“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

02
Mar 14

 

 

Escrever a sério, aqui, já não o faço há uns meses e, quem diz a sério, diz escrever sobre mim e eu e a jornada do mim e do eu pelo infinito dos dois lados da moeda.

Vou aproveitar que estou sozinha para te actualizar no balancete deste mês.

 

Oiço ††† e gosto muito e talvez devesse ter posto a roots, bloody roots para se coadunar com a dissimulação de meia-noite que me tem cansado as retinas de ambos os olhos e os neurónios de um só cansado cérebro.

 

 I

 

Ora, que o conhecimento não nasce de geração espontânea já todos sabemos, que não há nada de novo debaixo do sol mas apenas o reinventar do já inventado também mas o aproveitamento da mão que alimenta, de quem desviou a cortina do sol, do suga, suga, vá lá suga do corpo suculento até não servir mais qualquer propósito, abana-me aqui qualquer coisa por dentro, causa-me um certo nojo que consegui, até agora, conservar na maturidade e na desvontade de me preocupar com petizes que nada sabem de ter fome.

Acontece que já ultrapassou o limite do aceitável e, não é que vá fazer muito, mas pelo menos escrevinhar aqui perfaz um propósito jeitoso.

Uma vez que, os abutres são prolíferos em detectar carne podre e, em último caso, abre-lhes o apetite para tentarem o exame de consciência.

Não há nada de mal em ser-se cá fora quem se é no resguardo do quarto.

Mas ser-se a sério, não fingir que se é sob uma máscara de vida espinhosa e negra.

Há o aproveitar de oportunidades, o recolher de informação, o descobrir e o abrir alas à genuína vontade de querer saber e, depois, há a vampirização da carne tenrinha e disso… eu não gosto.

Ah Supremo… como aprendi com tudo o que podia arrastar para a minha beira, como desbastei o caminho sozinha, sem ter quem me mostrasse aquilo que valia a pena, quanto tempo perdi em coisas inúteis, pessoas inúteis, caminhos infrutíferos mas a vida é sábia e aprende-se com o analfabeto e com o douto, aquilo que somos capazes de receber, diga-se.

Cadernos e cadernos que escrevi…

Hoje pouco escrevo à mão, a não ser cartas para amantes e amigos e até essas raras se tornaram… mas escrevia e foi assim que aprendi a desatar os atilhos à alma.

Não havia words ou googles para nos mostrarem sinónimos elaborados, frases barrocas, last fm’s que nos sugerissem bandas similares e me cultivassem a alma à pressão, quanto mais bibliotecas ou dinheiro para livros ou, ainda, pessoas à minha volta que me inspirassem a vontade de as descobrir, bem dizia a senhora de negro que as almas dos iguais nunca estariam perto, que teríamos de procurar e procurar e assim foi…

Porque em mim sempre houve o fascínio, a honra, o mistério, a curiosidade de conversar, de conhecer pessoas que me dessem de beber e de comer mas do outro lado… do outro lado há vampiros de almas como ela lhes chamou…. Sentem-se interessados, cativados como a traça pela chama, ao ponto de querer sugar-nos a alma e vestir-nos a pele, sim usurpar e já estás em terceiro lugar no ranking de pessoas que o tentaram fazer.

Confesso que não há mais do que pena e condescendência com tais indolências.

De uma delas, não guardo remorsos, era menina e fazia-o por imaturidade e descoberta, depressa percebeu o caminho certo, não foi por mal, não teve importância, perdoei e pronto.

Já aqui disse, e mais do que uma vez, que todos os disfarces, epítetos, alcunhas e demais floreados que uso por nomes, lugares ou demais vontades são meus e existem porque deles preciso e assim os criei à imagem e semelhança de seus originais donos, não porque fique bonito, misterioso, inteligente, laborioso ou porque me conceda uma certa aura enigmática mas porque, se se faz sem propósito algum, ou glosando o vizinho e ficando-lhe com os louros, é apenas medíocre e para além de medíocre é oco e também inútil e escrever coisas inúteis e supérfluas é ser-se supérfluo também.

Um amigo, que um dia descobriu este caderno medicamentoso, concluiu nada disto entender mas que provavelmente esse também não seria o propósito do escrito e que, todo este labirinto de palavras, seria decerto entendido por um alguém como língua materna.

Ora aí está, eu preciso de escrever, se não precisasse, não estaria aqui.

Não sou clara porque gosto de brincar com as palavras, porque me dá gozo usar os termos que cresci a ouvir na minha aldeia, porque me dá gozo criar teias de aranha propositadas, porque me traz conforto, porque adoro letras e porque, em último caso, é assim que sou.

Às vezes dou erros e volto para corrigir.

Às vezes o que escrevo tem destinatário, como as cartas, a maior parte das vezes sou só eu e os grãos de milho que se escondem por debaixo dos meus joelhos.

Às vezes escrevo sobre pessoas ou sítios, outras sobre o passado, outras sobre o passado outra vez e, muitas, sobre mim.

Tudo me faz sentido, tudo saiu daqui: destes dedos, deste cérebro e todas as linhas que escrevi desde dois mil e seis são-me páginas abertas e de todas elas sei onde estava, o que queria e do que falava, não escrevo para me ostentar e o que escrevo não impressiona e isso não importa porque não falta quem escreva, não falta quem saiba, não falta quem respire, não falta quem deambule.

Gosto das histórias aparentemente simples, frases e textos que se podem ler como se fossem aquilo que não são, Ágota e Kundera ou até os vampiros da Anne Rice.

Eu gosto de ser-me, gosto muito de ser eu e a isso não se pode fazer ctrl+t.

Gosto de ensinar, de dar a conhecer, de dar a mão mas odeio que me façam de idiota e detesto mostrar as minhas pérolas a quem só se interessa pelo seu brilho.

Tenho consciência de que muito do que escrevo é hermético e tenho consciência também de que muito do que escrevo, numa tentativa de escapar ao sofrimento, acabou por parecer bonito, acabou até por ser bem escrito mas é só isso e sinceramente não me importo, nem pouco mais ou menos.

Nunca foi por aí e nem nunca será e nunca é uma palavra bonita.

O vale fundo é a noite do começo foi mais uma página, bom, não foi mais uma página, foi a página que encetou este novo endereço.

Tentei fugir principalmente desses vampiros de sinónimos mas eles também se sabem transformar em nevoeiro e resvalar por debaixo da porta…

Não se é negro porque sim, é-se negro porque não há outra maneira de ser.

Encontra-se a negritude porque nos coadunamos com ela, porque assim somos, há dor e há sofrimento verdadeiro, não são apenas cigarros fumados para dar segurança, baralhos de cartas usados por vaidade ociosa, vermelho e negro e rosas porque ela gosta e ah e tal então é bonito, música sagrada que se empilha para mostrar o sofrimento e o trabalho que não foi nosso, nem caiu sobre nossas costas.

As bandas, os livros, as histórias surgem da vida a que se sobrevive, do trabalho que se odeia, da escola que se abandonou, das batatas que se ajudou a semear, dos incêndios que nos fizeram adensar as olheiras com medo de morrer queimado, das uvas que se vindimou, da erva que se cegou, das chapadas que se sentiu, das lágrimas que se engoliu, da fome que se acalmou com sandes de nada, da roupa que se imaginou e se improvisou, dos calos que se ganhou, do cabelo que protegemos desta vida pobre e desesperançada e que lavamos em água gelada porque não há quente.

E descobre-se o Manson porque tem raiva e desapego ao mundo como nós, e este leva-nos aos NIN que têm dores de alma que se carpem a menear a anca, embebidos em álcool de que o corpo já não aguenta pouco mais do que um copo, a Diamanda que nos diz, nos mostra a beleza de um rosto mediterrâneo, duro, com carácter, assustador por vezes, coisas negras, coisas feias que ficam por anos, que não se honra e gosta para se mostrar mas que se guarda e experimenta no quarto à luz de velas porque é ritual e ninguém compreende.

E há os finlandeses HIM que enovelam o amor e a morte adocicando o veneno para que não se tenha medo de o provar e que só lá pelo segundo gole nos dão a perceber de que é tudo menos seguro.

E os Nefilins que são sagrados e sagrados permanecem e nada há que escreva que lhes possa fazer jus.

Olha os Deftones! Que se encarnam e descarnam, porque tudo neles é carne.

Há Alcest de verde, azul e lilás floresta e magia e tudo isto remetendo para a mais pura e casta acepção das palavras usadas acima.

Haveria tantos e tantos, tantos que surgem de viver, de andar aqui neste mundo e recolher as pedras de quartzo que se metem ao bolso porque foram vistas pelos nossos olhos, ou ofertadas pelos que nos respeitam, não roubadas ou mostradas a outrem à mercê de pontos para subir mais um nível.

Aquele professor tinha razão mas como diz a senhora de negro, tudo se aninha, tudo volta ao lugar devido.

E já que nela falo, também posso mencionar de levezinho todos os que inadvertidamente me ensinaram e abriram portas, sem que eu lhes incomodasse o trabalho de ser.

A ela, a de sempre, a que começou tudo a Katrina, a madrinha do gótico, a gótica lusitana primeira, o Lord of Erewhon, ninguém escreve como ele, ninguém sabe o que ele sabe, pela primeira vez senti o quão alto se pode ser e mesmo assim deambular inocuamente pelas margens do Douro e o Goldmundo que me mostrou ribeiras de ser em palavras simples e pequenas.

Podia escrever e escrever e escrever sobre estas três reais personagens com quem muito aprendi mas será a primeira e última vez que as menciono porque sim e porque de onde venho não importa.

Não me apetece compartimentar o texto desta vez, é tudo assim e é tudo o que quero por agora. Despejar aquilo que já andava a remoer há uns tempos: a última erva daninha pois, infelizmente, as ervas daninhas gostam da minha terra, do meu pasto de nutrientes há anos!

Conheci mais destes vampiros do que dos vampiros existenciais ou libertinos das histórias mas já sou crescida e nada me mete medo que não sejam doenças e falta de dinheiro.

II

 

Oiço ††† e continuo a deleitar-me, ele diz que a composição no cd ficou demasiado polida em comparação com as demos mas eu não percebo nada de processos de gravação, ele é que é o músico, ele é que é o entendido.

A minha vida continua uma merda, a diferença?

Não me importo, não quero saber, pouco falo com os amigos e o que falo, confesso ser a maior parte por obrigação.

Não sei se é por estar apaixonada mas tudo se me mostra agora desnecessário, desinteressante e mundano.

E este estado de alma que sempre me perseguiu, este não sei quê, não sei porquê, vindo não sei de onde que me atormentava, tão sagrado quanto o Elizium dos Nefilins, tão sagrado como lírios, narcisos e violetas, encontrou ninho.

Isto é puro e raro e, Supremo, se te falasse de todas as coincidências que não são coincidências, do conhecer para além do tempo e dos receptáculos onde estivemos…. Mas não importa porque não interessa a ninguém mais do que a nós, ao resto só daria sono e aborrecimento, como me daria a mim se mo contassem.

E eu gosto assim, deste segredo e vivência que mais ninguém compreende, nem eu preciso que compreenda…. Faz anos daqui a uns dias, ofereci-lhe um pendente celta como ele gosta e escrevi-lhe muito e lacei com fita branca o que escrevi.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

publicado por Ligeia Noire às 02:48
música: "Bi†ches Brew" dos †††
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08
Fev 13

 

CYRIL (coming in through the open window from the terrace). My dear Vivian, don't coop yourself up all day in the library. It is a perfectly lovely afternoon. The air is exquisite. There is a mist upon the woods like the purple bloom upon a plum. Let us go and lie on the grass, and smoke cigarettes, and enjoy Nature.


VIVIAN. Enjoy Nature! I am glad to say that I have entirely lost that faculty. People tell us that Art makes us love Nature more than we loved her before; that it reveals her secrets to us; and that after a careful study of Corot and Constable we see things in her that had escaped our observation. My own experience is that the more we study Art, the less we care for Mature. What Art really reveals to us is Nature's lack of design, her curious crudities, her extraordinary monotony, her absolutely unfinished condition. Nature has good intentions, of course, but, as Aristotle once said, she cannot carry them out. When I look at a landscape I cannot help seeing all its defects. It is fortunate for us, however, that Nature is so imperfect, as otherwise we
should have had no art at all. Art is our spirited protest, our gallant attempt to teach Nature her proper place.

As for the infinite variety of Nature, that is a pure myth. It is not to be found in Nature herself. It resides in the imagination, or fancy, or cultivated blindness of the man who looks at her.


CYRIL. Well, you need not look at the landscape. You can lie on the grass and smoke and talk.


VIVIAN. But Nature is so uncomfortable. Grass is hard and dumpy and damp and full of dreadful black insects. Why, even Morris' poorest workman could make you a more comfortable seat than the whole of Nature can. Nature pales before the furniture of "the street which from Oxford has borrowed its name," as the poet you love so much once vilely phrased it. I don't complain. If Nature had been comfortable, mankind would never have invented architecture, and I prefer houses to the open air. In a house we all feel of the proper proportions. Everything is subordinated to us, fashioned for our use and our pleasure. Egotism itself, which is so necessary to a proper sense of human dignity' is entirely the result of indoor life. Out of doors one becomes abstract and impersonal. One's individuality absolutely leaves one. And then Nature is so indifferent, so unappreciative. Whenever I am walking in the park here, I always feel that I am no more to her than the cattle that browse on the slope, or the burdock that blooms in the ditch. Nothing is more evident than that Nature hates Mind. Thinking is the most unhealthy thing in the world, and people die of it just as they die of any other disease. Fortunately, in England at any rate, thought is not catching. Our splendid physique as a people is entirely due to our national stupidity. I only hope we shall be able to keep this great historic bulwark of our happiness for many years to come; but I am afraid that we are beginning to be overeducated; at least everybody who is incapable of learning has taken to teaching, that is really whatour enthusiasm for education has come to. In the meantime, you had better go back to your wearisome,uncomfortable Nature, and leave me to correct my proofs.

 

Post Scriptum: Óscarzito foda-se que filho da puta me saíste, já tinha tido um vislumbre no de profundis, aquilo é demasiado melodramático, apesar das boas ideias que por ali se apanham, a maior parte é demasiado amanteigada, melosa, o amante amargurado, as comadres zangadas, enfim.

Para um dândi, bem que na tua arrogância te deixaste pisotear por um miúdo ranhoso.

Se bem que, na altura, aprendi a aceitar que lá porque não me coaduno com o amor, não tenho o direito de julgar os que ficam sob o seu domínio. 

Mas isto não podia deixar passar em branco, então colocas-me um gajo com nome de gaja, aborrecido que só ele, a mandar bitaites sobre a Natureza?

Mas de que berço de oiro saltou este?

Não consigo ficar calada, não, não posso.

Sei que o ensaio é sobre a arte de mentir, o ardil mas se queres que te diga, nem liguei nenhuma ao teor da cena.

Este Vivian faz-me lembrar os intelectuais da minha última escola, cheios de pejo e arrogância e respostas que nunca mais acabam.

Aborrecidos, laboriosos, artificiais, feios, acima de tudo feios.

Agora a ti, ó texto, a Natureza é mais do que tudo.

É perfeita.

É divina, é misteriosa, insondável, criadora, começo e final, se isto fosse um jogo de submissão, que não é, seriamos nós, sempre, a baixar as costelas.

Sempre achei a arte filha da Natureza, o mais perto que o ser humano conseguiu alcançar da Gaia mas atestar que ela é monótona, incompleta?

Mas algum dia, porventura, conseguiríamos fabricar, um décimo da beleza da urze, numa qualquer pintura, seja ela qual for?

Como pode ser monótona?

Talvez para aristocratas, leitosos e artificiais que perdem a individualidade só porque se misturam na urbe.

Ora, se só sois capazes de tal dentro de portas, toca a laçar a corda.

E sim, ela é cruel, desconfortável e pejada de bicheza preta.

Rua!

Ousar, sequer, que as construções humanas são-lhe equiparáveis é perfeitamente ridículo.

Nada existe de mais sublime do que um ramo de lírios-do-vale, do que um gato espreguiçado ao sol, do que um céu siberiano estrelado, do que a tundra, do que o quartzo, do que água de ribeira, do que carvalhos, teixos, do que munha a atapetar o chão, do que bugalhos, foda-se, assentir que um quadro, uma cadeira estofada, um poema, uma casa vitoriana ou eu sei lá mais o quê se lhe sobrepõe....

Vai lá ao berço procurar o lanho que te deixou assim.

Ela não tem de ser confortável, sabes porquê?

Simplesmente porque não é tua escrava, porque é independente, porque se há cancro no Mundo, se há alguma coisa imperfeita, cimentada, feia, corrupta, somos nós.

Ela não tem de nos apreciar ou agradecer mas de onde caralho tiraram isso?

Para ela não somos mais do que gado diz o Vivian ofendido, olé mas tu achas-te mais do que o gado?

Por que haveríamos de ser, querias sentir-te o quê Vivian?

Querias que tudo se vergasse à tua insuperável presença?

Ainda por cima, tudo o que fazemos é fodê-la mas bem que iremos retornar ao pó e ela há-de cá ficar.

Quanto mais conheço as pessoas mais aprecio os animais, olha que bem que fica aqui este chavão.

Não, não sou pagã, nem hippie, nem wiccan, nem nada, tenho apenas um par de olhos limpos.

Tinha de escrever, tinha de desabafar, senti-me ultrajada, enervada, gosto da tua forma de pensar, gosto do dandismo, da arrogância de ser, da decadência, do prazer no escapismo, do rouxinol da rosa de sangue, do abuso dos prazeres vedados, da luxúria, do sarcasmo, da imoralidade, da brincadeira de brincar mas nunca acima da Natureza, o sagrado contempla-se e não se blasfema, hoje perdeste e não quero saber.

Se a arte lhe está tão acima, então eu odeio tudo o que é a arte, até ao tutano!

E ressalvo a música, puxando-a por um braço para fora da gaveta.

 

 

publicado por Ligeia Noire às 13:10
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23
Jan 13

 

Sim, já sei, já sei…

Tenho de cortar na acidez mas é mais forte do que eu.

Estou cansada de discussões, fisicamente cansada, tenho a garganta arranhada e o frio é tanto que me doem os dedos.

O resto, os destroços que andam por aì às voltas, meu, a sério... antigamente costumava franzir o sobrolho e dar-lhes uma fatia de broa barrada com a condescendência da idade, agora que se me acabou a paciência, só me apetece subir-lhes pelo esqueleto e cravar-lhes os dentes na carótida.

Mas o sangue deste não me interessa.

Já aturei uma parasita da mesma linhagem e como sou toda inteligência, estava quase a guardar outro no bolso.

A pontaria. Irra!

Faz-me lembrar daquela moça de cabelos claros que me detestava porque eu não era padecente, tapete, sorrisos, ena!

Ei ó, sabias que sou pobre?

Detestava-me sei lá porquê…

Não porque me vestisse de forma a ofender-lhe a vista de moça simples e simpática e responsável e mais umas lascas de virgem ofuscada.

Vista essa, que no escuro do quarto cor-de-rosinha, lhe mostra uma rapariga mais válida do que os palhaços, ah pois ouvi sim.

Vê lá se um desses velhos, carecas e de nariz vermelho não se senta na cadeira almofadada disposta do lado esquerdo da tua cama e fica a ver como se coadunam as suas pestanas com as tuas bochechas…


Buuuuuu!


Longe de mim querer comparar-me ao reverendo americano mas lembro-me de acharem que ele se ofendia muito quando o chamavam de palhaço em busca de atenção…

Recordo-me de um festival lá p´ra Mourolândia, em que correu o rumor de que ele teria entrado num café local, isto na altura da era doirada do grotesco.

Quase que o consigo vislumbrar vestido com aquele pungente fato de vermelho sangue e de cartola laçada a condizer pedindo uma bica… imagina o quanto se divertiu…

Percebeste o que quero dizer?

Estes fulanos ficam sempre à porta do que desdenham e não há problema nenhum porque não foram convidados a entrar mas, então porque vos comportais como se conhecêsseis o que está lá dentro?

Tudo lhe parecia exuberante porque ela me vestia com a infantilidade que, presumo, ainda agora lhe perdurar no polegar em que chucha à noite.

Mal lhe sabia o nome e ela fazia questão de faiscar os olhos sempre que lhe tapava o sol.

Esqueceram-se de lhe dizer, lá naquela família perfeita e cheia de amor que ela acha que tem, que nem tudo o que luz é oiro, ó fofinha.

É como o pântano que na sua exuberância uterina não despreza a singeleza da tona.

Ou seja:

Não é porque usas calças de ganga e camisola estampada, que o nariz vermelho não se esconde aí na tua mala de mulher moderna.

Se soubesses como é divertido usá-lo…

Vês Supremo, eu sou boa é a instilar repulsa.

É que eu até a achava harmoniosa.

Era mais numa de veneno-de-cobra-cura mas ah e tal foda-se, já escrevi demais sobre coisas de adolescentes mas isto vai dar naquilo e ah e tal quem manda aqui sou eu (voz do Drácula português do Edgar).

Não assinei contrato nesta coisa do negro mas sabia que haveria os das visões súbitas a fazerem de mim mais do que aquilo que alguma vez fui.

Ó pá pronto, até é giro, parece um filme do homem loiro.

Isto de falar de ninharias quando tudo o que me rodeia é a luxúria, a carnalidade e a vontade que são estes Deftones é um pouco enlameado.

Nem tão pouco dá para ir lá atrás buscar seriedade.

Não consigo pensar, senão de forma cíclica.

Era de espetar aqui as letras todas, não era?

É muito amor.

 


Complex
Priestess
Come down
Contact
Reach us
Go wild

I've chased your name
I've sailed
All through space
To watch this

Come down
Teach us
The rules
Your concept
It keeps us
Provoked

Remove your veil
Let me light you up
I'm on your team

Let's go

Face to face
Light stare
My custom made
Nightmares
Armed with teeth
In fashion
Now all we need
Is action

Complex
Priestess
Come down
Contact
Reach us
Go wild

Remove your veil
Let me light you up
I'm on your team
I'm the antidote
The rocket's taking off
Tonight
It's time

Take me
I'll light you up
Take me
Up

 

 

Royal by Deftones/Royal da autoria dos Deftones


publicado por Ligeia Noire às 23:40
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10
Out 12


Prólogo


Não se preocupem crias malnascidas que vossas mercês caberão todas por aqui, é só o tempo de deixar que a música, a minha mais abonada musa, me conceda sangue líquido.


O reino de dentro: parte I


Há que iniciar olhando para mim, nunca para o alheio porque eu sou eu e os outros são esterco, ora aí está o que lhes havia de dizer todos os dias. A ânsia de ter de escrever e não poder, não ter tempo ou espaço fez com que tudo se aglomerasse: cordões, meias e sapatos.

Eu sei o que fazer comigo, não sei o que fazer é com os outros, os mirones.

Estou muito cansada, o meu corpo está muito cansado, a minha cabeça não, a minha cabeça não dói, ao contrário do que disse ontem e anteontem e antes de anteontem. Não foi bem mentir… ela doía de maneira diferente, doía de os ouvir mas já arranjei contendas suficientes para um fim-de-semana, tenho de controlar a violência e abonar a hipocrisia, ó coisa tão boa, se soubessem que é isso que os outros querem, ser enganados, elaborados no desenho, ninguém quer saber de verdades, as verdades são tão verdade não é?

Ó que coisa feia e imunda saber agora de verdades, ainda por cima dessa boca que não fala coisas iguais às outras bocas, dessa garota arrogante e com fundações no início do Inferno, lá na primeira caleira.

E que feia que ela é, e como queríamos saber o que está dentro daqueles olhos e daquele rosto opaco quando ela olha e não fala e quando fala mas nada diz do que lá está enterrado.

 

O estábulo

 

Lembras-te do gajo de cabelos loiros, aquele das indumentárias de régua e esquadro que eu via na…?

Nunca mais o avistei mas encontrei um que se lhe assemelha em tudo... mas no nosso espaço cruzado só têm existido olhos, às vezes não sei se o quero desossar ou comer sem condimento algum.

Detesto as conversas deles, os rostos deles, a forma como lançam os olhos da janela, aquilo que pensam conhecer de mim.

Se calhar, isto que pensei quando estava cheia de entremeadas e dores de alma, não foi uma boa ideia.

Não sei de quem tenho pena, se de mim por não os entender, se por eles… pelo que têm de desarmar.

Não é soberbia de personalidade superior, é curiosidade e até mesmo tristeza por não me conseguir moldar ao seu mundo, ao seu campo de visão, é como se estivéssemos na Alemanha do muro, na China da muralha, na cama entorpecida do casal desaparelhado.

Vivo neste interregno de não encontrar o meu povo e de não me conseguir ajustar ao de outrem.

Vivo a vida comezinha com um vestido que não me serve, desconfortável.

Há vezes em que me asseguro de que não haverá esse encontro com o meu povo e há, também, as outras vezes, aquelas em que acho não me saber consignar aos demais e, mesmo que não possa ser aquela eu, aquela que sou em completude, posso viver as outras três, as que me são em parte.

Que pena que essa bacoquice do amor não existe, se existisse apaixonava-me por ele e punha os meus pézitos em sabrinas e percorria todo o carreiro até me conseguir servir numa travessa prateada rodeada por uvas fresquinhas.

 

O reino dos outros 

 

Não é que eu estivesse enganada, não é que eu tivesse acreditado, não é que eu tivesse dado vinte e dois dias constitucionais de repouso à negritude, sempre estive na quitina de um caranguejo vermelho: recua, avança, ui recua e recua ao quadrado.

Confesso, no entanto, que sabia assaz bem crer que ele era um tipo inteligente, que sabia da natureza vitral do mundo, do desengano, da imundície nos olhos dos outros, no prazer pelo prazer e na lealdade.

Bem, acho que esse meu recuo de caranguejo carmíneo de águas pantanais, me providenciou com este sorriso, este que estendo enquanto escrevo e faço pausas para levar o trigo à boca.

Na verdade, tenho estado a sorrir há uns dias por ter sido um caranguejo de recuos estratégicos e um pântano de verdades enganosas.

Supremo, desiludi-me, pois claro, afinal de contas também ele faz parte das bolachas extra-saborosas.

 

O reino às avessas: parte II

 

Supremo, está a chegar… juro e prometo que vou sorrir muito, que vou saborear todos os dedos, todos os cálices de bruma.

Supremo, prometo e levo o joelho à terra, recentemente vindimada, para te garantir que todos estes papéis amarrotados, caroços secos e manhãs de provas consideradas não vão acordar mais do que já foi acordado.

Sempre me vesti para um mundo de dentro, amuralhando-o e, apesar da idade e das coisas que deveria saber, não foi tanta a leviandade que agora me devesse prender na quantidade de orgulho desferido, bem pelo contrário, apesar de desgostosa, até que esperava este novelinho desenrolado na primeira volta do carreiro, lá no fundo da minha alma em corpo de mulher de sol e lua em terra, eu sabia que era tudo um recreio, um desafio para encontrar e vencer o minotauro mas eu não me chamo Ariadne e jamais proveria um fio para o miolo de tudo isto que sou.

Colhemos as uvas todas num dia de sol raiado e os santieiros pululavam pela leira dos castanheiros, a cor do vinho que jorrava para o almude não se pode descrever, só a Natureza tem direito a usar tais cores. Eu banho-me na não-cor que é o negro e pincelo-o em dias de violência com o branco dos lírios ou com o vermelho de rosas de sangue, nada mais.

E à quinquagésima inquisição sobre o negro que me veste, nada mais claro há a dizer, senão que brota de dentro, fluindo para o exterior em torrentes que toldariam até a mais alaranjada das cores.


Epílogo


E é assim que os lírios cortados há tão pouco tempo e nascidos ainda há uns dias se vergam com as gotas que:

-ping, ping, ping-

deslizam do firmamento até à raiz, dizem eles, dizem elas e eu escrevo e assim fica escrito.

Estes reinos de onde saio a tremer de frio e devaneada para entrar devagarinho e com a verdade toda para descobrir, em estábulos anexados como fetos malnascidos, afinal de contas sou eu, a do pó.

publicado por Ligeia Noire às 17:52
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08
Mai 12


Não tens o que é preciso para que eu te sirva de tapeçaria ornamentada, se pensas que vou percorrer todo o círculo novamente e, em tom elegíaco cantar a minha morte certeira, enrola-te em teias de aranha e sê deglutido pela Rainha-mãe.

De joelhos, a escavar por entre a lama e o musgo, enquanto pego pelo abdómen de vermes que guardo no bolso, podes bem morrer sentado.

Sabes, fiz uma descoberta achocolatada hoje e sinto-me contente.

É, industrialmente melhor, odiar do que amar, ambos necessitam de violência, ímpeto e intensidade mas o primeiro estado é bem mais estimulante.

Engraçado, estive a ver mais um episódio da série «Sobrenatural» onde a minha personagem favorita disse de levezinho, como se fosse facilmente reconhecível por todos, como vivemos num universo "triste" que foi desenhado para criar conflito.

Isto é, por que deveria eu progredir graças ao teu fracasso?

Mas estas são as regras.

As coisas simples, a verdade.

Desci para lá do subsolo, a eterna caída mas não vou descrever-te como resvalei pelas paredes musgosas.

Há quem se venha com descrições semelhantes e eu não procuro o grotesco, acontece-me gostar de alguns dos fios que o tecem, não por mero jogo de menina aborrecida mas porque daí nasci e dele partilho.

Há tanto que ninguém sabe, só o Supremo, porque vê sem falar.

Tenho vergonha que o tenha visto mas ninguém o manda ter olhos sem pálpebras.

Foi preciso degustar o pó para perceber que quem manda aqui sou eu, quis forçar-me ao enamoramento, estava tão deslumbrada pela adrenalina de saber como é, que não quis reconhecer a minha incompetência em atingir tal estado.

Tenho pena mas a caixinha em que vim era aguda.

Conheci o avesso das sensações de uma maneira sórdida.

Aproximo-me de ti sempre, não consigo, aí admito a minha culpa, a minha miséria, a minha humilhação, como disse noutra folha branca, eu vejo-me a fazê-lo e não consigo parar, maquiavelicamente não me quero parar.

Tens rebuçados de que eu também preciso, vício, vício, vício nauseoso.

Gosto muito de mim com os olhos raiados, gosto muito de mim cheia de seiva cáustica, gosto muito de mim assim porque, quando assim estou, o meu dorso torna-se impenetrável e rebentam-me espinhos primaveris.

E, hoje, não quero usar o teu nome, sinto-lhe asco.

Nunca te fui boneca sem o querer primeiro, a batalha nunca foi entre nós os dois, foi sempre entre mim e mim.

A única coisa que ressinto, deveras, é saber que pensas que te amo quanto apenas te careço, como de um ingrediente.

Sou sempre eu e a minha filha negra mas isso não to posso revelar porque deixarias de deixar que te atasse os cordéis.

E agradeço ao maldito por me ajudar a conspurcar-me e a saber usar as larvas para me suster neste mundo pútrido.

Afinal de contas somos os filhos de Caim.

publicado por Ligeia Noire às 13:43

05
Mai 12

 

I  

As coisas não têm estado fáceis, acho que se coadunam com o tempo.

No entanto, devo confessar que gosto deste Maio agreste.

Há bocado, preferi nem abrir o guarda-chuva e comecei a rir, já devo ter chegado à casa da insanidade.

Gosto mesmo muito quando está de noite e a chuva bate na janela e o vento sopra e sei que lá fora está muito escuro e que há reis e rainhas, cavalos, esquilos, gatos a espreitarem em cada esquina.

Ok, chega de tolices…   

II

 

Já muitas vezes o disse e se não fui explícita o suficiente, sê-lo-ei agora.

No outro dia, foi-me perguntado o que não gosto nas pessoas e o que não gosto nas pessoas é a pancada de bolacha-extra, detesto manias de essencialismo, detesto poleiros, aliás, sou incapaz de estar sentada numa esplanada, o que já de si é raro, se estiverem trolhas, carpinteiros ou demais obreiros nos seus postos, deve ser por toda a minha parte familiar masculina trabalhar nas obras ou, então, é porque não tenho qualidades de bolacha.

Bem, resumindo não tolero isso em ninguém, seja até em artistas que aprecie bastante, esses, que já em si mesmos vivem metidos.

Meus caros, achem-se superiores mas coloquem o manto e o ceptro longe, longe violeta.

Escumalha.

Odeio conspurcar com cisco alheio o meu caderno mas, às vezes, é necessário.

  

III


Descobri que tenho de me manter forte e amuralhada porque, às vezes, faço a diferença para os alguns que interessam, hoje fui a portadora de luz e fui feliz.

O que não torna as coisas mais simples, bem pelo contrário, as minhas costas dobram-se ainda mais mas se apenas as curvar no escuro do quarto, está tudo bem.

E tudo me corre como água de correr e não sei mais porque se mexem as minhas mãos, onde estou e porque estou, vou sem ir, vou sempre sem ir.

Nada me interessa?

 IV

 

E, por último, sim já sabia que ias dizer isso, agora já está.

É por seres feito de quitina, índole discreta, nocturna e fodida, é não é?

Mas escusas de descer a culpa porque quem começou foi ele, eu apenas lhe pedi que parasse.

Tenho todo o direito de me sentir estupefacta, então ele falou como se me tivesse visto ontem, como se a ponte nunca tivesse descido!

Foda-se e quando voltei a falar com ele, quando sabia que o ia fazer, foi quase como se me estivesse a ver de cima, assim à maneira da Camilla Gibb, como se me presenciasse a saltar a margem e a não fazer nada para o impedir.

Não sei se sou fraca, se abri precedentes, não posso dizer que não quero saber porque quero mas senti-me tabuleiro aberto em dia do Sétimo Selo.

V

 

E depois isto junta-se àquilo e fico assim, a dizer bons-dias quando o sol vai alto, acamado nalguma nuvem por onde perdi o sentido todo.

publicado por Ligeia Noire às 01:27

18
Dez 11


Não te afastes muito, podes perder-me de vista.

A estória em que me embrulhas...

E, às vezes, dás-te conta de que me precisas de adubar e atiras com sete migalhas brancas.

Aprecias alimentar-me enquanto te esfumas por caminhos enovelados.

Se calhar, meu querido, deverias levantar um pouco os olhos, de quando em vez.

É das minhas mãos que descem os cordelitos.

Diz lá se não é extasiante afagar as patas de um lobo?

publicado por Ligeia Noire às 11:08
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22
Nov 11

 

I

 

Gosto de me sentar ao sol quando tenho o sangue frio.

Gosto de senti-lo a acarinhar-me os olhos e a encher-me os dedos, afinal também sou filha Dele.

Não é da minha boca que estão a prosperar mentiras como ervas daninhas, é das vossas.

Todo o mistério de que me julgam refém, é do meu silêncio procedente. 

Sempre achei que os outros se aborreciam com frases mortas.

E estou ali, à frente deles e eles enrolam bolinhas de lã na língua e adubam e adubam falácias e falsas preocupações.

Dizem-me arredada dos outros, eu prefiro descrever-me como a assistência.

Fora do meu habitat, mexer-me é um perigo!

São quantidades industriais de pessoas, de sachola às costas, a cavar buracos, infelizmente, não para si.

  

II

 

Não sou vegetariana, vou comendo o que há.

Hoje, numa aulinha foi dito que o facto de os asiáticos paparem canídeos era repugnante, e eu, melosa de tão acriançada, perguntei:

"Não percebo, qual é a diferença entre um cão e uma vaca?" 

E foi-me respondido que o primeiro bicho mora connosco e há uma afinidade lógica que advém da convivência.

Repliquei então:

"pois, é que os meus papás tinham vacas e eu gostava muito delas."

Ora bem, também nunca entendi os citadinos que se julgam acima dos hominívoros porque defendem os

direitos dos bichos mas nunca os levaram a rapar erva... é assim como aqueles comunistas fofinhos que nunca

trabalharam numa fábrica…

Não preciso de advogar os direitos de ninguém, é a lei do mais forte, e como fatalista que sou, estaria a

mentir se dissesse que gostaria de ser vegetariana.

Gosto de carne mas não gosto do sofrimento pelo qual os bichos têm de passar para encherem o nosso prato,

e logo eu, que sou adepta de carnes frias, enchidos e por aí fora.

E, realmente, agora que penso nisso, a harmonia e a paz mundial são mesmo palavritas engraçadas, digo, ridículas!

Se encaixamos uma vaca numa jaula, em que nem um bezerro engrunhado caberia e depois a esventrámos e arrastámos do próprio sangue para... eh pá soa-me que querer tal coisa é um pouco contraditório.

Bem, não continuei o diálogo porque a pessoa em questão não me acha fofinha e eu, um doce de menina, prefiro guardar-me de altercações.

Aqui, é considerado moralmente incorrecto um cão ser papado, uma vez que é um bicho que se tem por casa e também o melhor amigo do Homem.

Ora bem, vaquita, estás fodida, ou começas a copiar a tua conterrânea do anúncio, ou vais continuar sendo

trinchada em mesas alheias.

Lá estamos nós com as pirâmides, já o outro achava que os judeus estavam no degrau abaixo, e a humanidade inteira, há uns séculos, achava o mesmo dos pretos e das mulheres, e etc. e tal.

Não gosto de grupos, não gosto de seguir, não gosto de filas, não gosto do "ser-se ()", daí não usar camisolas com logos de bandas, limita-me.

Ser-se feminista, vegetariano, ateu, cristão, comunista.

Esta mania das gavetas que só dá jeito com os CD e todos os objectos quejandos.

Como se a seres isto, tivesses um degrau só para ti, como se fizesses sentido, como se fizesses a diferença, quando esta não pode ser feita, uma vez que, somos todos a mesma escumalha.

Morremos todos sozinhos.

Morremos todos e sozinhos.

 

III

 

As vossas boquinhas são úteros cálidos de mentiras.

E falam-me assim, naquela tonalidade amenizada e eu de domino assente rio-me toda.

Às vezes magoa, como no teu caso flor-selvagem, porque ontem quando o fiz…. É que… de repente acordei e os meus pés estavam a calcar o azulejo gelado de um curral e um homem grande empunhava um ferro em brasa e cinzelou-me a testa.

Néscia, pobre néscia sou.

De resto, todo o resto que vou conhecendo por esses prados verdejantes e luzidios vai atestando a minha natureza de arredia.

Seu bando de mentirosos!

Sua corja de coisas pequenas e rompidas.

Têm-me por desprezível e violenta mas, pelo menos, na minha boca não se trocam as águas.

Bem, não foi por falta de aviso, a senhora de negro um dia disse que tínhamos de seguir o instinto dos gatos e não esperar nada de ninguém.

Por falar em gatos, o meu cão velho, o meu Roberto, foi embora para sempre e nem tive tempo de me despedir...

Como disse à manhosa da minha avó no Sábado, prefiro mil vezes animais, mil vezes animais, eles são o que são, não perdem tempo com coisas inúteis.

Não acham que dá muito trabalho?

É claro que não granjeamos muitos afectos mas também nunca gostei de amanteigados.


publicado por Ligeia Noire às 20:50
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13
Nov 11

 

I

 

Sabes o que sucedeu às filhas dos Homens que foram adentradas pelos Caídos?

Flor-selvagem, alcunha delicada que por mim te foi imposta, ah que infantil me saí.

Se pudesse esconder-me de ti, para não teres de te esconder de mim, fá-lo-ia de bom grado.

És mortal afinal, apenas e só um mortal que judia os céus mas que inveja as mãos quentes dos querubins.

Serviste apenas de inspiração, foi o que nunca te disse e que tu jamais foste capaz de perceber.

Serias completamente incapaz de me conter, não chegaste sequer perto do espelho onde miro os olhos.

Nunca cravaste as unhas nas conchas das minhas mãos e duraste o tempo que quis.

Se tive os olhos fechados, lê bem meu anjo, foi porque a anestesia se propalava nos capilares.

Seria tua serva, se tivesses o poder de me laçar os cabelos e silenciar os ruídos da minha filha negra.

Seria, pois, tua vítima meu amor, a teu bel-prazer.

Juro, que até conseguiste com que durasse um bocadinho.

Todo este tempo em que acreditei na possibilidade foi, como sempre, porque sua excelência estava suficientemente incógnita e distante para que eu pudesse criá-la à minha mercê.

Cheio de rendilhados e beijos labirínticos, gostei.

Mas a maçã vermelha caiu sem que a visse, e calquei a dita em cheio.

Tais foram os barulhos que a pobre derramava, que tive de baixar o rosto para com larvas guinchantes, de abdómens rompidos e de corpos agonizantes me confrontar.

A algibeira consultei e lá tive de macular o meu mais belo lenço branco, na árdua tarefa de limpar os sapatinhos.

Agora, que prossigo no caminho, reparo na proximidade da escadaria industrial e no alçapão que me levará ao nada, ao génesis.

 

II

In that house
there is no time for Compassion,
there is only time for Confession
and on his dying bed they asked him:

Do you confess? Do you confess?

And on his dying bed the dirty angels
flying over him like buzzards asked him,
Do you confess? Do you confess?

shshshshsh
It's so cold
It's so cold
shshshshs
It's so cold
It's so cold
Do you confess?
Do you confess?

Who are you?
Who are you?

Do you confess?
Do you confess?

Yes, I confess
Yes, I confess
When they laugh at the trial of the innocent
Yes, I confess
Let them laugh at the trial of the innocent
Swing swing
Let them laugh at the trial of the innocent
saying, "Here's the rope
and there's the ladder,"
Coming for to carry me home.
Yes, I confess

[tongues]

Yes, I confess
angels! angels!

[tongues]

Yes, I confess
Yes, I confess
Yes, I confess:

Give me sodomy or give me death!
 

 

 

lyrics by Diamanda Galás/Letra da autoria de Diamanda Galás


publicado por Ligeia Noire às 00:40

12
Abr 11


Bolachinha extra-saborosa hum… ah!

Isto é uma competição?

Descobri hoje, melhor, acreditei hoje.

Mas não precisais tirar as luvas para mostrardes as cicatrizes de noites e noites de incomensurável sofrimento e percepções lúcidas.

Eu nunca (lede!), nunca vos olhei nos olhos.

Nunca vos quis, nunca vos ambicionei.

Sabeis qual é o meu desejo?

Que chova demasiado no vale do desterro para que possa rebolar-me na lama e, que correndo, me esvaia em coisas de bicho.

Para vosso conhecimento, eu gosto de sal, muito.

Gosto de guardar namesinha-de-cabeceira uns cristais para ir deglutindo, gosto de vinagre vermelho, muito.

O meu êxtase jaz na delícia de os misturar com tomates frescos.

Nunca vos quis a coroa que infantilmente segurais na cabeça, fingi que ouvis, é tudo vosso.

Vós nunca chegastes a perder, vós sois a bolachinha das bolachinhas.

Eu não rivalizo com ninguém, apenas ergo o braço e digo que estou com sono e que a abundância e a lisonja não me interessam e sim, nem mesmo o reconhecimento.

Sou mulher de alma negra, quero flores, copos de vinho, Fields of the Nephilim e paz.

Todavia, vós pertenceis aqui, enquanto eu pertenço numa campa florida.

(Ah! Isto está a dar-me gozo!)

Cuidado! Não vos aproximeis.

Sou restos, sou suja, retalhada.

Se olhardes de perto a minha nuca, não vereis código de barras e do meu coração não saem coisas formosas.

Não sei ler nem escrever.

Não quero as vossas frases eloquentes, nem os vossos detalhes, nunca me apeteceu foder-vos.

E se vos pareço um pouco irritada, não sorrides, é apenas uma leve comichão nos meus pés de campónia analfabeta.

E se decidi escrever-vos, esse pobre facto advém da guerra declarada por entre curtos cruzamentos de espaço, as mulheres são exímias em guerras não declaradas.

Mas bolachinha, apenas vos escrevo para dizer que a vossa guerra é masturbação e não sexo, sabeis porquê?

Porque é vossa mercê que está assanhada.

E, portanto, como é referido na citação com que intitulei este devaneio, eu não quero ser salva, eu não me esforço por me agarrar à varanda, sou preguiçosa, a minha alcunha diz-me toda desde os dezassete anos.

Vós, bolachinha, fazeis demasiado, tentais demasiado, é como se estivésseis eternamente numa fotografia.

Aqui a indigente, é assim e o Inferno, só lhe exige a vida.

publicado por Ligeia Noire às 21:06

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