“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

13
Jan 14

 

Alcest, Alcest e mais Alcest, acho que já não irei ao concerto, isto se ele não aparecer por aqui e, afinal de contas, quiser ir. Sei que escrevo pouco actualmente, não me interessa, estou tão enovelada que não consigo saltar ao meu redor e perceber onde está a ponta da meada.

E, apesar de sentir falta da voz agressiva, da melancolia e dos blastbeats, o álbum não me desiludiu, esta Voix Sereines é muito bonita e é decidamente a minha preferida.

 

publicado por Ligeia Noire às 14:16
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29
Jul 13

 

Estou exausta, ontem cheguei a casa depois do trabalho e só me apetecia dormir até à semana seguinte, por falar em semana seguinte, tenho de ir buscar o vestido, pois é, tenho... e enquanto escrevo as letras que compõem a palavra -tenho- pergunto-me o que me aconteceu... não me apetece mais nada, não quero isto nem aquilo e sabes a melhor?

Agora, cada vez que a flor-selvagem fala comigo, sinto um enfado terrível!

Garantindo a premissa de há uns tempos (que alguns pensavam ser uma defesa acentuada) de que nunca gostei dele como achava que gostava, toda a minha obsessão foi apenas com o sentimento, com o mistério, a periculosidade, comigo e com a forma como o mundo se desenrolava cada vez que me aleijava, escrevi tanto inspirada no que ele me fazia sentir, ou no que eu me fazia sentir, maravilhosa a forma como tudo funciona, maravilhosa.

Sou até capaz de te confessar que nem, ai como lhe chamei aqui... hmmm nada, pois.

Bem, mas nem esse meu amigo me apetece encontrar e dirias tu: «ora bolas falling quão apaixonada te encontras?» e te diria eu: «meu caro amigo, não sei se é do enamoramento mas sinto-me assim e nada posso fazer ou quero fazer.», alheada do passado e do futuro, assaz enlevada, como se me tivesse, também enamorado, pela rapariga que o Cavaleiro despertou, pela forma serena e desprendida com que me trajei para viver aqueles dias, sim eu sei que tenho de ir buscar o vestido e tu sabes o que arrasto quando digo isto.

E há música e a música constringe-me, como um espartilho e como gosto, ah como gosto.

Sinto-me ninada, protegida, escondida, alcançada e tudo e tudo eu me sinto neste lagar, sono de berço.

E, perdoa-me, mas terei de falar do Neige e dos seus Alcest, por mais estranho que te possa parecer, esta entidade, que inicialmente julguei ser o meu ponto mais distante, fez com que abrisse os olhos para a leveza, a serenidade, a fantasia de melancolia doce, o mar, os gestos lentos e educados que eu, uma presa de violências espontâneas que se fazia de adagas e pingentes de gelo, sempre desdenhei.

Essa rapariga de entraves que rejeitava tudo o que lhe parecesse mar calmo e poesia... ah, como essa rapariga abriu carreiros, como essa rapariga se fez fruta madura.

Está agora compreendido o anjo do lado de lá, o anjo cheio de acalmias, sem os movimentos bruscos e as insurreições e rebeldias que esta procurava nos que, apenas, lhe excitavam os sentidos.

Como esta entidade a fez parar e colher flores: rosas e violetas e lírios, até chegar às glicínias sem sequer lhes conhecer o nome.

Pode parecer jocosidade minha, não a encubro, mas há similitudes entre eles. Encetei por carreiro tal, graças a um amadurecimento e perda de peso que só calcar tal carreiro me poderia ter ensinado.

Como sou apaixonada por Alcest, foda-se é maravilhoso, tudo ali é maravilhoso, tenho de lhe agradecer a forma como me abriu os olhos, a acalmia que me proporcionou, o berço, o caminho certo para fora do labirinto...

Há muita beleza nas cidades por esse mundo fora, a arquitectura, as igrejas, as pontes, os jardins, há pessoas agradáveis, coisas bonitas mas nada me atinge como a música, por mais miserável que seja a situação ou por mais eufórico o ambiente, a música é dona de mim.

Não consigo sequer pôr por palavras o que sinto enquanto ouço é como explodir de amor, tenho vontade de anunciar ao mundo como se fosse o evangelho, partilhar a beleza indescritível, deixar que outros sejam abençoados também.

Não sei para onde vou mas sei de onde vim e onde quero estar e continuar.

 

publicado por Ligeia Noire às 11:13
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13
Dez 12


Conheço Pink Floyd como qualquer pessoa conhece Pink Floyd:


Comfortably Numb;


Wish you were here;


Another brick in the Wall (a parte dois, claro);


Já tinha experimentado há uns anos mas não, não estava preparada para descobrir a beleza sem passar pelo labirinto.

Darem-me, assim, coisas belas de bandeja é pedir que desconfie e eu desconfiei.

Por que me lembrei eu disto?

Bem, tudo começou com um cavalheiro de cabelos ruivos encaracolados e olhos azuis, pertencente a uma banda lá p'ra terra dos Bretões.

Já nem me recordo como descobri os Anathema, deve ter sido aquela ladainha das cerejas, mas para uma pessoa com o meu historial, já era mais certo do que corte de guilhotina, o tanto que me iam roubar o coração e das mais descaradas formas!

Esse cavalheiro ruivo é um músico que aprecio muitíssimo, desde os concertos acústicos que faz por aí com a dona de uma das mais belas vozes que já ouvi, a lindíssima, de todas as formas, Anneke Van Giersbergen, até à amizade com o escandinavo duplo v, chegando ao seu tesouro: os perfeitos Anathema.

Escusado será dizer que, aquando do mais recente concerto que por cá fizeram, delirei quando soube que lá iria pôr as patinhas.

 Na entrada para o recinto, qual não foi a minha surpresa quando vejo esse mesmo cavalheiro sereno e despercebido encostado ao autocarro de digressão, a ouvir música via auscultadores num desses aparelhitos modernos.

Ninguém na fila o tinha reconhecido ou se apercebido.

Mas como apreciadora de cabelos que sou, mesmo antes de lhe ver o rosto, já os cabelos me tinham chamado a atenção e, claro, quando levantou os olhos azuis e confirmei com os meus… foi mais um daqueles momentos docitos que qualquer apreciador profícuo de uma banda gosta de guardar consigo….

Ora, deixemo-nos de mariquices e continuemos, quando não estamos lá para degustar o nascimento de bandas que mudam o mundo, nem tudo está perdido, provámos da boca e mãos e alma dos que lá estiveram a magia toda.

É tudo uma constante fruição, lei de Lavoisier.

O cavalheiro em questão gosta mesmo muito de Pink Floyd, basta conhecer a música que faz para se perceber a extensão da cena… e foi assim que voltei ao caminho onde tinha deixado os senhores cor-de-rosa à espera.

Ainda sou uma menina muito, muito pequenina nisto mas já não lhes sei volver.

E, neste começar delgadito, comecei por aprender que há coisas bonitas que nem sempre estão no centro de um labirinto, embrulhadas em celofane.

Às vezes, estão ali, quais cerejas pendentes do céu, à espera que olhemos para cima e as colhamos.

O que é meu é muito meu.

 

Hello?

Is there anybody in there?

Just nod if you can hear me.

Is there anyone at home?

Come on, now,

I hear you're feeling down.

Well I can ease your pain

Get you on your feet again.

Relax.

I'll need some information first.

Just the basic facts.

Can you show me where it hurts?


There is no pain you are receding

A distant ship, smoke on the horizon.

You are only coming through in waves.

Your lips move but I can't hear what you're saying.

When I was a child I had a fever

My hands felt just like two balloons.

Now I've got that feeling once again

I can't explain you would not understand

This is not how I am.

I have become comfortably numb.


O.K.

Just a little pinprick.

There'll be no more aaaaaaaaah!
But you may feel a little sick.
Can you stand up?
I do believe it's working, good.
That'll keep you going through the show
Come on it's time to go.

There is no pain you are receding
A distant ship, smoke on the horizon.
You are only coming through in waves.
Your lips move but I can't hear what you're saying.
When I was a child 
I caught a fleeting glimpse
Out of the corner of my eye.
I turned to look but it was gone
I cannot put my finger on it now
The child is grown, 
The dream is gone.
I have become comfortably numb.

 

Lyrics by Pink Floyd/Letra da autoria dos Pink Floyd

 

 

Post Scriptum: that makes two of us, confortavelmente dormentes enquanto o Mundo decai.

 

publicado por Ligeia Noire às 15:10
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20
Set 12


Não há, não há um céu assim, deves estar por aí Supremo, no abismo ao contrário que é isso aí para cima.

No outro dia ouvi um fotógrafo dizer que a fotografia permite tocar naquele espaço, aquele espaço sem linhas que fica entre duas almas, aquele espaço sem palavras, o espaço em que se estão a cruzar… entidades, talvez.

Olhos, sim, pois, há os olhos e há as mãos também mas há algo de diferente, há o espaço que antecede e sucede o tempo e nem é bem espaço é… não sei… o que está no meio, no por acontecer ou na simbiose do acontecendo, há essa feitiçaria daninha aqui e agora mas não sei de fotografia e não quero nada mais do que este firmamento cheio de noite onde tudo mora de eterno a eterno, sempre.

É aqui, assim como me descontinuo, que me abro para o que sou, o que quero e o que o silêncio de pedras de quartzo incolor significa para mim.

Não há esperança mas há isto e isto é e sempre será mesmo que eu não seja.

Ainda não é muito de noite mas um céu assim, ainda em botão, com todos aqueles bocadinhos luminosos a que chamamos estrelas, e que podem muito bem ser olhos, faz-nos pensar em nada e em tudo sem distinção e ao mesmo tempo.

É o apogeu do absurdo, faz-nos querer que a noite não adormeça de sol, faz-nos dosear os olhares perdidos que deixamos cair para tomar atenção a conversas que se marulham sem ondas.

É tudo mau, pois com certeza mas o céu estrelado e a noite assim tão de amor, tão puros e sapientes, tão unos a este espaço que os cinge, não deixam de ser o príncipe vestido de cetim azul funéreo e a mulher de negro, a quem estrelas, provavelmente já mortas, ofertam mil beijos estilhaçados.

Com um céu assim, seria capaz de me apaixonar para poder ter combustível capaz de me elevar às suas vestes compridas, onde ofertaria carícias com as pontas dos dedos das duas mãos estendidas e bem abertas.

É tudo mau, pois sim mas aqui, assim, quietinha e adocicada é quase como se me conseguisse lembrar do segredo para voltar, da verdade única, do existir sendo ou do voltar para ser sem existir.

São tantas as estrelas, são mesmo muitas e as árvores são muitas também e o cão deita-se debaixo delas e o pequenino, de orelhas pequeninas, procura os gatos que estão a saltar da mesa… além.

É por saber que isto é tudo menos idílico que aprecio o seu valor e repenso em não pôr um pé à frente do outro.

Talvez seja esta a sensação de estar sozinho com o mar, o mar selvagem de terras gélidas de que falam os que moldam os sons e as palavras ao seu choro de dentro.

Escrevo a ouvir Alcest, é como beber, é como beber a fada verde sem parar para querer pôr um pé e depois o outro.

E era o meu corpo que dava se pudesse fazer da minha vida este momento entre o que aqui está dentro e este céu caiado de estilhaços de muitos olhos mortos.

publicado por Ligeia Noire às 10:17
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18
Jun 12


Tive de gramar com duas horas de não-música e gente feia para ouvir e baloiçar pela ambiência de, menos de meia hora de acordes agradáveis tocados por senhores barbudos.

Fomo-nos sentar na escadaria onde já estava a rapariga de cabelos loiros e o outro que a quer papar, depois, do nada, chegou o oficial da dita e, aí credo, lá fui eu lançar folhinhas de oliveira e lembrá-lo de quão estrelada e agradável estava a noite.

Resultou lá, agora, talvez, se tenha desnudado a oliveira toda...

Bem, na verdade, até foi divertido, pouco me importei, ah que má sou.

Ainda estás aí?

Estou a ficar triste, estão a acorrer as gotas de chuva para dentro dos casulos verdes.

E aquele rapaz que anda por aqui, por certo mais novo do que eu mas que belo, mas que belo sim.

É tão belo na sua certeza, no mundo de terra firme do qual se rodeia, a sua segurança e altivez ainda o fazem mais belo e olha como um gato desconfiado para mim, o rosto de barba tenra e as mãos de pianista que aposto nunca terem tocado num piano.

Como se eu quisesse saber daquilo que o faz por dentro, só me interessa a pele de narciso que o veste e, interessa-me ainda mais, porque ele a sabe e a coaduna com olhos de violência e braços capazes de oferecer colisões em paredes gélidas a horas docinhas.

Sim, porque seriam horas irrepetíveis e na orla do penhasco.

Atesto, pois.

O mancebo inspira-me e instila-me à loucura da, outrora vienetta em corpos femininos, no jogo do "perdes sempre".

Ora vamos lá ver se consigo lapidar:

É apenas e só o desejo puro e animalesco de luxúria que não quer ser presa ou continuada.


publicado por Ligeia Noire às 22:07

20
Mai 12


Já aqui falei de ti ainda que brevemnte e, hoje, queria poder criar uma redoma para que um pouco de ti se estabelecesse perto mas não consigo encontrar palavras que sirvam.

Estou apaixonada pelo miolo dos teus olhos, pelo tamanho dos teus cabelos, pela gracilidade das tuas mãos, pela boca menina e rosada que se orla e sacia de enoquiano, pelo teu corpo doseado em cada passo.

Assaz arrebatada pelo que este encerra, é isso, nunca me senti tão sequiosa.

Não quero que amanheça, não quero que amanhã seja Segunda-feira, quero que me dês das tuas sementes, para que as cubra de terra negra e fresca e se faça sempre Primavera no meu cemitério.

És tão belo.

Tão doce, tão teu, tanto de ti é noite estrelada à beira-rio, tão lírio branco, tão coisa de cima.

Estou enamorada pela forma como as tuas longas pestanas te guardam os olhos, pelo gosto e pela beleza que me trazes.

És o meu estro aqui e agora.

De que arbusto brotaste?

De que mar nocturno emergiste?

Ah Deus! Que inútil escrever sobre ti... estou tão apaixonada por raios e esgares e gestos e assomos de graça, sinto-me branda e abençoada.

Tão elevada, como se estivesse envolvida pelo cabelo do Salvador e, num manto sem cor descritível, me achasse nua e interrompida, longe, longe daqui, longe de tudo.

Fazes-me lembrar todas as pedras de quartzo que encontrei ao longo da vida e que quis roubar do sol ao guardá-las na gruta de onde bebo água.

Não te quero para mim, quero que continues a crescer e te estendas, ó minha aradeira bravia, por tudo o que eu conseguir alcançar.

Amo-te inteiro e mais um pouco.

És todas as coisas calmas e demoradas.

Tão imersa neste estado de arroubamento que ainda não te consigo… não, não consigo.

Não pertences aqui, deixa que o escreva, tu sim, tu, Ser que comunga da Mãe-Terra e que tem o avesso de reflexo lunar revestido, tu, não és, pois, daqui.


publicado por Ligeia Noire às 23:06

18
Abr 12


Não sei, foi tão estranho, aliás, está a ser tão estranho…

Ainda não sei explicar o que é.

A expressão, o rosto… é como se já nos tivéssemos conhecido, é como se ao olhar para ele se me extinguisse a raiva.

Como se já o conhecesse?

Não, não é isso… não sei, sei que reconheci alguma coisa.

Sei que algo em mim se coadunou com algo dele.

Se eu fosse um leucócito, mesmo nunca me tendo cruzado com ele por vasos ou capilares, jamais o trataria como um antigénio.

É como se nele, a presença do divino fosse menos distorcida.

A primeira vez não foi assim, estava escuro e eu estava com fomes vorazes de violência, o agora, o instante... era apenas para isso que me conduzia.

Não o vi bem, não me demorei no mundo dele, precipitada e erradamente, achei que se tratavam de coisas verdes e paz e harmonia e outras tolices.

Como fui infantil e cheia de mim.

Ele é tão sereno, tão demorado, mais subtil e delicado que a mais bela das mulheres.

Os olhos de longas pestanas, a forma e a expressão nele e dele são indissociáveis.

É como se ao olhá-lo, de repente, tudo fosse calma e mar à chuva.

Que bonito.

Que bonito, sim.


publicado por Ligeia Noire às 14:25
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08
Mar 12


Ontem, na minha correria para o átrio a que uma amiga chamou das andanças do Robin dos Bancos, reparei por entre as japoneiras num rapaz que me parecia o ruivo, sim esse mesmo, as mesmas vestes cinzentas, e o mesmo capuz, estava de costas mas aqueles passos pesados e indiferentes… talvez não fosse, talvez não fosse.

Tenho-lhe muitas saudades, foi um dos que mais me fez esticar a corda e o mais carregado de acasos e, claro, o que melhor me perfez o Frankenstein.

Hoje, pelo caminho, reparei num quadro vivo na esplanada de um café onde a catraiada da escola básica gosta de palrar.

Numa mesa amarela, com cadeiras amarelas, estava uma senhora ou seria senhorita?

Não sei, a aproveitar o céu azul e o sol outonal.

Lembrei-me do Mário de Sá-Carneiro…

A mulher dominava o cenário de preto acutilante vestida, de saltos que tocavam o céu, espraiava-se inteira numa esplanada deserta.

Não se movia, não tinha o olhar num outro mundo, como costuma suceder às raras figuras que me prendem os olhos mas tinha-o ali, presente mas no cimo de uma montanha, um olhar feito de adagas de gelo.

Gosto deste meu passatempo, mais do que enrolar os cabelos nas pontas dos dedos mas menos que raptar flores, gosto demasiado de observar e, às vezes, acontecem estes quadros bonitos, de pessoas que tingem o círculo da imobilidade.

Bem, mas vamos aos assuntos pequeninos. 

 

Don’t run from me, I won’t bother counting one, two, three

 

Uma das coisas em que descobri estar errada, é no cansaço a que me permito em relação a determinar pessoas, apercebo-me de três ou quatro traços e não me amolo mais em pô-las à prova.

Ora bem, que dizer, quando brincava em desatar ou não os laços...

Hoje reparo que fiz bem em mantê-los atados. 

Já não me impressionas, afinal não és tão alto como julgas.

E tu, bem, tu nunca chegaste a ser considerada, enfastiaste-me antes disso, ao contrário do primeiro exemplo, tu quiseste subir à pressa, desleixadamente.

De ti, não foi preciso recuar, sempre estive sentada na sacada.

Enquanto lavava uma camisa branca e estroinava os ossos ao som da voz do maldito, reparei que as coisas pequenas são mesmo isso, pequenas.

E a ti, será que ainda faz sentido colocar-te num assunto dos grandes?

 

I’m weak, seven days a week

 

Yeah babe, é desta forma que sou fraca, de neve enrolada e de olhos escancarados e pálpebras fechadas, esperavas que me lançasse e amenizasse, era assim que me querias?

Foi por isso que me bateste à porta, três vezes?

Será por ser esse, o número perfeito?

Pena que o meu sempre tenha sido o sete.

É isso, percebeste bem, minha pungente flor-selvagem, vai batendo, bate durante a noite e de preferência à hora das bruxas.

Não, não vou abrir mas sabes o que me apetecia, assim, mesmo muito?

Sabes aquele castiçal de velas velhas?

Pois, esse mesmo.

Não achas que ficaria encantador no parapeito da janela, pois, eu também acho mas claro, as cortinas teriam de ficar bastante afastadas, não queremos um incêndio (alheio), certo?

As janelas brancas da casa de pedra, bem trancadas, a porta com a aldrava e os fósforos que sobraram do Inverno serviriam para iluminar de vermelho este velho castiçal e, como eu me deito tarde e as noites vão azuladas, nada melhor do que contemplar a mãe-lua e deixá-la trespassar-me o corpo.

Acetinar a pele traz-me sono.

Pois, se calhar até adormeço de cortinas abertas, está uma noite tão deliciosa, não te parece?

publicado por Ligeia Noire às 20:40

17
Jan 12


Não é que me doa a cabeça mas ando a atulhá-la sem responsabilidade e não lhe dou tempo para que arrume tudo em gavetas.

Sinto-me um pouco fraca e muito… muito cansada, cá dentro.

Hoje o medo abateu-se sobre mim, como uma ave de rapina, pensei que se devesse às coisas que luzem ao sol mas continuei com ele agarrado à tiróide, como catarro.

O quarto está frio e os pulsos estão porosos, deitei-me um bocado para esvaziar as entranhas e devo ter dormido uma hora pequena, sonhei com coisas escuras e pessoas efémeras.

Acordei com os salmos dos Les Joyaux de la Princesse mancomunados com os Death in June, que à semelhança dum remoinho, volteavam e volteavam, abrindo uma porta na noite escura.

E preciso de escrever.

Há uns tempos, a senhora de negro disse que ao longo da sua vida encontrou alguns raros com quem nunca trocou uma palavra mas com quem sentia um entendimento mútuo, apenas pelos curtos cruzamentos de olhares.

Olhares de entendimento.

Quando li isto, há alguns anos, não compreendi como alguém podia passar anos a ver uma pessoa, com a qual sente empatia, e não falar com ela, porquê?

Hoje compreendi e, curiosamente, sinto uma satisfação mansinha.

Isto foi-se sucedendo sem que me desse conta e quando me apercebi, sorri.

É espirituoso, não é verdade?

Refunda à não existência de acasos.

Há uma senhora, na minha escola, um pouco mais velha do que eu e uma rapariga, onde vivo, um pouco mais nova.

Ambas exercem o seu fascínio sobre mim.

Vejo-as, ocasionalmente, desde que entrei neste circuito.

São ambas muito bonitas, discretas e reservadas.

A mais velha tem os cabelos compridos ondulados e a mais nova tem os cabelos curtos e vastos.

Lindos, lindos cabelos de carvão.

A dama emana uma calma, equilíbrio e temperanças que me atravessam de um lado ao outro.

No entanto, tal como as sirenas dos gregos e as águas dos lagos, que placidamente aguardam pela lua, haverá, pela certa, mistérios que são só dela.

A donzela é o exemplo de moça que cresceu antes do tempo, ri sem esboçar sorriso, gentil, delicada, espirituosa e que bela e graciosa atravessa a rua.

Mulheres tão detalhadas, delicadas como diamante.

Cruzei-me com as duas hoje.

Dei conta das vestes longas da senhora a abandonarem um corredor e deparei-me com a figura de alabastro da donzela a espelhar conversas no átrio.

Cruzámo-nos nos olhos várias vezes, o entendimento atravessa-me e falámos sem falar.

Já me disseram muitas coisas e eu gosto muito disto, gosto muito de observar e gosto, mais ainda, de ter momentos de entendimento e compreensão sem dizer uma única palavra, como se tivesse subido uma caleira e pudesse espreitar por cima das nuvens ou, descido duas, e fosse visitar a barriga da Terra.

E, ao contrário do que achei no passado ao ler o texto da senhora de negro, jamais lhes quero falar, não preciso e alagaria tudo.

Que rudimentares me parecem estas palavras para descrever tais singularidades.

É tão engraçado quando nos apercebemos de que temos almas que nos brotam dos olhos.

Almas que já viveram e vivem outros mundos.

publicado por Ligeia Noire às 21:10

29
Dez 11


Essa boca rubra deixando cair palavras gálicas… delicia-me.

Sempre achei que o negro e o branco se entrelaçavam em ti como em ninguém.

Tinha-te saudades desmedidas e continuas a mais bela.

Mãos de alabastro que me iam amimando o vestido, agasalho-te o desejo.

E apesar de revelares que serás dama, sei que não lhe pertences e gosto de como pensas, gosto que prefiras a segurança e deixes o derrame para noites escondidas.

Donzela, que me perdoem a seara e as azeitonas negras mas, a ti, prendo-me como pérolas.


publicado por Ligeia Noire às 18:03
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