“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

01
Out 12


Espera e escuta:

Não sei se estou a forçar-me a pensar assim mas há momentos antes de adormecer em que se escondem, por detrás das pálpebras, vislumbres de querer ser a tua mulher: Cavaleiro-das-Terras-Brancas.

Vestir a renda que teceste desde o dia em que me viste de vestido sem cor e cabelo todo descido, ó aranha laboriosa, ser assim e acreditar nesse "ser assim", piedosamente.

Também eu quero entrar nesse estupor e apagar tudo o que se fez de mim antes.

Existem estes momentos daninhos em que penso que, talvez, pudesse ser feliz se subisse ao teu cavalo, é como se eu fosse duas, a que quer durar no abismo rodeada de pecado, avassalando o corpo para desumanizar a alma e a que quer escolher o caminho sem lobos.


Lamb of God have mercy on us

Lamb of God won't you grant us?

 

Existem estas vontades dentro de mim e há trilhos que corroboram as duas.

Esta portinhola donde me espreito com ele e me ouço a dizer que não haverá melhor pescador, ao que objectas:

e o que faz deste melhor do que os outros?

E com franqueza te clarifico meu amigo, ele não é sequer pescador é cavaleiro e o cavalo é branco.

Agora, que me permiti a ver a impossibilidade de animar o meu Frankenstein e que o Aristocrata não existe, pelo menos aquele que eu fazia dele, vingo-me na aceitação da normalidade bacoca dos dias que começam às nove.

E objectas outra vez, ao quase ter fechado a boa vontade a estes vislumbres de luz em horas de sono:

Queres fazer isso para acabares com as tuas vigílias, fechar a porta e oferecer sorrisos cheios ao que te ama e aos que te esperam inteira.

Espera Supremo, deixa-me descer daqui, puxar a aldrava e molhar os dentes.

Sabes… não há propósito neste soalho, nesta manta nos pés descalços ou no amortiçar dos olhos na Geena, não sei se é desistência ou impossibilidade, sei que é tristeza sem cauda.

…porque a minha outra vontade, meu senhor, a urgente, a extasiada, a licenciosa, a mais funesta das vontades feitas fome quer atingir o mais puro negro, engolir negritude sem plenitude possível, transfigurar-se em pura fonte de carvão, que jorrará na boca do mais casto dos lírios brancos, até que essa maldita flor nevada se torne negra, faça a chuva que fizer.

É negra que a quero, negra, tão negra que tudo o que se acercar do bocado de terra onde ela esbracejar as raízes se torne negro também, como se ela fosse um sol pousado.

Ser imprópria para consumo, desgraçada, obscena, vadio vaso quebrado sem retorno ou extrema-unção.

Escandalizar e escancarar olhos e bocas além-caminho, mostrar-vos o avesso do que vos abscondo, ó mundo expirado sem saber de suicídio.

publicado por Ligeia Noire às 14:50

04
Jul 12


Ninguém tira o pecado do mundo.

Ontem, ao finalmente terminar de ler O Castelo de Otranto, senti-me como a Hipólita, uma idiota que se conforma com a idiotia que lhe puserem no prato porque gosta da onda de prazer que lhe advém da martirização.

-Minha cara, acho por bem fatiarmos-lhe os dois braços porque Looks like it's gonna be another one of those rainy days again...

E, sem gastar a balança ou lhe usar os pratos já sabe de antemão que o melhor é conformar-se.

Sem meter pés ao caminho, já lhe fareja a inutilidade.

Há um esconderijo muito escondido cá dentro e enquanto o mantiver jamais conseguirei sentir-me toda limpa.

Não estava à espera desta carta, palavras desenhadas como as desenharia o Cavaleiro-das-Terras-Brancas que o cavalheiro é.

Todavia, enquanto os meus olhos ainda ensonados iam descendo pelas linhas ornadas de traços fortes e precisos via-me virgem casta cada vez mais elevada, tão elevada me mantém, que acho nem ele mesmo me conseguir tocar.

Não gosto, eu não fico bem de branco, nem de diadema mas partilho-te das saudades, meu querido.

Ainda não consegui perceber qual de mim vê ele…

Tenho por certo, que nenhuma das quatro merece tamanhos e tão longos afectos.

Ah, é verdade, a flor-selvagem secou.

Sempre soube que o que lhe devotava era uma forçada vontade de me ver enamorada e, não fui assim tão desventurada, consegui uma paixão menina na sua orla mas bravia no miolo.

Tomei-lhe a boca e o corpo e as mãos nas pálpebras, desenhei mesuras e sofrimentos, enlacei-lhe fitas rosa nos pulsos.

Foram demasiados anos de inutilidades pequenas e beijos sôfregos.

Chorei-lhe algumas lágrimas, minto, muitas.

Era necessário que toda eu me acreditasse na devoção que pensei conseguir cultivar, para que ao estádio de fruto chegasse mas dou-me conta de que o caixão onde me acho continua com espaço apenas para mim e para o meu cabelo enlaçado.

Ainda há duas ou três contas de rosário negro de vidro para desfiar mas preciso voltar para dormir.

For in the back of my mind I always thought I'd find my way to paradise

publicado por Ligeia Noire às 12:38

29
Jun 12


Deveria estar a dormir, não queremos que a rapariga russa nos veja o sono, pois não?

Estava aqui à procura da lua mas não lhe encontrei, sequer, uma nesga…

Há bocado, por momentos, achei ter visto o rapaz ruivamente belo, seria uma bela despedida, uma bela imagem para guardar no coração mas era apenas um anónimo a conversar com outros anónimos.

Nem ele nem o Cavaleiro-das-Terras-Brancas.

Foram-se todos e, espero, não os encontrar jamais, não quero.

Terei noites mansinhas para os decorar nos sonhos que, perpetuá-los assim de perfeição, é apanágio meu.

Houve e há larvas nojentas, bifurcadas, que proliferam pelas pisaduras que infligem, apenas me fizeram reparar que para encontrar o paraíso preciso de as esmagar a todas.

Afinal nada podeis, nada, vácuo, vazio, nada sois.

Continuai, rastejai mas prossegui imaginando que por cima da comum mortalidade esvoaçais, pois no dia do juízo final, beberei à vossa nudez impossível de encovar.

Não me esqueci das luas cheias e das mais escalifraditas e rebuçados e abraços de rosas e beijos de lírios e amanhecerá depressa preciso de acelerar o passo.

Vejo o barqueiro, de tricórnio mais negro do que a noite, parado.

Traz alguém na barca, espero conseguir saltar desta vez.

É tempo de calçar os sapatos e colocar o capuz, o dia amanhecerá num instante.

publicado por Ligeia Noire às 01:49
etiquetas: ,

14
Dez 11


Há coisas, claro que há coisas.

Tenho de alterar o pódio das minhas etiquetas.

O melhor pedaço para a construção do meu Frankenstein, desapareceu no nevoeiro nocturno.

De quando em vez, deparo-me com um noviço, ruivamente belo, mas falta-lhe a fundura dos olhos.

Segunda-feira, manhã de nevoeiro em que me apercebi de que não deveria estar aqui.

Eriçou-se-me o pêlo como a um gato.

Talvez seja essa a resposta para a queda sempre menina.

Descobri a linha vermelha.

Eu deveria ter caído há dezoito anos.

"Se a tivesse trazido um dia mais tarde, ela teria morrido".

Prosseguirei, sim, mais tarde, quando tiver decifrado o que me cifraste.

publicado por Ligeia Noire às 00:14

02
Nov 11


Em circunstâncias normais, isto seria impossível, ainda não te teria concedido existência para que Ele te pudesse mimosear os pulmões.

Serias assim... como que capaz de ler tudo isto de uma assentada.

No passado, não oferecia as minhas contendas a brinquedos.

Se te controlares verás que é praticável tomar conta do asco e olhar-me com calma.

Se parasses, se não toldasses os olhos de cada vez que te nasço no horizonte, talvez te apercebesses de que também tenho claridade e doçura, de que os meus traços não são assim tão crespos e virulentos.

Entristecesses-me, entristecesses-me aos bocados e coisa criada não pode tomar o lugar do criador.

Digo que me toldas o sorriso, apenas e só, não me constringes, não me avassalas, nem sequer possuis a virtude de me enlaçar o pescoço.

Não são os teus olhos nublados ou o teu corpo de recuo que me atemorizam, eu não agonizo na tua supremacia, nesse teu reino de pessoas livres, vestidas de coisas por acontecer e de mãos abertas, tens razão eu não caibo, nem me consigno.

Interessavam-me os teus olhos, interessa-me, ainda, a tua beleza ruiva mas não consegui conter-te um instante que fosse.

Ele, porventura, sabe de que me enganei, tu ainda não sabes falar e eu não consigo abrir a boca.

Não foste escolhido com base em cálculos e teorizações, não sabia se o teu corpo e as tuas entranhas se moldariam ao meu esboço mas sabia que a nebulosidade dos teus olhos era perfeita para que pudesse, finalmente, testar a escada industrial.

O espaço que via preenchido sempre que não te abrigavas da chuva, era o que me movia a curiosidade experimental e visceral para que deixasse escorrer das palmas das minhas mãos, fios de seda nipónicos capazes de te anestesiarem o coração.

Falhei, admito e lamento mas tudo isto não pode prosseguir sem que me dês permissão, se não me ajudares, se não engolires o meu fermentado sopro de vida, não posso deixar que te nasças de mim.

Sentar-me-ei junto à lareira e desabotoarei as mangas para que possa fechar o ventre venenoso que te criou e te conduziu a este mundo de bocados e esquinas sempre escuras e sempre aguçadas.

Se não queres, se não gostas, se te repugno, não há nada em mim, ou ao alcance das minhas mãos, ainda estéreis, que te possa volver no passadiço.

Peço, pois, que não me cruzes mais o caminho

publicado por Ligeia Noire às 21:35

21
Nov 10


I hid the keys to unlock love's heart

To hold you in my sweetest pain and suffering

Everything's unfair in our lust and war
Redemption beyond right and wrong 

 

In our hearts love keeps sweet-talking to despair
And goes on sleepwalking past hope
All is lost in this war
And all we can do is to wail and weep to the saddest song
Sleepwalking past hope

 

I unlit the light to embrace the dark
To be near but not to turn into you my darling
Forever we're lost in our souls' storm
Reflections of each other's faults

 

I gave up long ago
Painting love with crimson flow
Ran out of blood and hope
So I paint you no more

 

My hell begins from the 10th and descends to the circle

Six hundred threescore and six
And from there I crawl beneath Lucifer's claws just for one last kiss

 

Letra da autoria de His Infernal Majesty/Lyrics by His Infernal Majesty

 

publicado por Ligeia Noire às 00:14
etiquetas: ,

19
Jun 09


Não há fronteira que me divida os dias.

São de sangue as únicas pessoas que amam.

Nunca tive afecto fora das veias.

Procurei e não procurei.

E de forma nenhuma o obtive.

Sempre se revelou fugidio, decrescente e pouco presente.

Como uma espécie de coma gelado visitado por ligeiras percepções.

Assim têm sido os últimos anos.

O vento cortante das Terras do Norte fustiga-me nos sonhos.

Demasiado pequena para revelar audácia.

Sou um leão sem coragem.

Um leão de papel.

Pego-me na mão e digo com muito carinho, estás delicadamente sozinha, sofregamente acordada.

E pouso a mão no peito.

O meu peito tenro.

Os olhos ficaram pequeninos.

A água deles brilha nas velas.

Eu preciso.

Eu peço. 

Eu suplico. 

Eu mendigo cessação. 

Cessação.

Apenas e somente a Cessação.

Socorrei-me.

Vinde em meu auxílio anjo do desterro.

Levai-me nas vossas plumas e embebei-me no final.

No acabamento.

No sentido absoluto.

Fazei de mim coisa acabada.

Corpo satisfeito.

Por entre a folhagem do nada e as raízes do depois, deixai-me jazida sem olhos de lágrimas e peito de vidro.

Cessai-me.

 

publicado por Ligeia Noire às 00:04
etiquetas:

mais sobre mim
Agosto 2015
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


Fotos
pesquisar
 
arquivos