“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

19
Out 13

 

Os meus amigos, as minhas amigas, pensei neles todos, não são muitos mas também não sei se são bons, talvez a rapariga-que-tem-nome tenha sido e ainda seja a que ainda gosto sem esforços, sei lá... às vezes aquela frase do Chino bate à porta I hate all of my friends. They all lack taste sometimes, acredita que isto tem lá dentro um mundo, acho que temos rios, riachos, oceanos e regatos a correrem desenfreados entre nós, eu e as pessoas, os amigos…

Sim, oiço o Hesitation Marks e, ao contrário dele, gosto e como lhe disse, se as discotecas passassem isto, sairia mais vezes, se bem que hoje em dia, nem mais nem menos.

Mostrou-se agradecido pela minha compaixão para com a sua vida embrulhada, atribulada, de merda vá. Ora, lembrei-me logo, que faz uns meses que rabisquei qualquer coisa sobre a compaixão que não é piedade mas troca de sapatos como na canção dos Depeche Mode.

Dir-lhe-ia que beber mais que dormir não é bom mas já visitei esse buraco e sei que o melhor é fechar bem a boca, porque este é um dos casos em que o ofício de corpo presente faz maravilhas.

Enquanto tudo isto se sucede lá pro meio das montanhas avermelhadas, o cavaleiro branco, arcano, intitula-me de capuchinho vermelho e não sabe de caminhos longos.

E foda-se não quero falar mais, quero dizer que gosto bastante do Hesitation Marks, é o sucedâneo mais que natural ao The Slip e o melhor que um Reznor casado e com dois filhos pode deixar resvalar sem vislumbrar o rato de bigodes encarquilhados que vive na cave.


What a pathetic string of words

Just leave them lying on the floor

The warning posted on the door

Not over here not anymore

There was a place that could have been

Step over all that used to be

Since you've invited yourself in

Some things I'd rather you not see

  

See I keep lying to myself

Don't know what else there is to do

If I could be somebody else

Well, I think I would for you

 

Didn't seem like something more?

So long I can't remember when

And this has happened all before

And this will happen all again

And I only have myself to blame

And I only have myself to blame

  

See I keep lying to myself

Don't know what else there is to do

If I could be somebody else

Well, I think I would for you

Since you have let yourself come in

 

Não sejas tolo gajo, deixa-te estar aí em cima porque, aqui em baixo, é só lodo, só lodo.

 

Wave goodbye
Wish me well
I've become
Something else
Something else, something else
It's just the world

 

All lyrics  or excerpts mentioned here are by Trent Reznor/Todas as letras ou excertos contidos nesta página são da autoria de Trent Reznor


publicado por Ligeia Noire às 10:43

29
Abr 13

 

Ante Scriptum: Oiço a Venus in our blood do Dark Light, não gostei daquele álbum a princípio, queria lentidão, peso, dor pesarosa, queria a atmosfera da For you, a lascívia da Our diabolical rapture, no entanto, fomos fazendo as pazes.

Não é de longe o meu preferido e, sendo melhor que o Screamworks e o Tears on Tape, partilha-lhes duma característica que tenho vindo a notar desde essa altura, as letras.

É curioso reparar que, à medida que a composição musical foi ficando mais up-tempo, sing-along e directa, as letras vão em sentido oposto, complexas, cheias de metáforas, simbologia religiosa, mitologia grega, referências a Poe e Baudelaire, fundura e requinte, se os álbuns inicias eram banquetes de um perfeito amor e morte enlaçados mas com letras relativamente simples e monocórdicas, estes últimos que, musicalmente não me agradam, liricamente são pérolas.

Como se fosse tudo uma piada, como se se estivesse a vê-los sentados em tronos barrocos de uma qualquer torre de pontas aguçadas, onde provam que a voz cavernosa não morreu, nem o baixo lascivo ou a guitarra arrastada, acompanhada de um piano funéreo mas não nos dão a bênção porque não querem, porque não e pronto e eu aceito, se o livre arbítrio foi o único causador, eu aceito.


Intro


Sonhei que o vestido era verde lima e amarelo limão que os sapatos eram sandálias que não serviam e que, por não querer ninguém a pôr as patas no meu cabelo, não tive tempo para o arranjar. A noiva ia descalça e de cabelo aguado, estava sol e o sono nunca mais terminava

Um pesadelo fora do meu comum.

Parvoíces de meia-noite, diga-se em abono da verdade.

O vestido será vermelho e será um fecho de ciclo.


O imbróglio de fitas e atilhos e feixes de vime onde me delibero.


Sexta-Feira:


Doía-me a cabeça mas tive de ir, só conhecia uma ou duas pessoas mas ela ia embora e eu não podia dizer que não. Quando lá chegámos, apercebemo-nos de que não era só um jantar mas uma festa de despedida, até lhes vendaram os olhos, andando com elas às voltas para que não descobrissem o sítio.

Deslocada, ya como sempre mas lá me fui acomodando.

O álcool foi fazendo as honras da casa e consegui viajar para Venus não a que decompõe mas a que está no sangue e, depois, havia aquele gajo, pois claro, já o tinha visto umas duas vezes e já ouvira falar dele trezentas.

Não era o ilustre desconhecido mas os danos e as raparigas que não deveriam ter ficado danosas com ele já compunham uma boa maquia.

Confesso que a culpa também foi minha, vem-me sempre à memória a sacada nocturna de um baile onde a dama de vestido longo abre o leque para esconder o sorriso e realçar os olhos, e fi-lo várias vezes, é o meu desporto favorito, se me desafiam e prevejo algum mérito no opositor/a, não falto ao duelo.

Era numa casa e havia o carrossel da doninha a tocar na aparelhagem:

o bilhete é só de ida -

não há regresso no carrossel

e a starlight dos ingleses, depois um house repetitivo, mais um Bob Marley a preceito e ainda um Michael Jackson caído não sei de onde, ele roubou-me do meio e dançámos, as minhas mãos no rosto dele, contornavam-lhe a boca, as mãos dele na minha cintura, subiam e subiam porque o vestido abria nas costas em lágrima e era preto, pois claro.

Os olhos, foram sempre os olhos que não deixavam o mesmo nível e, pareceram muitos minutos, quando possivelmente terão sido apenas uns segundos.

Havia gente que espreitava como as hungry black eels do Gundersen porque ele não é propriamente livre.

E eu, estou presa?

Não estou presa mas deveria estar porque já prendi o cavaleiro há muito, inconscientemente sim, mas prendi.

Eu gosto dele, eu gosto dele sim, mas sou um gato.

Fomos daquela casa de escadaria de pedra com música mais ou menos audível para uma discoteca mais ou menos odiosa, mais ou menos escorregadia.

Dançar liberta a alma, mesmo que a música não seja a ideal, se fecharmos os olhos podemos imaginar que passa a Head like a hole, ou a Bind, torture and kill e, dentro de mim passava.

Ia ajudando um rapaz doce, amigo da minha amiga a libertar a alma, dançando como uma menina de vestido cor-de-rosa e via-o lá longe por entre os outros e as outras, sentei-me para procurar, como de costume, o elástico do cabelo que me tinha caído, estavam todos bastante alterados, a minha rapariga de cabelos de trigo tinha o cabelo molhado, não me lembro porquê... pouco depois estava no carro com elas, ele conduzia, ia levar-nos a casa.

Durante a viagem ia sentindo a mão dele nos meus tornozelos, ali no meio delas, quando chegámos ele saiu do carro não sei para quê, já não me recordo sei que fui embora e eles foram embora.

Já no quarto ouvi o carro deles a regressar, tive de voltar a descer porque me esqueci do telemóvel, não sei como, a minha mala estava fechada…

Ele saiu do carro, outra vez, e, por entre frases atropeladas e rápidas e o corpo a pressionar o meu, beijou-me as bochechas, comigo fixando os olhos que lhe retribuíam a passividade, beijou-me o lábio superior, meio beijo, meia mordida.

Pareceram muitos minutos mas foram segundos, ou então era o álcool a nublar-me a rapidez do tempo.

Sabia que elas estavam lá dentro, por detrás daqueles vidros do carro e, enquanto o cabelo se desprendia pela milésima vez do único gancho que tinha, desenrolando-se pelas costas, dizia para irem com cuidado e virei costas, fazendo o resto do caminho a correr até chegar à porta de minha casa.

Todo o meu cabelo tresandava a tabaco, tirei a roupa, pus o aparelho no modo aleatório com a minha música, finalmente, e, pela altura em que ela disse que tinha chegado bem, já o sono me roubava altura às pálpebras.


Sábado:


O sol abriu a porta mas esteve fraquito a cama e eu e as missivas de um cavalheiro que me encontrou nem sei como, foram o meu entretimento. Que sentido de humor delicioso, corrosivo, sarcástico, no Domingo foi pela mesma linha, como é doce conversar a sério, com pontos e linhas entendidos na medida inteira.


Domingo:


E, esta madrugada, a flor-selvagem despertou também, levantei-me, encostei a cabeça à almofada.

Algo aqui é mais do que acaso.

É uma informação para ti rapariga do vale fundo, isto tudo mostra-te que estás a usar mais do que um espartilho, estás a enovelar-te toda.

Isto aqui veio dizer-te pelo caminho do capuchinho vermelho que, se calhar, não consegues fazer o que prometeste, se calhar gostar não chega, o Cavaleiro-das-Terras-Brancas vem aí e tu perdeste-te de sentido. Dizias ao das missivas, o do sentido de humor de banquete que, às vezes, precisas de te castigar, não sei o que ele terá entendido, mas os meus castigos são sempre duros e limpos.

Esta continuo a ser eu, livre e só eu, livre e selvagem, livre animal de montes e, só assim, deixo que me tenham.

Não precisas de espinhos e reconsiderações, digo-me, está tudo na mesma, o vestido vermelho com preciosidades negras.


Her heaven's a lie to those who threw away the key
Her god is alive and well in the heart of her beliefs
Will you condamn the river of her dreams,
Or understand the divine word she speaks?

Venus denies your seven towers above dark waters
You can't quench her thirst with the fear hiding away from the day
Venus denies you in your dark waters
The moon kissed the sun and now we hold her in our blood

Her saviour was never on a 
cross pierced with nails
Thirty pieces of silver never retraced her mistake
She'll always be free from the arms of your sins
That made you weak as your world started crumbling

Venus denies your seven towers above dark waters
You can't quench her thirst with the fear hiding away from the day
Venus denies you in your dark waters
The moon kissed the sun and now we hold her in our blood

(She's in our blood)
Venus denies your seven towers above dark waters
You can't quench her thirst with the fear hiding away from the day
Venus denies you in your dark waters
The moon kissed the sun and now we hold her in our blood
In our blood
In our blood
In our blood
(She's in our blood)

 

Lyrics by H.I.M./Letra dos H.I.M.


publicado por Ligeia Noire às 12:22

26
Fev 13

 

Um dia falo só deles mas não hoje, estes cavalheiros misturam-se com muito do meu miolo, são do âmago, os primeiros, os que trouxeram a minha primeira amizade a sério, os que fizeram com que ponderasse a minha nuca marcada numa mistura do princípio do mal no ventre do bem.

Cresci com eles, apoiei-me neles, dancei ao som deles, pronto sabes como é, os músicos de base, os que vêm do jardim do Éden passam sempre para o lado de cá e fazem parte das memórias, dizer que são mais do que música é néscio porque música é mais do que tudo.

A primeira vez que bebi a sério, foi sozinha e aos dezoito anos, até aí nunca me apeteceu e, apesar das comuns incursões no vinho tinto aquando da minha meninice, fruto da tradição, não prosperou.

Lembro-me dessa primeira vez aos dezoito anos, lembro-me de estar a arrumar a sala e me sentir do lado de lá, foi com vinho do porto, esse esteve sempre ligado às minhas mais estouvadas memórias.

Continuo a não gostar de beber, um copo de vodca não me sabe tão bem quanto um copo de água, uma cerveja não é tão boa quanto uma malga de cevada mas, como explicar, há qualquer coisa de bom e de enfeitiçador no travo amargo e forte e violento e arrebatado do álcool que nos faz repetir o gole e, claro, há o efeito, eu não bebo por prazer, não bebo diariamente, nem semanalmente mas quando bebo, presto homenagem a Baco de joelhos.

Não sei porque estou a falar nisto, se calhar é por estar a ouvi-los, se calhar é porque não consigo dormir, se calhar é porque estou com medo de que esta coragem toda passe, se calhar é porque a vida é uma merda, mas isso já o mais tenro petiz atingiu.

Escreveu-me, não me disse que o tinha feito, aquela letra cursiva, elegante, que custa a ler mas que vale a pena como uma boa bebedeira.

Não falou de mim, nem de nada, falou de montes e florestas no Inverno, da nevasca, de lobos, de Nova Inglaterra e dum escritor que não recordo, tenho medo, agora, mas ao lê-lo, sem a cabeça desperta, sorria e sentia a sacarina a encher-me as veias, ah sim, os pinheiros mansos, muito altos também lá estavam.

O cheiro, eia pois... o cheiro do papel não era o cheiro comum de folhas de papel brancas, era o cheiro dele, ainda estava por aqui algures nalguma sinapse e levei a carta ao nariz várias vezes e lembrei-me daquela vez em que estava no autocarro e senti o perfume da flor-selvagem, fiquei aturdida porque era como se ele tivesse acabado de entrar.

O efeito foi alucinatório e assustador porque o aroma perpassava pelas minhas narinas e era mais acutilante do que o que a reacção de qualquer outro sentido fosse capaz de causar, assustei-me.

O olfacto sempre foi o meu sentido mais apurado, não uso perfume, acho que o cheiro do sabão, do champô, do amaciador já são suficientes e apaixono-me com os olhos fechados por malmequeres bravos brancos e minúsculos, aquelas folhas verdes deles que parecem funcho em miniatura, tenho medo de não conseguir suster esta força de vontade por muito tempo.

São tão diferentes, eles, o cavaleiro e o anti-herói.

A amiga que não cabe aqui, a das linhas acima, disse para abrir a mente, anestesiar a dor de pensar, não sepultar o por acontecer com o meu conhecimento milimétrico de mim mesma.

A carta está ali na gaveta junto das outras, eu gosto dele e ele ama uma de mim.

Lágrimas em cassete, gravadas, que belo título hã?

Sou demasiado compassiva para alterar o curso do rio, compaixão é do que sou feita, mas isso são contas de outro rosário.

 

publicado por Ligeia Noire às 00:30
etiquetas: , ,

10
Fev 13


Remember when you were young, you shone like the sun.

Shine on you crazy diamond.
Now there's a look in your eyes, like black holes in the sky.
Shine on you crazy diamond.
You were caught on the crossfire of childhood and stardom, 
Blown on the steel breeze.

Come on you target for faraway laughter, 
Come on you stranger, you legend, you martyr, and shine!
You reached for the secret too soon, you cried for the moon.
Shine on you crazy diamond.
Threatened by shadows at night, and exposed in the light.
Shine on you crazy diamond.
Well you wore out your welcome with random precision,
Rode on the steel breeze.

Come on you raver, you seer of visions, 
Come on you painter, you piper, you prisoner, and shine!

 

Lyrics by Pink Floyd/Letra dos Pink Floyd


Não me esqueci deles.

Tenho estado embrenhada em coisas tão díspares e ando a ler, ei ei ei ando a ler.

Gosto muito desta parte um do crazy diamond, a forma como, da atmosfera estrelada saem –aqueles- acordes de guitarra, sou eu com o Mundo...

Shine on you crazy diamond, brilha e brilha.

Sabes, é como as manhãs odiosas de ressaca de bebidas brancas, é involuntário o desejo de água, do oposto, do fresco e calmo.

Pink Floyd são viajantes, são viajados viajantes no tempo.                          

É por isso que a música é tão difícil de explicar, quando fecho os olhos à artificialidade de compromissos, indumentárias que estão em vias de confecção, de histórias livrescas que leio por curiosidade tonta, fecho os olhos a tudo e brilha luzidio por entre a turvada poeira que aqui claudica.

E as cordas da guitarra fazem-me sentir o mesmo que sinto quando inalo álcool etílico mas dura mais, muito mais e dá-me sustento, como se eu me metamorfoseasse da pedra incolor de quartzo e quisesse brilhar tanto quanto um diamante, louca já sou, falta-me a centelha de coragem para brilhar incessantemente.

Amo-te.

Parecendo franco, o dito.

 

publicado por Ligeia Noire às 12:36

09
Jan 13


Não há nada de bom em envelhecer, exceptuando a proximidade da morte, isto se já não te tiveres matado primeiro.

 

Ya White Pony, é outra delícia, só conhecia o Around the Fur, que me foi dado a conhecer pelo resgatador de rapunzeis, ou então foi aquele disco que gravei do da rapariga que era Joana e não Maria mas compunha as duas na ordem inversa.

Não era dela, era do namorado, claro que era do namorado mas beijei-a na mesma.

Há quem entre no negro só pela pinta e pelo perigo mas tudo volta ao sítio, tarde ou cedo, não me compete a mim mas White Pony não era?

Sim bom, muito, é mais sexo, I feel like more, é nisso, é disso.

 Não sei se os conhecia até aí, não me recordo, há muitas zonas cinzentas por essa altura, álcool.

Eh pá conhecia sim, apetece-me rir agora, porque conhecia sim, a change, a tal da casa das moscas que é precisamente deste álbum e estava num disco que a minha menina, para quem não há nome que caiba, me gravou, afinal o álcool não encobre tudo.

E nas bebedeiras prosseguimos, nesta última vez corrigiu-se, ficámos por lá e bebi bastante, a ressaca foi… foi.

Acordei apenas com o pensamento de que se há algo que tenha em comum com o Bukowski é o ódio de estimação pelos bebedores de fim-de-semana, os da paisagem, quem diz bebedores diz os que se vestem de negro caro por fora.

Não jantei, comi azeitonas pretas e dancei muito, sim muito, já te contei que nunca tinha fumado?

Pois bem, nunca tinha sequer posto um cigarro -tabaco- aceso na boca em todos estes anos de (inserir aqui prefixo que invalide o substantivo seguinte) vida, desta vez estava tão lá que quebrei a virgindade patética.

Deixo sempre as coisas mais fáceis pro fim.

Foi engraçado, a rapariga-que-tem-nome trazia qualquer coisa de diferente, não estava tão serena desta vez, tão delicada, tão bela, quis não gostar dela, porque estava aborrecida com o que já disse nas páginas anteriores.

A dos cabelos de trigo foi brincando com o Rosé e comemos azeitonas pretas e ela contou-nos da poeira estelar e eu fiquei a gostar ainda mais dela, passou à frente, passou sim.

Achei que a rapariga-que-tem-nome fosse mais audaz do que ela e eu sei que no fundo é.

É que ela escolheu outro caminho.

Não questiono o sucesso do percurso, sei que sim mas fiquei desiludida e a gatinha de vestido continuava, e a outra admoestava-a da altitude a que estão as estrelas e eu ria, não sei se pela bebedeira, se pela periculosidade da minha vontade.

Continuámos esperando pela ceia, havia muita coisa à volta e falava-se que era mais fácil despires-te, foderes com alguém de quem gostasses, conhecesses bem, do que o oposto.

Bem, em suma com quem tivesses uma relação, eh pá juro que desta vez não queria estar na outra margem, juro que não queria mas nisto estou e sempre estive.

Já tive esta conversa com mais duas pessoas e chego sempre à mesma conclusão.

Então não é mais espontâneo o mistério, o desconhecido, alguém que, de preferência, não voltes a ver, esteja no mesmo plano espiritual ou com quem não precises criar qualquer tipo de ligação, alguém a quem não tenhas de agradar para além da vontade?

Vêem o que tu deliberas que eles vejam de ti, controlas o que mostras.

Sei lá, aqueles que estimas, que conheces… há sempre coisas a cumprir, a respeitar, rituais… estão sempre ali, as expectativas que tens de preencher, além do mais, a consciência só estorva, há o medo do desapontamento, há o life is short and love is always over in the morning o que valida o desconhecido e o meu pavor de manhãs que se liga ao pavor de relacionamentos porque abolem a individualidade, quer queiramos quer não e manhãs + nove às cinco + expectativas + caminhos sem inebriamentos a granel…

Parou.

Não é regra mas é a abundância.

Deu-me tanto gozo lapidá-la, se calhar ela não é tão parecida comigo como achei que fosse, está a voltar ao plano dos planos.

Cometi o erro de pensar que estava com ele por segurança, fui demasiado obstinada em pensar que ela não tinha vontade de se apaixonar.

E é uma mistura de irritação, de confusão, de saudade que me toma mas que passa porque no fundo ela continua a ser a Mulher Escarlate, tem é medo de a voltar a vestir.

 

Go get your knife and kiss me.

 

publicado por Ligeia Noire às 01:02

16
Out 12


Sabes, sinto-me como a Justine quando se deu conta de que o Melancolia ia destruir a Terra, confortada,

calma, entendida, preparada para a liberdade quando leio Bukowski.

Gosto da palavra melancolia, gosto das letras que a compõem, gosto do som, do significado, da música que

expele…

Revi o filme, como é claro para ti, não sei se fale agora dele, se o misture com o que queria dizer, se mencione o que é importante ou se me cale.

Mas só vejo a Justine no seu vestido branco de devaneio, de felicidade para sempre, de véu incauto e ramo de

pureza, as mamas abastadas e os olhos doentes, se pensar no filme é esta a imagem que me perpassa pelas

pálpebras fechadas, um mundo lá em baixo, com pessoas e mesas e coisas a acontecerem e esta rapariga branca a caminhar perdida pelo labirinto, até perder o vestido, as flores e se sentar a um canto sem querer mais levantar-se.


Pain is strange.

A cat killing a bird, a car accident, a fire.... Pain arrives, BANG, and there it is, it sits on you.

It's real.

And to anybody watching, you look foolish.

Like you've suddenly become an idiot.

There's no cure for it unless you know somebody who understands how you feel, and knows how to help.


(Charles Bukowski)


Haveria tantas coisas lineares para serem ditas.

Direi algumas.

A primeira vez que vi o filme achei que seria uma perda de tempo, um aborrecimento intelectual de menino

riquinho que não sabe o que é ter fome e não ter tempo ou dinheiro para depressões e, na realidade, a

primeira parte não deixou de me causar sarna.


It was true that I didn’t have much ambition, but there ought to be a place for people without ambition, mean a better place than the one usually reserved. How in the hell could a man enjoy being awakened at 6:30 a.m. by an alarm clock, leap out of bed, dress, force-feed, shit, piss, brush teeth and hair, and fight traffic to

get to a place where essentially you made lots of money for somebody else and were asked to be grateful for

the opportunity to do so? (Charles Bukowski)


Afinal por que raio está a Justine tão deprimida?

Talvez a Claire tivesse maiores motivos para não querer acordar, talvez a Claire me assustasse mais enquanto

a Justine me inspirasse compaixão.

Se te iniciares no filme sem nenhum tipo de informação, exceptuando o prólogo, o que vês para além da

limousine com os noivos?

Não me parece felicidade mascarada, parece-me riso genuíno e vontade de seguir, há pois o simbolismo da

grande máquina branca que não consegue avançar naquele carreiro curvilíneo, a metáfora da manifesta

aberração, do elefante na loja de cristais, diria.

Mas sem saberes nada mais, não podes dizer que ela esteja a fingir sorrisos… apenas com o decorrer da festa

te vais apercebendo do miolo e mesmo depois do miolo percebido a felicidade inicial continua a afigurar-se

genuína, talvez indicando que é a intrusão do externo, da família e das concupiscências sociais a causa da melancolia, do cansaço.

Bem, mas ia dizendo que a Justine é uma privilegiada, dá-se ao luxo de fretar uma festa milionária, de se

armar em presunçosa e, mesmo depois do atraso imenso, ir visitar o cavalo.

Diria qualquer um que, estando a doença já num estádio de severidade ou mesmo de catatonia, nada interessa.

O cunhado é descrito como o sovina e materialista do pedaço mas, na verdade, seria um pouco chato gastar

tanto dinheiro e ver a princesinha passarinhando com ar de frete e de obrigação, ora pois, dissesse que não.

A Justine pode dar-se ao luxo de não querer comer, vestir-se ou sequer andar e tem a irmã a cuidar dela, a servir-lhe de gradeamento berçal, Claire que se me afigura tão ou mais deprimida que Justine, não pode e não tem.

Claire é descrita como agarrada às convenções sociais e quejandos mas o que vejo é uma mulher que também

não as suporta, que não tem alternativa, que atura todas as situações e que não tem quem olhe para dentro dela, já Justine dá-se ao luxo de desprezar e de se rebelar contra o que acha ser a ambição desmedida do chefe, a frieza da mãe, a desatenção e irresponsabilidade do pai, dá-se ao luxo de poder não fingir, de cair e ficar caída.

O difícil não é cair, chorar, não se mexer, largar a mão da sacada, difícil é ficarmos agarrados, chorar sem

provas, ficarmos quietinhos e termos de engolir em seco e calçar os sapatos.


I was naturally a loner, content just to live with a woman, eat with her, sleep with her, walk down the street

with her. I didn't want conversation, or to go anywhere except the racetrack or the boxing matches. I didn't

understand TV. I felt foolish paying money to go into a movie theatre and sit with other people to share their

emotions. Parties sickened me. I hated the game-playing, the dirty play, the flirting, the amateur drunks, the

bores. (Charles Bukowski)


Mas eu não detesto a Justine, eu gosto da Justine, eu não sei por que está a Justine doente, isto é, mais do que as pistas que são dadas mas posso usar de muitas miradas e escolher as que quiser e as que escolhi foram as induzidas pelo argumento, um pai que se desresponsabiliza de ser pai (a tal treta de se ser adolescente para sempre) ora bem se se quer continuar a foder, beber, dançar, sair sem dar um ai aos que ficam, então não cases e não procries, sempre fui apologista da salvação na destruição mas individual, sempre, sem danos colaterais porque senão perde toda a validade.

Uma mãe que se mostra intencionalmente fria, dorida e fracassada.

Em suma, o que aconteceu a esta mãe, é o que acontece a todas as meninas que são amamentadas a sonhos românticos, a positivismos de alcofas e a linearidades de percurso, isto é, descobrem que tudo é uma treta e levam com dez doses de realidade de uma vez, ao invés de optarem pelo doseamento controlado.

Ela não foi dura com a filha, ela disse-lhe a verdade.

Esta nossa Justine de vestido branco e mamas espartilhadas trabalha na publicidade, no meio da venda, do envenenamento… cá para mim estando ao lado de um pai que não é pai e de uma mãe de peito seco, juntou-se-lhe a vivência no meio do mundo fabricado onde se enfia garganta abaixo a legitimidade do oco, do pueril, as convenções sociais e boom…


There's nothing to mourn about death any more than there is to mourn about the growing of a flower. What is

terrible is not death but the lives people live or don't live up until their death. They don't honor their own

lives, they piss on their lives. They shit them away. Dumb fuckers. They concentrate too much on fucking,

movies, money, family, fucking. Their minds are full of cotton. They swallow God without thinking, they

swallow country without thinking. Soon they forget how to think, they let others think for them. Their brains

are stuffed with cotton. They look ugly, they talk ugly, they walk ugly. Play them the great music of the

centuries and they can't hear it. Most people's deaths are a sham. There's nothing left to die.

(Charles Bukowski)


Ao lado das suspeições há o factual ódio que ela nutre pelo chefe que se pavoneia como um ser evidente e ambicioso.

Nothing, is too much for you diz-lhe Justine…

E ele desmorona-se desesperado e sai da imagem que faz de si, parte o copo. Será que também ele quis ser um homem ambicioso e materialista?

Será que o Mundo lhe deu o luxo de poder dizer não e continuar a alimentá-lo?

E o noivo?

O noivo faz-me lembrar os príncipes que se vêem a si mesmos como príncipes e, por tal, sentem a

necessidade intrínseca de ter uma princesa que nem sequer conhecem, querem que ela se deixe arrebatar, que sinta o amor dos trovadores e seja a Rapunzel resgatada.


Love is a form of prejudice.

You love what you need, you love what makes you feel good, you love what is convenient.

How can you say you love one person when there are ten thousand people in the world that you would love more if you ever met them?

But you'll never meet them.

All right, so we do the best we can.

Granted.

But we must still realize that love is just the result of a chance encounter.

Most people make too much of it.

On these grounds a good fuck is not to be entirely scorned but that's the result of a chance meeting too. You're damned right.

Drink up.

We'll have another. (Charles Bukowski)

 

Ele pensa que a ama, ele ama-a mas o amor não existe.

Ela quer esquecer a dor, ela quer agradar à irmã, ela quer tentar ser feliz: enganar-se... e quando lhe leva a mão pelo vestido e o provoca e sorri matreiramente e sai e mais tarde não lhe cede à vontade de a possuir acabando por foder com o rapaz que conheceu à instantes no relvado, faz-me lembrar do gajo do Shame.

A primeira incursão, a masturbação, foi o uso do escapismo -o mesmo que se faz com a droga, o álcool e os

demais prazeres- vontade de fuga, por instantes, da dor, da realidade, a segunda foi o castigo.

 

And my own affairs were as bad, as dismal, as the day I had been born. The only difference was that now I

could drink now and then, though never often enough. Drink was the only thing that kept a man from feeling

forever stunned and useless. Everything else just kept picking and picking, hacking away and nothing was

interesting, nothing. The people were restrictive and careful, all alike and I've got to live with these fuckers

for the rest of my life, I thought.

God, they all had assholes and sexual organs and their mouths and their armpits. They shit and they chattered and they were dull as horse dung. The girls looked good from a distance, the sun shining through their dresses, their hair. But get up close and listen to their minds running out of their mouths, you felt like digging in under a hill and hiding out with a tommy-gun. I would certainly never be able to be happy, to get married, I could never have children. Hell, I couldn't even get a job as a dishwasher. (Charles Bukowski)

 

Este homem, agora marido,estava ali, atraente, provavelmente bom partido, amava-a mas não a entendia, nem a atingia, ele amava algo que ela não sabia ser.

Ela, na sua desvontade, na descrença nessa convenção social que é o amor, sente-se culpada, diferente, tudo isto lhe é tão sagaz que o nojo de si mesma, a impureza que sente em si lhe traz a vontade de castigo e castiga-se ao oferecer o corpo ao primeiro que lhe aparece, como se não conseguisse optar pelo caminho correcto, como se precisasse de se danificar, de descer mais.

Talvez fale da segunda parte noutro dia mas deixa-me dizer-te que não me parece que a descoberta do

Melancolia tenha invertido os papéis das irmãs, como se de repente a Justine ficasse curada, parece-me, antes

que vendo a iminência do final do Mundo, deste Mundo donde ela não vê saída, que ela detesta, cheio de maldade, às avessas, é como se visse a luz ao fundo do túnel.

Sente-se em casa neste território de desesperança com o qual sente empatia, reconhecimento, alívio.

Finalmente tudo vai parar: paz.


I was drawn to all the wrong things: I liked to drink, I was lazy, I didn't have a god, politics, ideas, ideals. I

was settled into nothingness; a kind of non-being, and I accepted it. I didn't make for an interesting person. I

didn't want to be interesting, it was too hard. What I really wanted was only a soft, hazy space to live in, and

to be left alone. (Charles Bukowski)


publicado por Ligeia Noire às 11:41
etiquetas: , ,

27
Set 12


In a sea of faces, in a sea of doubt

In this cruel place your voice above the maelstrom
In the wake of this ship of fools I'm falling further down
If you can see me, Marian, reach out and take me home...

I hear you calling Marian
Across the water, across the wave
I hear you calling Marian
Can you hear me calling you

 

To save me, save me, save me from the grave...

 

Marian 

Marian, there's a weight above me
And the pressure is all too strong
To breathe deep
Breathe long and hard
To take the water down and go to sleep
To sink still further
Beneath the fatal wave
Marian I think I'm drowning
This sea is killing me

Was ich kann und was ich könnte
(What I can do and what I could do)
Weiss ich gar nicht mehr
(I just don't know anymore)
Gib mir wieder etwas Schönes
(Give me something beautiful again) 
Zieh mich aus dem Meer
(Drag me out of the sea)
Ich höre dich rufen, Marian
(I hear you calling Marian)
Kannst du mich schreien hören
(Can you hear me screaming?)
Ich bin hier allein
(I am here alone)
Ich höre dich rufen, Marian
(I hear you calling Marian)
Ohne deine Hilfe verliere ich mich in diesem Ort
(Without your help I lose myself in this place)

 

Lyrics by The Sisters of Mercy/Letra da autoria dos Sisters of Mercy

 

Post Scriptum: Como vos tinha saudades, sois como encontrar o caminho p'ra casa depois de passar pelo Inferno descalça.

Ah Marian... abre os ouvidos!

publicado por Ligeia Noire às 13:22
etiquetas: ,

09
Set 12


Abre a tua boca e côa-me a alma, não interessa que o amanhã não exista para nós.

Não interessa que eu:

0, 3, 7 caia compassada a toque de sopros e animares de pó e tu apareças sempre para fotografar os destroços.

Eu gosto da petulância da violência, da tua não conformidade.

Não importa que eu saiba de tudo isto, agora que te olho dentro dos olhos, esses que andejam dentro de pó estelar.

Não importa que eu não te ame, que te odeie, te renegue uma e mais outra vez.

Vim dar no caminho do quero que te fodas e me fodas.

Abre-me a regressiva em estertores e cospe todo o esterco, desintegra-a, mata-a, salva-me.

É o dentro que conta, dentro sempre.

 

When I was surrounded by the world

You were the only one who came
And you were the only one astounded
Which kept me grounded
As the other girls thrashed my very name

Then I looked over
Just in time to see her smiling back at me
And saying everything's ok
As long as you're inside my blue veins

 

Your blue veins

Yeah and the feeling that you gave me
No matter what I do or where I go
It always will remain
And those who would enslave me to get to me, must get past you and will have no luck because you'll protect me from all pain

The most beautiful, yeah the most beautiful thing because anything else can't compare
Must be the blood that's running through your blue veins

 

Your blue veins

And I know you won't deceive me
Like the rest and there's nothing you need to explain
You always were the first one to believe me
When I said to you girl
I think it's gonna rain
But I could be wrong

Yeah... but all of these things
All these things
They're all truly nice but ain't nothing
Ain't nothing compared to the love that's running through your little blue veins

Your blue veins

 

Blue Veins by The Raconteurs/ Blue Veins da autoria dos The Raconteurs


publicado por Ligeia Noire às 10:02
etiquetas:

18
Ago 12

 

I 

 

Já não desce e já não fica e não fica porque não desce, apenas e só.

São pressões no crânio, dores de interferências divinizadas.

Que bela sim continuas, que bela e amenizada em todos os teus traços delgados rapariga-que-tem-nome, e que poderia eu dizer-te, que poderia dizer-te eu?

És a escolhida, sempre foste dentre todas, já o disse, eu sei.

Hás-de de branco vestir-te e hei-de ficar doce de tão feliz por te ver o sorriso aberto. Prezada. 

 

II

 

(...)Yes, shall we take a spin again in business?
This time is fixed, let's sweeten our facilities
It took all the man in me
To be the dog you wanted me to be

Shall we take a spin again, no witnesses?
This time is fixed seven three seven is
You won't feel a thing
Begging until you give it up insane

Fish like little silver knives
Make the cuts on my inside
Yeah, let him feast my heart is big, my heart is big
My blood will slide in metal studs (...)


Agora tu:

Queria, ora pois que tudo em ti fizesse força para que as saliências dos teus dedos se desenvolvessem em garras cheias, pejadas de fomes que não se matam com pão branco.

Aliás, eras tu e o outro tu, e a maioria desses tu, porque ao meu Frankenstein jamais lhe concederia o pó animado, se todo ele não fosse um cão raivoso: o meu licantropo de noites uivadas.

Sei lá porque assim foi... o bloco de notas tem várias linhas que me vão surgindo em dias ocos, ora em noites cheias, linhas que preciso clarear, desenvolver, conter no caderno medicamentoso mas que, por estes dias de coisas de polpa, têm-se recorrido do que guardo nos casulos do crânio macerado.

Houve dois sonhos esta semana de que me lembro, no primeiro estava eu com... numa ponte que abarcava todo um ribeiro pedregulhoso.

Era muito, muito alto, como não poderia deixar de ser, e caiu-me o sapato, o meu preferido, lembro-me disto porque mais uma vez os meus sonhos de preto e branco deixaram mostrar as pinceladas carmíneas que adornavam o sapatinho cinderelesco.

O outro foi hoje, ou ontem, sonhei com aquele mancebo conhecido, gosto dele, havia aproximações reclusas quando um indigente surgiu limpando o rosto a um lenço de pano que ia tingindo de sangue quente.

O lenço metamorfoseava-se em imundície, mancha pecaminosa, doença e coisas de atravessar a rua para o outro lado.

Atirou-o para o caminho de pedrinhas acasaladas e foi-se.

As aproximações não continuaram porque o lenço fazia, agora, as honras da casa.

Canta 3D... os segredos todos: 

 

Atlas Air

 

Yes, shall we take a spin again in business?
This time is fixed, let's sweeten our facilities
It took all the man in me
To be the dog you wanted me to be

Shall we take a spin again, no witnesses?
This time is fixed seven three seven is
You won't feel a thing
Begging until you give it up insane

Fish like little silver knives
Make the cuts on my inside
Yeah, let him feast my heart is big, my heart is big
My blood will slide in metal studs

Tourniquet will hold its groove
Tourniquet will keep its grip
It took all the man in me
To be the dog you wanted me to be

Yeah, let him feast my heart is big
My heart is big, my blood will slide
You let him feast my heart is big
My heart is big, my blood will slide

Got nothing to lose but my chains
Internet feeds on my brains
Head in the sand, feet in the clay
And time is still like grease it slips
Sucking in, spitting pips, yeah, spitting pips

Nothing to lose but my chains
Internet beats on my brains
Head in the sand, feet in the clay
A place to piece, a place to pray

A little money should get me on my feet
This gun of smoke is slaying me
And time is still like grease it slips
Sucking in, spitting pips, yeah, spitting pips

My heart was big and like my pride
Let them feast on my insides
And when the filled had spilled its guts
Gently open then it shuts

I'm in the hole three thousand days
A buried soul
They live the dream in terminal
No war too mean

I know the drill, got cells to burn, I'm dressed to kill
A mortal coil and time is still on secret soil
Yeah, pay the bills, cells to burn, mouths to fill
On Boeing jets in the sunset make glowing threats

 

Letra dos Massive Attack/Lyrics by Massive Attack

publicado por Ligeia Noire às 15:42

01
Ago 12


Foi ontem.

Sim, foi ontem que quis ser o teu brinquedo e é hoje, sim, é hoje que deixo o nevoeiro do torpor dopamínico, que deixo de saltar à corda de meias de linho que prendem nos joelhos com laços turvos.

E, enquanto abríamos a garrafa na mesa de madeira do jardim principal, lá longe, grupos de rapazes e raparigas inundavam o orvalho leitoso de cannabis e sons de rua madrasta.

Eu pensei, eu sim, de que gostava muito que tu me pudesses ou conseguisses ou quisesses ver como coisa de brincar.

Um objecto ornamental, quebrável, bonito, de pôr na arca aos tombos, na beira da lareira hirsuto, ou na madeira escura e envernizada de uma mesinha-de-cabeceira quando se tem um corpo crescido.

Pensei, também, que ser bailarina de sapatilhas finas numa caixinha de música seria bonito, às vezes... mas que, também, me faço de extremos geografados onde qualquer objecto pequeno de atirar, rodopiar, vestir despindo ou construir desmembrando, seria uma escolha feliz.

Tu, especialmente, tu serias o apenas Homem a quem as palavras rudes e desinteressadas, de quem veste casacos negros e camisas de punhos laçados com o efeito secundário de desviar os desatentos, me interessava ouvir.

Não gostei do que se bebia e acordei a horas indecentes para perceber que não és dos que brinca ou dos que brincou.

Quase que vejo todos os teus brinquedos cheios de pó e por partir em caixas pelas quais não te interessas, caixas por abrir ou, então, nem sequer existem, se calhar as caixas estão vazias, se calhar até sei o que lá está dentro.

Tenho uns sapatos novos, de preto imaculado e brilham, brilham, brilham, sapatinhos de menina, com fivelas e presilhas prateadas, e, por altos serem, me prenderam a distâncias calculadas.

publicado por Ligeia Noire às 11:22
etiquetas:

mais sobre mim
Agosto 2015
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


Fotos
pesquisar
 
arquivos