Ontem, na minha correria para o átrio a que uma amiga chamou das andanças do Robin dos Bancos, reparei por entre as japoneiras num rapaz que me parecia o ruivo, sim esse mesmo, as mesmas vestes cinzentas, e o mesmo capuz, estava de costas mas aqueles passos pesados e indiferentes… talvez não fosse, talvez não fosse.
Tenho-lhe muitas saudades, foi um dos que mais me fez esticar a corda e o mais carregado de acasos e, claro, o que melhor me perfez o Frankenstein.
Hoje, pelo caminho, reparei num quadro vivo na esplanada de um café onde a catraiada da escola básica gosta de palrar.
Numa mesa amarela, com cadeiras amarelas, estava uma senhora ou seria senhorita?
Não sei, a aproveitar o céu azul e o sol outonal.
Lembrei-me do Mário de Sá-Carneiro…
A mulher dominava o cenário de preto acutilante vestida, de saltos que tocavam o céu, espraiava-se inteira numa esplanada deserta.
Não se movia, não tinha o olhar num outro mundo, como costuma suceder às raras figuras que me prendem os olhos mas tinha-o ali, presente mas no cimo de uma montanha, um olhar feito de adagas de gelo.
Gosto deste meu passatempo, mais do que enrolar os cabelos nas pontas dos dedos mas menos que raptar flores, gosto demasiado de observar e, às vezes, acontecem estes quadros bonitos, de pessoas que tingem o círculo da imobilidade.
Bem, mas vamos aos assuntos pequeninos.
Don’t run from me, I won’t bother counting one, two, three
Uma das coisas em que descobri estar errada, é no cansaço a que me permito em relação a determinar pessoas, apercebo-me de três ou quatro traços e não me amolo mais em pô-las à prova.
Ora bem, que dizer, quando brincava em desatar ou não os laços...
Hoje reparo que fiz bem em mantê-los atados.
Já não me impressionas, afinal não és tão alto como julgas.
E tu, bem, tu nunca chegaste a ser considerada, enfastiaste-me antes disso, ao contrário do primeiro exemplo, tu quiseste subir à pressa, desleixadamente.
De ti, não foi preciso recuar, sempre estive sentada na sacada.
Enquanto lavava uma camisa branca e estroinava os ossos ao som da voz do maldito, reparei que as coisas pequenas são mesmo isso, pequenas.
E a ti, será que ainda faz sentido colocar-te num assunto dos grandes?
I’m weak, seven days a week
Yeah babe, é desta forma que sou fraca, de neve enrolada e de olhos escancarados e pálpebras fechadas, esperavas que me lançasse e amenizasse, era assim que me querias?
Foi por isso que me bateste à porta, três vezes?
Será por ser esse, o número perfeito?
Pena que o meu sempre tenha sido o sete.
É isso, percebeste bem, minha pungente flor-selvagem, vai batendo, bate durante a noite e de preferência à hora das bruxas.
Não, não vou abrir mas sabes o que me apetecia, assim, mesmo muito?
Sabes aquele castiçal de velas velhas?
Pois, esse mesmo.
Não achas que ficaria encantador no parapeito da janela, pois, eu também acho mas claro, as cortinas teriam de ficar bastante afastadas, não queremos um incêndio (alheio), certo?
As janelas brancas da casa de pedra, bem trancadas, a porta com a aldrava e os fósforos que sobraram do Inverno serviriam para iluminar de vermelho este velho castiçal e, como eu me deito tarde e as noites vão azuladas, nada melhor do que contemplar a mãe-lua e deixá-la trespassar-me o corpo.
Acetinar a pele traz-me sono.
Pois, se calhar até adormeço de cortinas abertas, está uma noite tão deliciosa, não te parece?