“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

29
Jun 15

 

Haja o que houver
eu estou aqui
Haja o que houver
espero por ti
Volta no vento
Ó meu amor
Volta depressa
por favor
Há quanto tempo
já esqueci
Porque fiquei
Longe de ti
Cada momento
é pior
Volta no vento
Por Favor

Eu sei, eu sei
Quem és p´ra mim
Haja o que houver
espero por ti.

publicado por Ligeia Noire às 15:11
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29
Jul 14

 

07:45

 

Estou no quarto, sozinha, as cortinas não são opacas o suficiente para ocultarem a evidência da manhã que não quero aguentar, antes pelo contrário, são caramelizadas e transparentes.

Foram os melhores dias da minha vida, podia contar-te tudo mas não quero, foi um ritual de luz negra e vermelha de velas que só a nós pertence.

Cheiro-o em todo o lado, arrumo a garrafa de vodca polaca que o pai lhe ofereceu, a de sumo de maçã que comprámos numa pastelaria ao calhas (bolas, como ele gosta de sumo de maçã…) e a de água para o saco de lixo improvisado.

Ali está a toalha, ali, a um canto, deito-me na cama grande e tento dormir, não consigo, deito-me na pequena e fecho os olhos, durmo?

Se calhar dormi, não sei, não consigo respirar bem. Levanto-me um bocadinho, encosto-me à travesseira e fixo os olhos no vestido com que cheguei e que usei ontem também e que está, também, ali meio dobrado na cadeira, ainda deve cheirar a vinho verde branco fresco que nele foi entornado ontem, tenho de usar outra coisa… umas calças talvez, sim, umas calças e um casaco.

Está frio e nevoeiro, agradeço-te Supremo, agradeço-te pelo frio, preciso de acabar de fazer a mala, ver debaixo das camas, guardar os trocos na carteira, ir à casa de banho buscar o champô e a pasta de dentes… não me deixes pensar Supremo, olha, abrirei a janela e o ar matutino far-me-á sentir melhor.

Assim faço.

A vista é amontoada, grafitis por todo o lado, ah como os odeio! Aos rabiscos e a estas gaivotas que jamais se calam e que, em conluio com as melgas, me não deixaram dormir em condições.

Não penses, mantém-te ocupada.

Fomos ao alfarrabista do costume, não tinha os livros que procurava… levei a aparição por um euro, acho que o vou ler na estação, afinal de contas serão quatro horas de espera e preciso de escapar por um pouquinho que seja.

As lágrimas despontam outra vez, maldito sejas espaço e maldito sejas tu também ó tempo.

As gaivotas continuam o seu horrendo crocitar e o quarto parece-me uma masmorra, sinto-me a asfixiar.

Estou tolhida.

Amo-o e tento não pensar muito nisso para que os pulmões não se adelgacem mais… Quero ir embora deste sítio mas não quero ir embora na verdade.

Tenho medo e cheiro-o em todo lado.

Ontem, antes do jantar, não conseguia estancar o pranto, doíam-me tanto os olhos… Deveria brotar sorrisos borboleteantes e caricias doces mas ah Supremo… como me esmaga a dor da partida… sentia ali que não sabia ainda lidar com aquilo que sentia, quão pequena e marginal era eu perante tamanho tormento, tamanha abundancia de impossibilidade.

Ele, silencioso, pôs o telemóvel a carregar e foi tomar banho, tirei os sapatos, apenas, e deixei que a lingerie me constringisse enquanto me enrolava e fechava os olhos para que tudo ficasse bem.

Em cima da cama repousavam os discos que ele comprou umas horas antes e a caixinha vitoriana que me ofereceu, caixinha de madeira tão bonita… ao olhá-la vem-me à memória o entusiasmo da senhora comigo, com ele e com a nossa história. Embevecida contou-me sobre si e sobre a sua paixão por todas as coisas belas e delicadas que tinha na loja e de que eu também gostei muito. Perguntou-me coisas, apresentou-se, ah o sonho americano ainda, suspirou ela (ele zombou quando lho traduzi no caminho de regresso). Ele estava lá ao fundo com o marido dela, Alberto, assim se chamava o dono. O Alberto ia-lhe mostrando velhos leitores de vinil e máquinas de escrever, a esposa Maria mostrava-me nesse instante outra caixinha de madeira com arabescos na tampa e forrada a veludo verde, havia um baúzinho de madeira negra e floreados brancos mais bonito mas ela gostava mais da outra.

 Olhei-o enquanto este se deliciava com a máquina de escrever de teclas brancas que estava encostada à parede numa mesinha. A que a mãe lhe ofereceu de madeira envernizada, clara é mais bonita, mais graciosa, pensava eu.

Ele percebia que eu e ela falávamos dele porque mencionei o seu nome, sorriu em protesto. A Maria pediu que voltássemos lá um dia, assentei e sorri, ofereceu-nos os discos e só cobrou a caixinha, ah as aventuras! A vida que só se vive aqui e uma vez, arrematou com ar quimérico e saímos.

Tudo isto se me revolvia na tempestade que desembocava do peito ao cérebro sem precedentes, enquanto repousava inquieta e em profusão de cabelos.

Ele lia na banheira e eu sentia que ia morrer de sofrimento contido. Tão difícil se nos apresenta a tarefa de desviar a atenção do indizível. Não havia coisa alguma em que pudesse desaguar o pensamento e subsequentemente me fosse abrir as narinas e descansar o peito.

Abri a janela e deixei que o ar nevoeirento e nocturno me abraçasse um bocado e chorei outra vez. Sentia-me partida e infinitamente desolada.

Regressado do banho, deitou-se na cama grande, abriu o livro e continuou a ler, fechei a janela, tentei pensar nas coisas mais banais e aborrecidas de que me lembrava. Ele chamou-me, chamou para que me deitasse ao seu lado, o direito.

Fechou o livro, talvez tivesse lido apenas duas páginas. Era um livro de capa castanho-escura, grosso e volumoso, sobre as aventuras do Crowley na Alemanha, acho, não sei, apenas acho porque estava preocupada, triste e a respirar às metades.

Ajudou-me, pausou-me, protegeu-me, beijou-me, abraçou-me, salvou-me como lhe é apanágio.

Tentámos ver televisão para que o tempo que não queríamos que passasse, passasse porque o tempo tem de, tem sempre de… ir, mover, circular, tic tac, tic tac.

Filme aborrecido de meados dos noventa, filme que me fez lembrar daqueles romances de bolso à venda nas tabacarias. O sono ia puxando as pálpebras, ele foi descansar um bocado para a cama pequena,

O tempo de passar deve ter passado um bocadinho porque acordei sobressaltada com o toque do telemóvel, soergui-me e atendi.

Eram horas.

O coração esquadrinhou-me as entranhas, abracei-o e peguei-lhe na mala mais pequena.

A noite fria e aveludada pelo nevoeiro deu-me um arrepio inesperado, palavras curtas, beijo curto, abraço espartilhado.

Colocámos as malas na bagageira, ele voltou-se, dissemos até breve e abraçámo-nos.

Partiu, foi, ido.

Eu… eu fiquei ali, mesmerizada, arreigada ao chão, cheia de frio com um vestido de chiffon negro pejado de flores silvestres, renda e que ainda cheirava a vinho branco porque tudo estava arrumado e nada mais havia para vestir e, também, porque achei doce acaso ser o mesmo com que o recebi.

Chorei, cravei as unhas nas conchas das mãos e fiquei ali, assim de madrugada, sombria, enquanto um varredor de ruas observava e seguia o seu caminho ao mesmo tempo.

Subi, embrulhei-me na cama e as lágrimas alojavam-se, quentes, no pescoço.

Amanheceu, não sei se dormi, estou aqui e amo-o e estarreço-me, não por ama-lo mas pelo sortilégio que tudo isto é.

E falar do porvir, de rotinas ou pessoas… mareia-me e desola-me.

A tristeza que sinto é só minha e é triste.

Encontrei o filho-da-lua, desatei o laço branco e agora quero dormir, estar sozinha e não me mexer muito porque ele já não está e eu continuo, perduro-me.

 

I will take you away with me.

Once and for all.

Time will see us realign.

 

publicado por Ligeia Noire às 14:41

14
Jul 14

 

From the day
You arrived
I've remained by your side
In chains, entombed

Placed inside
Safe and sound
Shapes and colors are all I see

On the day
You arrived
I became your device
To name and soothe

Placed inside
Safe and sound
Shapes and colors are all I see
Shapes of colors are all I feel

From the day you arrived
I have stayed by your side...

Placed inside
Safe and sound.
Shapes of colors are all I see
Shapes of colors are all I feel
Placed inside
Safe and sound.
Shapes of colors are all I see...
Safe inside

 

Letra de Deftones

 

publicado por Ligeia Noire às 14:31
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11
Fev 14

 

I looked through your frame
and watched death go by.
I move towards her gaze
to catch it by surprise.

It's something new to try
somewhere in the tides.
When we catch our stride,
then you can decide.

Throw me your halo
down the halls of doom.
I'll lead the way
through the combs of time.
Show me your heaven
down the halls of doom.
I'll lead the way
down the combs of time.

Find our way.

Now you know the way
Now you know the way
Now you know you're tied. I expect you to decide.
Now you know you're tied. You can never turn away.
Now you know you're tied. You can never turn around. You can never turn away.
Now you know you're tied. I expect you to decide that you'll never turn away.

It's like heaven in true time, like heaven.

Now you know you're tied.
You will never turn away.
It's your
it's your
time.

Scanning the horizon,
trying to find our bed.
Gliding on the ice,
covered to our heads.
Stranded under ice,
trying to hold our breath.
Scanning the horizon,
covered to our heads.

I watch the dead go by.
I watch the dead get far.
I watch the dead go by.
I watch the dead get far, get far.

Racing against the throes of time.
Try to pretend you know your prize.
Covered in smiles, the lights shine thick ahead.
Hovering in the throes of time.
Hard to resist,
we know it's our time.
Rest your eyes.
Just rest your eyes.

 

 

Letra de Palms/Lyrics by Palms

 

Olá Supremo...

Eu sei que fui e não tenho voltado, eu sei que sou e tenho sido sem te ter dito mas é tudo tão novo e aterrador, não que não soubesses já, mas deixa-me escrever aqui que, pela primeira vez na minha vida, estou perdida e completamente apaixonada.

Não é preciso esforço algum, não é preciso nada e coisa nenhuma, dói e abarca-me a alma, vem de longe, de outros receptáculos, sinto que expludo e dou à luz lírios brancos, amo-o como nunca amei ninguém porque nem sabia que tal coisa existia, pedras preciosas, grutas e montanhas de neve cobertas.

Tive de largar a mão do Cavaleiro-das-Terras-Brancas e chorei lágrimas que queimavam a fragilidade da minha força, cravei-lhe a adaga ali, ali pertinho do esterno e lágrimas rolavam às dezenas dos olhos à boca, dos olhos à boca sem parar.

Continuo a tê-lo no peito, a aquecer-lhe as mãos e a deixar-lhe tudo o que precise mas a minha alma é livre, é flor bravia, sou animal vadio e escondido e o gato cor-de-laranja descobriu-me, finalmente deu comigo e achou-me depois de anos e anos de pés que vagueavam pelo nevoeiro e, agora, dizer Deftones é dizer-lhe o nome, dizer Crosses é dizer-lhe o nome, dizer Nine Inch Nails é dizer-lhe o nome, dizer Poe é dizer-lhe o nome e, dou-lhe o que tenho e, ele, dá-me aquilo de que é feito.

E há vampiros e há música e há livros velhos, e há lonjuras na mesma e há planos de fuga e de voos, há desejos constantes e cabelos entrançados, há ópio e uísque, há pérolas e sorrisos tolos, há peixes e virgens, há coisas do obscuro com que ele mexe e eu quero saber, ver, conhecê-lo como a um conto mas tenho pêlos que se arrepiam, coração que se acelera.

 Há-lhe um passado de vigas de betão armado que eu adormeci e de onde o salvei, porque há o lenhador à beira do rio que me faz tranças no cabelo que refulgem ao pôr-do-sol e há também o libertino sentado na cadeira ornamentada que prepara a fada verde, enquanto baloiço e sorrio sorrisos de ribeira brava.

Deixei de falar aos amigos, de escrever-te, de ter medo, só a música sobejou porque a música também o faz e é sortilégio.

E és tu que desatarás o laço branco, sou tua e tua toda.

Bebo dos teus olhos o inferno e o paraíso misturados e ninguém nos entende e acham-nos tolos e acham-me ainda mais tola e não sabem sequer de onde vieste, riem-se e eu rio por cima em cima e acima de todas as suas vãs colheitas de palavras conselheiras porque nada importa, nada me puxa para eles e tudo me arranca para ti e, a ti, para dentro de mim, sou tua e tua por entre pedras atapetadas de musgo, em ribeira bravia, enquanto tuas mãos celtas me entrançam os cabelos de lusitana.

Amo-te e dizer isto aquece-me todo o corpo, todos os dedos, amo-te e estou apaixonada e é este o Filho da Lua, o Caído, o meu e sempre.

 

 

publicado por Ligeia Noire às 15:28
música: "Mission Sunset" dos Palms
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02
Fev 14

 

Come into these arms again

And lay your body down 
The rhythm of this trembling heart
Is beating like a drum 

It beats for you - It bleeds for you
It knows not how it sounds
For it is the drum of drums
It is the song of songs...

Once I had the rarest rose
That ever deigned to bloom.
Cruel winter chilled the bud 
And stole my flower too soon.

Oh loneliness - oh hopelessness
To search the ends of time
For there is in all the world
No greater love than mine.

Love, oh love, oh love... 
Still falls the rain... (still falls the rain) 
Love, oh love, oh, love... 
Still falls the night... 
Love, oh love, oh love...
Be mine forever.... (be mine forever)
Love, oh love, oh love.... 

Let me be the only one 
To keep you from the cold 
Now the floor of heaven's lain
With stars of brightest gold 

They shine for you - they shine for you 
They burn for all to see 
Come into these arms again
And set this spirit free

 

para C.S.

 

publicado por Ligeia Noire às 02:41
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31
Jul 13

 

Church bells toll
Thunder roars around me
I’ve been warned to prepare myself
For the fall

I’m armed to the teeth with tender pain
Of all yesterdays

Tears on tape
I will follow into your heart
Sketching rain from afar

Tears on tape
She surrenders needle in arm
While we dance into the storm

Darkness falls
Settling the score with love for once and for all


Soaked in blood I cry my farewells

To the summer rain, lonely and afraid

Tears on tape
I will follow into your heart
Sketching rain from afar

Tears on tape
She surrenders needle in arm
While we dance into the storm

And for a moment there’s no pain
For once there’s no more pain in your eyes


but maybe a little love, just enough
To convince us to keep breathing on

Tears on tape
I will follow into your heart

Tears on tape
I will follow you, into your arms

 

Lyrics by Ville Valo/Letra de Ville Valo

publicado por Ligeia Noire às 12:06
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29
Jul 13

 

Estou exausta, ontem cheguei a casa depois do trabalho e só me apetecia dormir até à semana seguinte, por falar em semana seguinte, tenho de ir buscar o vestido, pois é, tenho... e enquanto escrevo as letras que compõem a palavra -tenho- pergunto-me o que me aconteceu... não me apetece mais nada, não quero isto nem aquilo e sabes a melhor?

Agora, cada vez que a flor-selvagem fala comigo, sinto um enfado terrível!

Garantindo a premissa de há uns tempos (que alguns pensavam ser uma defesa acentuada) de que nunca gostei dele como achava que gostava, toda a minha obsessão foi apenas com o sentimento, com o mistério, a periculosidade, comigo e com a forma como o mundo se desenrolava cada vez que me aleijava, escrevi tanto inspirada no que ele me fazia sentir, ou no que eu me fazia sentir, maravilhosa a forma como tudo funciona, maravilhosa.

Sou até capaz de te confessar que nem, ai como lhe chamei aqui... hmmm nada, pois.

Bem, mas nem esse meu amigo me apetece encontrar e dirias tu: «ora bolas falling quão apaixonada te encontras?» e te diria eu: «meu caro amigo, não sei se é do enamoramento mas sinto-me assim e nada posso fazer ou quero fazer.», alheada do passado e do futuro, assaz enlevada, como se me tivesse, também enamorado, pela rapariga que o Cavaleiro despertou, pela forma serena e desprendida com que me trajei para viver aqueles dias, sim eu sei que tenho de ir buscar o vestido e tu sabes o que arrasto quando digo isto.

E há música e a música constringe-me, como um espartilho e como gosto, ah como gosto.

Sinto-me ninada, protegida, escondida, alcançada e tudo e tudo eu me sinto neste lagar, sono de berço.

E, perdoa-me, mas terei de falar do Neige e dos seus Alcest, por mais estranho que te possa parecer, esta entidade, que inicialmente julguei ser o meu ponto mais distante, fez com que abrisse os olhos para a leveza, a serenidade, a fantasia de melancolia doce, o mar, os gestos lentos e educados que eu, uma presa de violências espontâneas que se fazia de adagas e pingentes de gelo, sempre desdenhei.

Essa rapariga de entraves que rejeitava tudo o que lhe parecesse mar calmo e poesia... ah, como essa rapariga abriu carreiros, como essa rapariga se fez fruta madura.

Está agora compreendido o anjo do lado de lá, o anjo cheio de acalmias, sem os movimentos bruscos e as insurreições e rebeldias que esta procurava nos que, apenas, lhe excitavam os sentidos.

Como esta entidade a fez parar e colher flores: rosas e violetas e lírios, até chegar às glicínias sem sequer lhes conhecer o nome.

Pode parecer jocosidade minha, não a encubro, mas há similitudes entre eles. Encetei por carreiro tal, graças a um amadurecimento e perda de peso que só calcar tal carreiro me poderia ter ensinado.

Como sou apaixonada por Alcest, foda-se é maravilhoso, tudo ali é maravilhoso, tenho de lhe agradecer a forma como me abriu os olhos, a acalmia que me proporcionou, o berço, o caminho certo para fora do labirinto...

Há muita beleza nas cidades por esse mundo fora, a arquitectura, as igrejas, as pontes, os jardins, há pessoas agradáveis, coisas bonitas mas nada me atinge como a música, por mais miserável que seja a situação ou por mais eufórico o ambiente, a música é dona de mim.

Não consigo sequer pôr por palavras o que sinto enquanto ouço é como explodir de amor, tenho vontade de anunciar ao mundo como se fosse o evangelho, partilhar a beleza indescritível, deixar que outros sejam abençoados também.

Não sei para onde vou mas sei de onde vim e onde quero estar e continuar.

 

publicado por Ligeia Noire às 11:13
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23
Jul 13


Prelúdio


Enquanto ele lavava as frutas, eu procurava por umas tesouras, não encontrei nenhumas mas uma faca também servia, dobrei a fita ao meio e cortei.

 

Why am I?

Why am I here?

So distant from

My old life?


Está sol hoje, está sol hoje e não sei.

Eu não sei se já tinha sido -aquela- alguma vez... não, nunca.

Fui-me assim pela primeira vez, quero contar-te tudo mas não sei, perco-me toda...

Estava na sacada, o cabelo ainda estava molhado, deixei que pendesse pelo parapeito enquanto bebia cerveja e os olhos se me humedeciam ao som de cada corda da guitarra que ele deixava ressoar.

Mesmo se tivesse querido tentar aquele quadro anteriormente, não o teria conseguido, não assim, não tão imaculado.

 

You see,

I'm waiting patiently

And what this means to me

Nobody ever knows.


Percebi, ali, que as minhas alegrias serão sempre meias alegrias, atordoadas de melancolia e é bom e sabe bem ser assim.

Ofereceu-me rosas de manhã, três rosas, três rosas muito vermelhas.

Às vezes era dia, outras vezes era noite, contemplámos a lua, descobrimos o mar e flores, muitas, as roxas principalmente.

Fomos ali e acolá e eu prometi ir lá e quis que a promessa se tivesse feito verdade já ali, ou então também não importava porque eu era nova, renascida, tudo era diferente e eu não tinha medo, nem sequer percebia porque tinha tido medo quando me senti tão segura depois…

Gosto que ele não use perfume como eu, inebriada sim, aquele cheiro é o mesmo do da última carta, do do último passeio pela cidade religiosa...

No jardim da outra margem, quando ele desenlaçou o cabelo de trigo para que secasse e eu estava deitada no colo dele como se fosse uma reprodução da pietà... pareceríamos duas mulheres a olhos incautos.

Cavaleiro-das-Terras-Brancas é estranho sim, exótico e o trecho join me in death, this life ain’t worth living fez todo o sentido que poderia alguma vez fazer…

Há compreensão em toda a extensão do azul daqueles olhos glaciares e apeteceu-me chorar muitas vezes porque a beleza é assim, triste e avassaladora e de pontas que aleijam a sério.

E dizia-me que compreendia na plenitude o quão verdadeira fui quando lhe disse que era um gato, e chamava-me gata, gata de passos finos e sorrateiros, gata que brinca e esconde os olhos e as mãos nos bolsos dele, gata que não é de ninguém.

Numa das noites que acabava de cair fomos para o pequeno jardim do terraço, havia alemães e americanos e outros e outros e depois havíamos nós, nós sozinhos, ainda com o cheiro dos livros velhos nos dedos, era noite e bebemos muito, e falámos ainda mais e fomos e viemos e brindámos uma última vez.

Lembro-me do castelo, do loureiro, da escadaria de pedra, das ruas estreitas, da água, dos momentos em que parávamos e olhávamos para dentro dos olhos.

Houve até um dia em que fomos dar a um cemitério e, se tudo isto não fosse natural e imprevisto, poderia ter perfeitamente acreditado que estava dentro da cabeça do Poe, musicada pelos My Dying Bride.

Percebes Supremo porque não queria ir embora? Voltar à minha vida miserável, às pessoas que conheço, era como se quisesse ser sempre assim, uma estranha em terra estranha, de braço dado ao Cavaleiro a quem disse o laço branco porque quis, por ser merecedor, por sentir, por derrotar todas as espadas desembainhadas e até o meu punhal apontado ao peito.

 

Have you forgotten

All this beauty

Around you?

All your worries,

Could easily fade

Behind you...

 

Who is pulling you back?

The end is near.

With such...

With her strength.


As portadas escancaradas do quarto enquanto ele enlaçava a fita vermelha nos meus pés…

… Circe poisoning the sea, Sur l'océan couleur de fer, embalavam esta alegria berçal, este querer não ir e querer não me mexer muito para não sentir que estava a perder o orvalho, ah Alcest!

Claro que sim, claro que tinha de banhar a cidade nocturna, nevoeirenta com a voz do Neige, todo o meu corpo se enrolava e escondia ainda mais no Cavaleiro enquanto cantavas: homem nevado...

Houve a My Pain dos Triptykon:


Fall asleep in my arms
Never to wake up ever again

Morning comes as a surprise
To the solitary heart
This world within my mind
Did it ever even exist?

I wish my touch could mend your bleeding wounds
And mark my existence in your time
I fight the impending lure of belated sleep
For fear of waking up and you are gone


Diz tudo, não é?

Mas, curiosamente, foi The Gathering que imperou e perdurou, a brisa nocturna bailava com a voz da Anneke para cá e para lá e fui adormecendo, esperando a bênção de nunca mais acordar.

Não foi luxúria, euforia, tristeza, foi outra coisa... foi desaparelhamento de tudo o que tinha sido até ali, era como se fosse eu, sim, eu, mas eu mais leve, mais graciosa, eu sem passado e principalmente sem futuro, um eu contente, de sorrisos, um eu enamorado, nobre.

Um eu sem ligações, sem conhecer ninguém, um eu que não queria voltar.

Acordar para voltar? Não.

Descobri uma rapariga elevada e cristalina que nunca logrou existir até agora, uma rapariga celestial, mais filha de ti do que outrora alguma vez conseguiu ser.

Sabes, contei-lhe os meus dois segredos, contei-lhe de ti… contei tudo a bem dizer.

Senti-me tão afastada do mundo e de toda a sua feiura, só existiam lírios, gatos, acordes de guitarra acústica e vinho de tantas proveniências, caía-me e caía-me e havia a viagem de comboio com o rio lá ao fundo e a minha cabeça no ombro dele, enquanto os dedos se seguravam às suas mãos como se fosses tu, havia tudo isto a bailar à minha volta.

Misturo os dias todos, ainda é difícil destrinçar, é tudo uma arca russa, um baile sem paragens.

À noite, disse-lhe que estava enamorada, apaixonada, que o amava nas línguas todas que interessavam, não quis saber de depois, depois, depois, depois que se foda... interessava-me dizer-lho e dizer-lho ali.

Chorei por entre o meu cabelo descido e espalhado quando ele estava a tocar sentado na sacada, chorei quando disse que o amava e chorei quando foi embora, chorei três vezes, três rosas, ele levou a metade da minha fita vermelha e eu tive certezas de gelo de que não queria falar com mais ninguém.

E magoa-me que a vida seja tão desajeitada e dura quando comparada àquela que se desenrola quando somos deuses, almas, anjos enlevados e não caídos.

E não sei se fui demasiado egoísta ao pedir que me salvasse mas não pode ser mais ninguém a fazê-lo senão um Cavaleiro de coração puro e alma branca.

Because Circe is always poisoning the sea…

 

к моему любовнику

 

publicado por Ligeia Noire às 14:07
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21
Fev 12


Se há algo que me embala e me descansa, é o simples acto de escovar o cabelo quando está meio húmido e enrolá-lo com as pontas dos dedos.

Ontem, estava numa instituição bancária e sentei-me à beira duma senhora que me perguntou, se já estava na vez dela, disse-lhe que não e ela encetou conversa.

-Fica-lhe muito bem esse penteado, a senhora tem rosto para isso, eu já não posso usar.

-Envelhecemos todos, não é?

-É verdade… já estou quase nos oitenta.

-E deixe que lhe diga que está muito bem.

-Ah e esse vestido cai-lhe muito bem, é muito bonito. Sabe, sempre me disseram que, uma mulher que se arranja, ganha o respeito e admiração dos outros. Hoje em dia a juventude já não leva isso a sério.

-Outros tempos, não é?

-Mas não é viúva é? Gosta de cores escuras, pois.

-É isso. Olhe, chegou a minha vez.

-Adeus, tudo de bom para si, muita felicidade e sorte.

O receio de envelhecer... sempre lhe escapei pensando que morreria antes de lá chegar.

Achas que estive a desperdiçar a vida, o tempo, a pele, os lábios?

Estive a pensar na flor-selvagem, fui mais forte que a vontade e fico feliz por isso.

Apesar de me ter estendido as pétalas, as minhas mãos ficaram guardadas nos bolsos e fechei-o na gaveta.

Talvez noutros receptáculos possamos prosseguir a tingir copos de cristal.

E, mais uma vez, concluo que ninguém pode ser-se em conjunto.

A individualidade e a personalidade são sempre decepadas quando andamos a quatro pés.

O meu cabelo ainda traz o odor de cascas e mel.

Se calhar, Supremo, se calhar era esta a conclusão a que querias que chegasse.

Que posso brincar, abrir os laços, rodopiar em valsas continuadas, enregelar as costas contra paredes marmóreas em embates suculentos de violência mas, não a andar a quatro pés mas, não a ser-me frente a outro par de olhos mas, não a deixar-me desvelar por tempos indeterminados.

Tudo se torna imperfeito na continuidade, tudo se danifica na cadência de dias claros.

Os extremos não podem ser vividos, senão, em golfadas e, eu quero o derradeiro e, o derradeiro é momentâneo como o desabrochar de uma rosa, uma rosa de vida curta mas imensa porque da finitude nasce-lhe a perfeição.

Sou assim, demasiado minha.

Lembro-me de te ter desafiado a provar-me o oposto mas acho que desta vez quem ganha sou eu.

Esta vitória nasceu-me no berço.

publicado por Ligeia Noire às 22:38

02
Out 11


Isso nunca vai acontecer.

publicado por Ligeia Noire às 12:18
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