa, sempre soube que ias ser assim como és hoje, aliás, como sempre foste.

Lembras-te de mim com as pernas a tremer, as bochechas coradas e os olhos envergonhados?

É assim que eu quero que me lembres sempre, porque nesse dia eu descobri que há realmente coisas maiores que tudo, intemporais, eternas e verdadeiras.

Foi um dos dias mais importantes da minha vida.

Ensinaste-me a coisa mais importante do mundo.


Suukko


publicado por Ligeia Noire às 19:10
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09
Mar 09
 

I  

 

Sim, estou sozinha.

Sim, hoje acredito que as coisas acabam e mudam.

Sim, estou desiludida.

Sim, quero ficar sozinha a carpir-me.

Quantas certezas o tempo nos desfaz?

Quantas?!

Estamos tão certos…tão certos de que.

 

II

 

Não tenho idade para sentir isto, aliás, não sei se é preciso ter idade.

Mas sinto que não podemos fechar os olhos e deixarmo-nos cair com a digna confiança de que alguém nos apanhará.

Não.

O "alguém" não te vai apanhar para sempre.

As coisas, as pessoas, a forma de as termos e vermos muda.

É com um trago a final, um sabor a:

"já não as sinto como imprescindíveis" que escrevo.

É estranho, sabes…

É estranho dizer isto, finalmente libertei-me!

Continuo cheia de pesares e tristezas mas acho que sim.

Sinto pena e saudade, apenas.

Sim, isso é o que sinto.

Acho que "o gostar" se foi perdendo.

Acho que me mataram "o gostar" mas se calhar é mesmo assim.

Não podemos gostar incondicionalmente para todo o sempre.

Contudo, não quero levar a crer que não dói.

Continua a doer mas de uma forma diferente.

Já passou.

Já não tenho medo de perder.

De desiludir.

Não existe.

Não há.

Não quero.

Não sei muito bem o que despoletou isto.

Se calhar até sei… mas não vale a pena voltar ao passado.

O passado é cristal frágil ao peito e intransponível ao acto…

 Sim, é verdade, quem nos perde jamais nos volta a ter de igual entrega.

As coisas podem parecer de igual forma, mas enganem-se a vocês próprios. 

O tempo acabará por vos abrir os olhos e injectar-vos a dor em dose dupla.

O mais engraçado é que quando algo cessa seria suposto deixar de doer.

Não é assim.

Pensámos no que poderíamos ter alterado.

Quando mudou, porque mudou…

E sim, há razão quando dizem que o sítio onde crescemos não muda.

São os mesmos barulhos, cheiros e árvores.

É tudo igual.

Nós é que realmente já não ficámos iguais na paisagem.

Nós é que nos perdemos.

Nós é que deixámos as raízes sem solo profundo para clamar.

 

III

 

Sinto um vazio enorme.

Sinto uma falta tão grande cá dentro.

Será que somos pessoas realmente diferentes?

Sinto-me a agonizar.

Como se precisasse de fazer um enorme esforço para respirar.

Como se o meu coração quisesse parar.

Pensei que já não estavas aqui.

Pelo menos, não tanto… mas acho que ainda pertences ao meu peito.

Gostava de te ter abraçado mais.

Gostava de ter parado mais vezes os meus olhos nos teus olhos.

Gostava de ter bebido mais do teu canto.

Gostava de te ter feito sorrir mais.

Gostava de te ter enxugado o pranto.

Gostava de me ter apercebido mais cedo que ainda estás cá dentro.

Gostava, realmente, que o tempo parasse.

Gostava que fosses mais feliz.

Gostava de ter ficado lá, a ver-te partir.

Gostava que tivesse chovido muito.

Muito mais do que chovia.

Perdi a força nos braços.

Nem o sangue se sustém no nariz.

Foi sempre contigo que me senti assim.

Foi sempre a nossa amizade que me causou esta espécie de sufoco, de perda de percepção quando te vais.

Não me apercebi, animicamente, da tua chegada.

Que passeávamos juntas.

Que dormias no quarto ao lado.

Pensei que já não havia nada a cristalizar.

Nada a superar.

Nada que me perturbasse como daquela vez.

Percebi que a vontade de chorar durante o filme, na rua e na paragem, não era apenas o desespero de uma vida que me mata, era também por ti.

Pelo que fica quando partes… porque sim, eu não me apercebi "cá dentro" de já cá estares.

Estares perto mas, com certezas de lágrimas antigas, soube da tua partida.

E sim, nós somos apenas um momento no tempo.

A dor do amanhã que nasce sob a minha impossibilidade e me atira numa rotina de deriva.

A deriva que me trucida.

O ter estado escassas horas com alguém que partilha muito do meu mundo e só me ter apercebido depois.

Depois de a realidade te ter colocado longe.

Dizem que há coisas que nunca mudam.

Não sei.

Ou talvez até saiba mas não possua ferramentas aptas para o descobrir.

Pareço ter uma corda áspera a prender-me a respiração.

Diz-me Senhor do Mundo, por que temos de viver às escuras?

Por que é tão dolorosa a passagem do tempo?

Por que fazes as horas encurtarem-se quando não as estamos a ver?

Gostava tanto de ser..

 

IV

 

Hoje as lágrimas são demasiado quentes.

Acho que nunca tinha chorado lágrimas tão quentes.

Há dias em que estamos demasiado quebráveis para sair à rua.

Há dias em que apenas o sacudir do vento me faz chorar.

E o motivo é tão obtuso como demasiado nítido.

Sim, eu estou a cair.

Gostava de ter caído.

De ter cessado.

De ter caído e cessado com um baque certo e finito.

Odeio estar na continuidade.

No interminável.

No indecidido.

Na queda.

 

V

 

 

Bolas, tenho saudades tuas e só me apercebi quando não estavas.

Estávamos faladoras.

Diurnas e afáveis.

Não houve dramatismos ou melancolias.

As coisas mudam mas talvez não como eu desenhava.

Talvez só mude aquilo que se vê.

Há coisas que persistem guardadas e imaculadas ao tempo.

Não sei se estou assim pelo vazio nato ou se por aquele que deixaste.

Às vezes pareces-me distante.

Uma estranha.

Uma colega com quem não tenho profundidade.

Demasiado longe… e, depois, quando vens na nossa raridade de encontros, é como se ao partires me levasses

contigo.

Ou pelo menos levasses o meu sentido de pertença a este sítio.

Depois…

Depois, é como se as pessoas que ficam não me conhecessem.

E o mundo à volta não fosse o mundo onde eu estava antes.

Como se, por uns instantes, ficasse no limbo.

É estranho porque quando falavas da tua vida sentia-me estranha.

Sentia-me desconhecida.

Sentia que falavas uma língua estrangeira.

Não sabia que vida era essa.

Que rotina te rodeava.

Não sabia o que sentir.

Não sabia se detestavas porque te fazia mal ou porque não gostavas.

Quando chegaste, ou até mesmo na antecedência, não ansiei como outrora.

Não tremi como outrora.

Nada que não esperasse.

Não esperava era este vazio.

Não esperava que ao ires, eu tivesse ficado sem saber onde estão os meus amigos, o meu mundo, o sítio onde

me sinto!

Foi bizarro.

Onde pertenço?

Quem gosta de mim?

Quem me preenche?

As pessoas são momentos no tempo, os sentimentos dão-lhes forma.

 

VI

 

Odeio aquilo em que a minha vida se transformou.

Tantos sítios.

Tantos sítios que descobrimos.

Tanto sítio que nunca vi porque o corpo passou dias e dias no quarto.

Dói saber que volto à rotina sem nada pelo que esperar.

É estranho saber que este curto reunir de momentos em que estiveste aqui, eu tenha feito coisas por mim.

Tenha vivido.

Não foi extraordinário mas foi inesperado.

E eu gosto de coisas detalhadas, secundárias e pequenas.

Sinto-me deslocada. 

VII 

 

Sim, talvez tenhas razão e eu seja realmente estranha, embora me perca no significado da palavra.

A fase do "amar com inocência".

A fase da protecção e pertença.

A fase da perda e mudança e esta, a fase do limbo.

As coisas do passado parecem-me tão distantes e surreais...

As certezas também são momentos no tempo.

Todo este sofrimento é também por mim.

Acho que me tenho andado a carpir.

Às vezes tenho muita pena de mim.

Sou fraca?

Temerária?

Não sei.

Tenho perdido a percepção das coisas.

Gostava de fazer coisas para me sentir em menor dose.

Gostava de cear com "aqueles".

Gostava de voltar à livraria, aquela.

Gostava de raptar mais flores.

Gostava de ter umas sapatilhas de ballet.

Gostava de poder ver música.

Gostava de deixar a impossibilidade a um canto junto às meias e aos lenços.

Gostava que me ensinassem muita e muita coisa.

Gostava que me matassem muitas das sedes que tenho.

Gostava de sentir outras coisas, que não a constante sensação de sufoco e apatia.

Gostava de me sentir calma, segura e em paz.

Há muitas coisas que gostava que acontecessem.

Eu não sou diferente de ninguém.

Procuro a felicidade.

Apenas a sinto como a sobranceira das dores.

É curta.

É deveras pequenina mas duradoura nas sinapses cerebrais.

Tal como a vida é a geradora da morte.

A felicidade é a mãe da tristeza.

A longa e constante tristeza que nos desflora sob muitos nomes.

A filha negra.

 

publicado por Ligeia Noire às 18:43
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16
Set 08


Não descobri o que sou mas descobri que podemos deixar que os outros nos ajudem.

Nos façam sentir que estão lá para nós.

A atravessar a tortuosidade do caminho ao nosso lado.

E foi bom atravessá-la convosco.

Foi bom sorrir convosco.

Foi bom não estar sozinha.

Foi bom ter sido aceite por vós.

O tempo não espera.

O tempo corre e sabe o segredo para não nos acordar.

E, um dia, abriremos os olhos e as recordações estarão lá... porque o tempo sabe adormecer-nos mas não sabe fazer-nos esquecer.

E, chegado o final, ninguém me poderá abrir o peito para roubar o que vivi.

Estes três anos que passámos juntos estarão lá dentro.

As saudades das brincadeiras.

Das discussões.

Dos jantares.

Das manhãs ensonadas.

Das tardes arrastadas.

Mas, principalmente, as recordações de termos estado juntos até ao final, de nunca nos termos abandonado.

A travessia é sempre difícil mas tudo o que é difícil mais profundamente fica cravado.

Fiquei com cinco amigos. Há algo melhor que pudesse ter alcançado?

Tenho consciência de que o tempo nos fará perder uns dos outros mas também tenho a consciência (apesar da minha parca sabedoria) de que a amizade é a única coisa que vale a pena quando a luz se extingue.

Só precisamos de uma mão para nos erguermos do chão.

Um abraço para nos protegermos do Mundo.

Um olhar de cumplicidade para nos sustermos porque no final não há casa que caiba na sepultura.

Não há roupa que resista aos vermes.

Não há dinheiro que ludibrie a morte.

Só haverá e só caberá o que levarmos no peito e isso… parte com a alma!

Para sempre, não são três anos…

 

Dedicado aos técnicos de planeamento industrial

 

publicado por Ligeia Noire às 16:48
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Abr 08


Foda-se gosto tanto…

Dói-me o peito, a alma…

Os olhos ardem.

Cada dia que anoitece perco mais um pouco de ti.

Cada dia que passa, anoitece mais um pouco.


Morro.


Tudo embate nas minhas costas.

Tudo cai aos meus pés.

Aprisionei-me.

Levaste a chave, levaste o segredo...

Foi impossível aguentar porque não sei como se finge para ti.

Porque sou frágil e quebrável aos teus olhos.

Crê que cada uma destas pequenas palavras aqui cravadas hoje são pedaços da minha carne e o sangue ainda me escorre do peito.

 

publicado por Ligeia Noire às 11:54

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