“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

26
Abr 11


Se calhar, tudo isto é o paradoxo com pernas.

Se calhar, só consigo amar a mim própria, loucamente, excessivamente e gravemente.

O amor obsessivo que prefere o nada se não tem o tudo.

A paixão pela perfeição inteira que desfaz, devagarinho, tudo o que lhe contradiga os olhos.

Não me peças para explicar.

Há dias em que me sinto o lírio mais belo para que, em outros, me possa comer as pétalas e culpar-me pela morte do caule em estertores.

Às vezes, sinto isto tenuemente como se esse eu (seja lá quem esse eu for) não quisesse que me apercebesse.

Como se deixasse de ser eu, se soubesse as teias em que me emaranhei, desde que o ar me inchou as narinas.

Serão todos caprichos, volúpias, jogos de sedução de que me canso?

Amores que verto de demasiado alto para que nunca ninguém lá consiga subir.

Não sei se me obrigo a fazer-me companhia ou se estou obcecada comigo toda.

As unhas, o coração que me lateja na carótida, o cabelo que me tapa o torso, as mamas que me resvalam para as mãos… e os olhos, os meus olhos, o que mais me inquieta são eles... sempre foram eles porque sei que têm pessoas dentro, uma, duas, não sei.

Não sei, não sei, sinto-me tão irrequieta e infectada, como assustada e reticente.

Quero continuar a aguçar-me e a escavar-me mas tenho medo de não ter migalhas suficientes para me alimentarem o caminho de volta.

E os amantes?

(ir com calma, caminho minado).

Queria senti-los muito mais do que no cadáver mas nunca deixei que me descobrissem, nunca achei que o soubessem fazer.

Aquieto-me sempre, plantando palavras em todos os cantos do cérebro, para me alimentarem a certeza de que eles não me sabiam, de como nunca seriam capazes de me atordoar.

Havia sempre um lanho no rosto, uma mordacidade que faltava, um beijo que dormia, um inebriamento que nunca sucedia.

Sempre fechei os olhos.

Mas, por certo, nunca deixei que fossem algo, sempre os reduzi a si próprios e, alguns, temo, a meros lenços de seda mas, depois, sinto-me rosa florida de sangue e apraz-me amar o mundo e todos e todos, sinto-me a virgem pura que quer aperfeiçoar o Homem, a Mulher Escarlate que abarca a imensidão e sorrio sem nada, só pelo prazer de ver o sorriso.

Acho que são as pessoas que tenho nos meus olhos que fazem isso.

Amo os que têm o meu sangue e por isso apenas, egoisticamente, conheço o amor.

Volto a ti e desço-me as mãos nas tuas, agora, que estás de branco vestido (outra vez) e de coração cheio, espero que me aches dentro de tudo isto.

Eles são todos eu?

E tu também me és ou eu é que te sou?

Vence-me e não digas que a vitória te é indiferente!

Eu que sempre quis ser a presa, eu que sempre quis a loucura, eu que sempre quis o extremo, sou a raposa sempre, a suicida consciente, a gata preguiçosa.

Deixa-o descer, deixa-o encher o receptáculo de carne, a carne de sangue e vence-me.

Mesmo que seja efémero, mesmo que ele seja um Filho-da-lua e tenha de voltar contigo.

Percebe-me o peito que te fala alto e lê-me o olhos.

Anseio que todos os espinhos das doces rosas se me enterrem nas mãos, desejo-os a cravarem-me o peito.

Não ter ossos suficientemente robustos para conter tudo o que ele me fizer sentir.

Desejo consubstanciá-lo e perpetuá-lo na morte.

Anseio por ser a sua viúva negra, de rosto rendado e de amor esfacelado mas sentido e sangrado.

Vá, prova-me que sou una e completa e que este é o meu último naufrágio.

Estou solene e vim sozinha, curvo-me e beijo-te a mão, empunho a espada e aguardo pela retaliação.

publicado por Ligeia Noire às 23:45

09
Mar 11


Os meus olhos não são azuis mas às vezes assemelham-se a rios imorredouros.

As mãos são pequenas, demasiado pequenas para cobrirem todas as imperfeições, golpes, fracturas, dores ressequidas e poças insalubres que vertem dos sonhos enquanto durmo.

E conturbam-se os meus olhos e vejo a lama, o lodo e as folhas mortas, deslizarem de um lado para o outro.

É, às vezes, fico assim instantaneamente, como se fosse um saco de pó virginal que num ápice se torna em fuga eterna e dá morte ao portador.

E sozinha prossigo, já nem tu, já nem tu…

O tempo terminou-nos.

Não queria prosseguir, levantar e retomar mas as mãos tapam os lanhos e a puta mente cada vez mais.

Sabes no que te estás a tornar, certo?

Sabes que para onde estás a descer não há retorno.

Podias ter saltado.

Podias ter saltado

Podias ter saltado

Podias ter saltado.

Tu...

podias

ter

saltado, foda-se!

Mas preferiste abandonar-te ao sono, à paralisia, ao veneno.

Podias ter sido uma pessoa.

Podias ter saltado...

Sinto tanta pena de ti, perco-me na misericórdia que te sinto quando te cobres e quando te levantas tarde para obrigar a noite a prolongar-se na tua cabeça.

Perco-me de pena quando te vejo os olhos rasos a perdurarem na lareira e aqueces as mãos devagarinho, para que o tempo não saia dali e te deixe sozinha.

Sento-me e vejo-te não dormir e vejo-te chorar e vejo-te o peito a doer e as mãos a enxugarem os olhos vermelhos.

Vejo-te assim e perduras-me na memória e tanta é a pena que sinto de ti.

Nunca ousei imaginar o tanto que durarias!

E não, não minha querida, sabes que não é uma vitória.

Sabes que é apenas o amontoar, cada vez mais veloz, de pedras feias que irás ter de contar e carregar até ao vale dos indigentes.

És como aquelas espigas mirradas, aquelas cerejas verdes, aquelas formigas aleijadas, o tempo que durais é sempre tempo a mais, tempo desnecessário, tempo de vergonha.

Deveria pegar-te ao colo e baloiçar-te o corpo magoado nesta minha cadeira mas sabes... não é a mesma coisa.

É como quando tocamos o nosso rosto, ou damos a mão à nossa mão, é tecido do mesmo fabricante e os leucócitos nem sequer se aborrecem em sair dos casulos.

A soberba arte de afastar tudo (mas mesmo tudinho) e todos de vossa mercê é notável!

Às vezes nem sequer se apercebem de que já não os queres ali... de que já vestiste a armadura.

E, meu amor, assim te vejo continuar a afundares-te nas tuas estórias e nos teus comprimidos pueris que te desmamam cada vez mais da vida, até te tornares incompreensível.

Até toda tu te conseguires deglutir.

A desumana consciência, constante e negra.

publicado por Ligeia Noire às 17:40

19
Jan 11


A mulher interpelou-me na rua e, ao contrário do que me é característico fazer com quem me costumo cruzar, para ela abri um sorriso... se calhar não me é assim tão contrário, se a pessoa me inspira confiança, é comum que me apresente serena.

Atravessava eu uma ruela envelhecida, o cabelo dançava com o vento, quando uma cigana se aproxima e me indaga sobre ele, elogiando-o e perguntando o que fazia eu para que ele fosse assim... Corei e respondi... nada.

Vem do cabelo de corvo da minha mãe e dos caracóis vastos do meu pai, pensei.

Pelos vistos já me havia visto outras vezes.

Por entre uma cara franca e pequenas frases ditas olhos nos olhos termina com:

Deus a abençoe.

Já não é a primeira vez que um ou outro cigano me aborda de rosto franco e palavras que me recordam as gentes da minha aldeia.

Nutro uma profunda admiração e curiosidade pela vida deste povo, tão martirizado ao longo dos tempos.

As mulheres, meninas e moças de cabelos densos, peito farto e ar desembaraçado e selvagem, os anciãos de vestes negras e aparência apocalíptica.

Têm nas mãos os traços do mundo.

Numa certa entrevista, a Diamanda Galás falava de como se sentia orgulhosa de ser de ascendência grega e como gostava de, aquando da sua estadia em países do sul da Europa, não se distinguir das outras mulheres, como todas elas têm traços fortes, rostos duros, olhos profundos, cabeleiras fartas.

Continuava, dizendo que não apreciava belezas tradicionais e rostos delicados e frágeis.

A Diamanda canta muitos povos.

Romenos, Arménios, Assírios, Gregos...

A Diamanda é especial e a sua musica é crua e muitas vezes sufoca-nos porque ela canta a alma de povos chacinados, de dores de sangue, de mortandade escondida.

Ao falar com a senhora cigana, tudo isto me acorre à memória.

Tenho um orgulho desmedido e lavado de ser filha de pais de peito e alma nobre, respeitadores, humildes, verdadeiras preciosidades.

Assim como irmã de pessoas completas, fortes e sensatas.

Orgulho-me de ter crescido no meio do:

monte,

do campo,

das vacas pretas e brancas,

dos esquilos,

das raposas,

das corujas,

dos ratos,

da erva-molar,

das oliveiras pesadas,

dos plátanos monstruosos,

dos santieiros,

dos lírios,

das roseiras,

das videiras imensas,

gladíolos,

fiteiros,

agua gélida,

neve de cristal,

velhos de coração puro,

gatos de todas as cores e com vidas ocupadas,

cães que levei para casa e que me deixaram os filhos,

as serras que se cobrem de neve e me protegem do alheio.

Foi nisto tudo que pensei quando a senhora me tocou no ombro e me falou de olhar franco.

Tudo isto tem tanto de sublime como de correnteza para alto mar e é tudo isto que me prende aqui e é a tudo isto que dou valor e faço reverência.

O que um dia chamei "a corrente de suspensão", por tudo isto me sinto pequena e de coração espinhoso por não ser mais e melhor.

De tudo isto me lembro quando abro os olhos para o circo de desilusões, o circo burlesco que se me dispõe aos pés.

O circo do que me repugna e que nem sequer concedo o direito de me tocar, o circo do que me iludiu mas que nunca é tarde para desmanchar.

Tenho tanto de doce como de vinagre, são precisas luas para me navegarem nos olhos.

No entanto, se estes vos reconhecerem de outras eras e vos souberem feitos de sentimentos nobres e palavras francas, distende-se vasto e devoluto o meu coração.

No entanto, ele tem-se mantido enrolado e desconfiado como um gato em casa alheia e assim se irá manter.

Este teatro tem demasiados actos, demasiadas personagens a perfazer o mesmo papel.

Todavia, tenho assistido de camarote a todas as sessões, já conheço a tragédia de cor.

publicado por Ligeia Noire às 22:26

16
Jan 11


I commend myself to a death of no importance,

to the amputation of all seeking hands,

pulling, grasping, with the might of nations,

of sirens, in a never ending bloody bliss

To the death of mere savagery

and the birth of pearly, white terror.


Wild women with veins slashed and wombs spread,

singing songs of the death instinct

in voices yet unheard,

praising nothing but the promise of Death on earth,

laughing seas of grinning red, red eyes,

all washed ashore and devoured

by hard and unseeing spiders.

 

I commend myself to a death beyond all hope of redemption.

Beyond the desire for forgetfulness,

beyond the desire to feel all things at every moment,

But to never forget

to kill for the sake of killing,

and with a pure and most happy heart,

extoll and redeem Disease.

 

Lyrics by Diamanda Galás /Letra da autoria de Diamanda Galás


publicado por Ligeia Noire às 00:05

09
Dez 10

 I

 

Apartando-me de tudo, é como me sinto, ninguém me tem, ou quase ninguém.

Consumida.

Já deverias saber que, afinal de contas, acontece sempre o improvável.

Nunca mas nunca e mesmo nunca abrir as portas, nunca deixar que te naveguem os olhos.

Não te esqueças que tu és só tua, tu és apenas tua, ninguém te pode ter como tu te tens.

Tu és o cálice único e afeiçoado que te consegue conter.

Todo o resto são apetrechos da vida, caminhos que te darão prazer, ou que trarão o cheiro putrefacto da morte.

São inevitáveis mas, no final do dia, lembra-te de ti, lembra-te que eles nunca saberão quem és.

Eles farão sempre perguntas.

Lembra-te que, amor... só o de sangue.

O que te corre e o que tu fizeste correr.

  

II

 

Eu sei, eu sei, eu nunca me esqueci disso mas sabes que às vezes é difícil, às vezes conseguem brincar comigo, sabes como eu gosto de ser boneca, sabes como eu gosto de dançar para eles…

Desculpa se te toldei o peito, eu lembro-me, eu nunca me esqueci.

Eu amo-te, eu, de mim, de dentro, tua, minha, filha negra.

É que… Às vezes canso-me de esperar.

Às vezes sinto que sou demasiado grande para me enrolar.

Às vezes, só a anestesia não chega, não é perpétua.

Entendes?

Tu estás aí dentro, no jardim, é fácil para ti não é?

É fácil saber-me tua máscara, teu sudário.

    

III

 

Esta aversão suja vem do fundo podre, do lado que não vês.

E toca-me com mãos de lâminas e beija-me com uma boca espinhosa.

Acende velas e fica ali a ver-me.

A noite fica tão comprida... a noite cai-me toda em cima.

Eu quero recolher-me mas não consigo.

Não me sei mexer e esqueço-me de como falar.

Sabes disso?

Vês-me?

A pele branca e quente disposta no escuro a ser remexida pelo ódio e pela dureza.

Os dentes de porcelana a tocarem-lhe nas unhas.

É tão entrelaçado.

É tão difícil.

É quando me sinto mais minha.

    

publicado por Ligeia Noire às 19:48
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17
Mai 10


Olhava para ela como um rato pequeno e mirrado.

Um bicho insignificante que pedia clemência.

Ela olhou-me do alto de si e, tremeluzente, foi-se embora.

Eu fiquei no meio da humidade da cave, à espera, a comer-me e a comer-me… talvez a mim pertencesse o condão da finitude.

Anos e mais anos cheios de dias de dor insuportável, foram-se empurrando e aglutinando em cima das minhas costas, as costas de um pobre rato de bigodes encarquilhados.

Ela voltou vestida de tudo e disse:

O teu espaço é tão grande e tu não sais do sítio!

Já não sabia rastejar, já não sabia se tinha corpo.

O corpo de um rato cheio de nada.

Eu era o que sou e eu sou o que fui.

Sempre que ela descia ao meu ninho, eu podia perceber de quanta miséria era portadora, de quantas chagas me ocupavam as patas, dos restos de pêlo que do meu corpo apodreciam.

E, desta minha indignidade, conseguia ver todo o vazio que exalava.

O vazio que ocupava, o vazio que sentia e o vazio em que vivia.

Eu era um rato esfacelado de vazio.

Um rato disforme, um rato que havia caminhado com as suas patas pequenas até à cave, que de negra era tão virgem e tão mãe.

Ela era uma coisa.

Uma coisa que me fazia arder os olhos.

Ela alcançava o meu gasto e ressequido pescoço de rato e provava-me o quão literal é "quase-morrer".

Ela dizia-me muitas coisas sem palavras… coisas que me deixavam os olhos fechados pela dor de tamanho alcance.

Ela fazia doer tudo o que ainda se escondia por debaixo daquela pele escamada de rato.

Os meus ossos mendigos e definhados ressoavam a voz dela e eu ouvia-a muito, como se toda eu fosse ouvidos.

Ela só falava coisas pequenas e raras, coisas que me faziam chorar.

Ela era tamanha.

Tão grande, que os seus braços me tocavam o coração.

Eu tinha um coração, um coração de rato pequeno, também ele mirrado e espesso.

Ela tocava-o com aquelas unhas de mármore, garras que me colhiam os gemidos.

Era um buraco a minha casa.

Eu tinha uma casa.

E essa casa, era a casa de um rato.

Quando abri os olhos pela última vez, vi-a de perto.

Tinham passados muitos anos, anos mais compridos do que aqueles outros.

Tempos sem que ela me viesse encharcar a cabeça de coisas feias.

Coisas feias que aleijam e não se esquecem, não cessam e abrasam de lâmina afiada.

E lá estava ela, vês rato pequeno, vê-la ali?

Com aquela voz que não é igual às vozes disse-me em tons de vidro:

Foste assim de bicho vestida e, vais assim de bicho que jaz com os olhos pequeninos e aguados, como quem

sempre pediu um bocadinho de pão, daqueles muito pequenos, e ficou uma vida à espera de que lhe matassem a fome.

Ela debruçou-se do alto da sua altura e pegou-lhe numa das patas, colhendo-o como se colhe um rato da cave, tão pequeno que, naquela altura de branco vidral, nem sente.

Nem sente.


publicado por Ligeia Noire às 00:19

10
Mai 10


Se o álcool chegasse…

Ó, se o álcool chegasse para me dar paz, beberia até ter o fígado podre.

Se a minha coragem fosse igual ao meu desalento, teria longas tréguas com substâncias mal doseadas.

Se eu soubesse ser-me, teria os olhos secos, mas eu sei, eu sei ser-me… o problema é ser eu, assim, desta forma desfalcada e violenta e cheia de fomes e coisas que não sei escrever.

Sentada, a fingir que sei ser uma pessoa… o mundo rodopia aos meus olhos e eu fico ali quieta e fictícia.

publicado por Ligeia Noire às 00:52
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21
Abr 10


Amanita phalloides na sopa do Mundo.

Néscios, escravos idiotas que somos.

Escravos de um mundo inventado, da vida de porcelana, da morte mundana e de tudo o que é apanhado pelas presas da grande Besta.

Entediada e enojada desta wonderland story onde somos conduzidos, induzidos, fodidos e levados a crer que o mal mora no universo ao lado, ao qual não se chega, a não ser que nos percamos.

Os outros é que são os maus.

O mal é predicado dos outros.

O mal poderia ser extinto se todos fossem como nós.

Nós somos bons, nós estamos do lado certo.

Nós, nós e nós...

Connosco e convosco, a vós e por vós minha vida se prende num rodopio de absinto escarlate.

Fode-se a minha vida porque tenho os olhos abertos.

  

Vena Cava


 

I wake up and I see the face of the devil

and I ask Him

What time is it?

What time is it?

What time is it?

What time is it?

What time is it?

What time is it?

What time is it?

What time is it?

What time is it?

(How do you feel today?)

What time is it?

(How do you feel today?)

Well, I think I'm feeling better

What time is it?

What time is it?

What time is it?

What TIME IS IT?

(How do you feel today?)

Well, I think I'm feeling better

(Do you?)

Yes, I think I'm feeling better;

You know I was just thinking if I could just get out of here some time and do

something, you know and stop looking at the TV and just do anything at all

I would be so happy... just give myself something to do, you know I...

(Do you?)

What time is it?

Better better better better

WHAT TIME IS IT?

(How much time do you want?)

I want? I want?

Why you... I want...

(How much time do you want?)

Well, I was just thinking that perhaps

could have just...

(Do you?)

Better? Better? Better? Better?

(How much time do I want?)

I want... I want... How much time do I have?

Why you... why you.. I want.. I want...

no one knows... where I'm going.

(You know we've been talking about you downstairs and

we don't think perhaps you are not being realistic that perhaps

you are being unrealistic... it seems that you are not...

we think that you have not faced up to what is going on...)

Better?

Better?

Better?

Better?

Are you sure, perhaps, you know,

you've gone insane...

Better?

Better?

Better?

Better?

Black!

Black!

Black!

Black!

White lights

White lights

White lights

White lights

Black! Black! Black!

White lights

Better

Better

Better

Better

................


Well sister, if I could do it all over again,

I would, but you know there's something

unnatural about this thing...

there's something unnatural about this thing...

keep it in your memory...

people forget... about...

(Hi, how are you? Hi, how are you?)

I'm fine

I'm fine

(Hi, how are you? How are you?)

I'm fine

I'm just fine,

(How are you, anyway?)

and how are YOU

and how are YOU

any how are YOU

I'M FINE, MISS THING

I JUST FEEL LIKE SINGING THE BATTLE HYMN OF THE REPUBLIC

GET OUT OF HERE

GET OUT

GET OUT

GET OUT

GET OUT

...


How are you?

please don't go

please don't go

please don't go

You are the love of my life

I have never loved anyone like this before

and I never will again

don't go...

I'm sorry, miss

you can't come in now

he has developed shingles

and you could contract it

and it might be meningitis and

not be able to have children...

Children children children

Children children children

Children children children

Children children children

Am I having children

When my baby is dying?

When my baby is dying?

THIS IS MY BLOOD

THIS IS MY BLOOD

THIS IS MY BLOOD

WHITE LIGHTS

WHITE LIGHTS

WHITE LIGHTS

WHITE LIGHTS

BLACK

BLACK

BLACK

BLACK

......


I dreamed I stuck a gun to my head and I dreamed

I was lying in a pool of blood

and they looked down at me

and said:

It's over now...

It's over now...

Now, at least, he is in peace. 

FREE

FREE

FREE

FREE

Who turn the fucking light off?

I dreamed I was lying in the green grass

and the wind was blowing softly

and blue was everywhere

and I saw heads popping out through the grass

and it seemed as if they knew me...

Hi Dimitri, Hi Dimitri, Hi Dimitri. Hi Dimitri

Heaven... Heaven...

BLACK

BLACK

BLACK

BLACK

Heaven... I see Heaven...

 

Letra de Diamanda Galás/lyrics by Diamanda Galás

publicado por Ligeia Noire às 22:59

09
Mar 09
 

I  

 

Sim, estou sozinha.

Sim, hoje acredito que as coisas acabam e mudam.

Sim, estou desiludida.

Sim, quero ficar sozinha a carpir-me.

Quantas certezas o tempo nos desfaz?

Quantas?!

Estamos tão certos…tão certos de que.

 

II

 

Não tenho idade para sentir isto, aliás, não sei se é preciso ter idade.

Mas sinto que não podemos fechar os olhos e deixarmo-nos cair com a digna confiança de que alguém nos apanhará.

Não.

O "alguém" não te vai apanhar para sempre.

As coisas, as pessoas, a forma de as termos e vermos muda.

É com um trago a final, um sabor a:

"já não as sinto como imprescindíveis" que escrevo.

É estranho, sabes…

É estranho dizer isto, finalmente libertei-me!

Continuo cheia de pesares e tristezas mas acho que sim.

Sinto pena e saudade, apenas.

Sim, isso é o que sinto.

Acho que "o gostar" se foi perdendo.

Acho que me mataram "o gostar" mas se calhar é mesmo assim.

Não podemos gostar incondicionalmente para todo o sempre.

Contudo, não quero levar a crer que não dói.

Continua a doer mas de uma forma diferente.

Já passou.

Já não tenho medo de perder.

De desiludir.

Não existe.

Não há.

Não quero.

Não sei muito bem o que despoletou isto.

Se calhar até sei… mas não vale a pena voltar ao passado.

O passado é cristal frágil ao peito e intransponível ao acto…

 Sim, é verdade, quem nos perde jamais nos volta a ter de igual entrega.

As coisas podem parecer de igual forma, mas enganem-se a vocês próprios. 

O tempo acabará por vos abrir os olhos e injectar-vos a dor em dose dupla.

O mais engraçado é que quando algo cessa seria suposto deixar de doer.

Não é assim.

Pensámos no que poderíamos ter alterado.

Quando mudou, porque mudou…

E sim, há razão quando dizem que o sítio onde crescemos não muda.

São os mesmos barulhos, cheiros e árvores.

É tudo igual.

Nós é que realmente já não ficámos iguais na paisagem.

Nós é que nos perdemos.

Nós é que deixámos as raízes sem solo profundo para clamar.

 

III

 

Sinto um vazio enorme.

Sinto uma falta tão grande cá dentro.

Será que somos pessoas realmente diferentes?

Sinto-me a agonizar.

Como se precisasse de fazer um enorme esforço para respirar.

Como se o meu coração quisesse parar.

Pensei que já não estavas aqui.

Pelo menos, não tanto… mas acho que ainda pertences ao meu peito.

Gostava de te ter abraçado mais.

Gostava de ter parado mais vezes os meus olhos nos teus olhos.

Gostava de ter bebido mais do teu canto.

Gostava de te ter feito sorrir mais.

Gostava de te ter enxugado o pranto.

Gostava de me ter apercebido mais cedo que ainda estás cá dentro.

Gostava, realmente, que o tempo parasse.

Gostava que fosses mais feliz.

Gostava de ter ficado lá, a ver-te partir.

Gostava que tivesse chovido muito.

Muito mais do que chovia.

Perdi a força nos braços.

Nem o sangue se sustém no nariz.

Foi sempre contigo que me senti assim.

Foi sempre a nossa amizade que me causou esta espécie de sufoco, de perda de percepção quando te vais.

Não me apercebi, animicamente, da tua chegada.

Que passeávamos juntas.

Que dormias no quarto ao lado.

Pensei que já não havia nada a cristalizar.

Nada a superar.

Nada que me perturbasse como daquela vez.

Percebi que a vontade de chorar durante o filme, na rua e na paragem, não era apenas o desespero de uma vida que me mata, era também por ti.

Pelo que fica quando partes… porque sim, eu não me apercebi "cá dentro" de já cá estares.

Estares perto mas, com certezas de lágrimas antigas, soube da tua partida.

E sim, nós somos apenas um momento no tempo.

A dor do amanhã que nasce sob a minha impossibilidade e me atira numa rotina de deriva.

A deriva que me trucida.

O ter estado escassas horas com alguém que partilha muito do meu mundo e só me ter apercebido depois.

Depois de a realidade te ter colocado longe.

Dizem que há coisas que nunca mudam.

Não sei.

Ou talvez até saiba mas não possua ferramentas aptas para o descobrir.

Pareço ter uma corda áspera a prender-me a respiração.

Diz-me Senhor do Mundo, por que temos de viver às escuras?

Por que é tão dolorosa a passagem do tempo?

Por que fazes as horas encurtarem-se quando não as estamos a ver?

Gostava tanto de ser..

 

IV

 

Hoje as lágrimas são demasiado quentes.

Acho que nunca tinha chorado lágrimas tão quentes.

Há dias em que estamos demasiado quebráveis para sair à rua.

Há dias em que apenas o sacudir do vento me faz chorar.

E o motivo é tão obtuso como demasiado nítido.

Sim, eu estou a cair.

Gostava de ter caído.

De ter cessado.

De ter caído e cessado com um baque certo e finito.

Odeio estar na continuidade.

No interminável.

No indecidido.

Na queda.

 

V

 

 

Bolas, tenho saudades tuas e só me apercebi quando não estavas.

Estávamos faladoras.

Diurnas e afáveis.

Não houve dramatismos ou melancolias.

As coisas mudam mas talvez não como eu desenhava.

Talvez só mude aquilo que se vê.

Há coisas que persistem guardadas e imaculadas ao tempo.

Não sei se estou assim pelo vazio nato ou se por aquele que deixaste.

Às vezes pareces-me distante.

Uma estranha.

Uma colega com quem não tenho profundidade.

Demasiado longe… e, depois, quando vens na nossa raridade de encontros, é como se ao partires me levasses

contigo.

Ou pelo menos levasses o meu sentido de pertença a este sítio.

Depois…

Depois, é como se as pessoas que ficam não me conhecessem.

E o mundo à volta não fosse o mundo onde eu estava antes.

Como se, por uns instantes, ficasse no limbo.

É estranho porque quando falavas da tua vida sentia-me estranha.

Sentia-me desconhecida.

Sentia que falavas uma língua estrangeira.

Não sabia que vida era essa.

Que rotina te rodeava.

Não sabia o que sentir.

Não sabia se detestavas porque te fazia mal ou porque não gostavas.

Quando chegaste, ou até mesmo na antecedência, não ansiei como outrora.

Não tremi como outrora.

Nada que não esperasse.

Não esperava era este vazio.

Não esperava que ao ires, eu tivesse ficado sem saber onde estão os meus amigos, o meu mundo, o sítio onde

me sinto!

Foi bizarro.

Onde pertenço?

Quem gosta de mim?

Quem me preenche?

As pessoas são momentos no tempo, os sentimentos dão-lhes forma.

 

VI

 

Odeio aquilo em que a minha vida se transformou.

Tantos sítios.

Tantos sítios que descobrimos.

Tanto sítio que nunca vi porque o corpo passou dias e dias no quarto.

Dói saber que volto à rotina sem nada pelo que esperar.

É estranho saber que este curto reunir de momentos em que estiveste aqui, eu tenha feito coisas por mim.

Tenha vivido.

Não foi extraordinário mas foi inesperado.

E eu gosto de coisas detalhadas, secundárias e pequenas.

Sinto-me deslocada. 

VII 

 

Sim, talvez tenhas razão e eu seja realmente estranha, embora me perca no significado da palavra.

A fase do "amar com inocência".

A fase da protecção e pertença.

A fase da perda e mudança e esta, a fase do limbo.

As coisas do passado parecem-me tão distantes e surreais...

As certezas também são momentos no tempo.

Todo este sofrimento é também por mim.

Acho que me tenho andado a carpir.

Às vezes tenho muita pena de mim.

Sou fraca?

Temerária?

Não sei.

Tenho perdido a percepção das coisas.

Gostava de fazer coisas para me sentir em menor dose.

Gostava de cear com "aqueles".

Gostava de voltar à livraria, aquela.

Gostava de raptar mais flores.

Gostava de ter umas sapatilhas de ballet.

Gostava de poder ver música.

Gostava de deixar a impossibilidade a um canto junto às meias e aos lenços.

Gostava que me ensinassem muita e muita coisa.

Gostava que me matassem muitas das sedes que tenho.

Gostava de sentir outras coisas, que não a constante sensação de sufoco e apatia.

Gostava de me sentir calma, segura e em paz.

Há muitas coisas que gostava que acontecessem.

Eu não sou diferente de ninguém.

Procuro a felicidade.

Apenas a sinto como a sobranceira das dores.

É curta.

É deveras pequenina mas duradoura nas sinapses cerebrais.

Tal como a vida é a geradora da morte.

A felicidade é a mãe da tristeza.

A longa e constante tristeza que nos desflora sob muitos nomes.

A filha negra.

 

publicado por Ligeia Noire às 18:43
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01
Jan 09


É ela que me possui todas as noites.

É com ela que adormeço.

É ela que me despe.

É ela que me acompanha nos quilómetros, incomensuráveis, em que me arrasto dentro do quarto.

É ela que me suporta nas noites em que o inferno me adensa.

É ela que me presencia o corpo a sufocar, quando o desespero se intensifica.

É ela que me olha quando me olho ao espelho.

É ela que não se move quando me aproximo.

É ela que não diz nada porque é tudo.

É ela, a única que não vai embora.

É a única que persiste lá porque durante todo este tempo, não ouvi ninguém, não senti ninguém.

Disseram-me, um dia, que o segredo está em não esperar nada de ninguém mas como posso eu conseguir tal proeza?

Como posso eu, deixar-me sozinha, quando estive sempre lá?

Nas noites gélidas de dor, chicoteadas a sangue frio, fui aquilo que melhor consegui ser.

E calem-se os que pensam que procuro retribuição.

Não são pagamentos premeditados que me vão acalmar nos olhos dos que me abandonaram.

Mais uma vez, deveria ter ficado apática perante a minha vontade de lhes despertar a espontaneidade.

Por que haveriam de perturbar a noite de veludo, pela noite que me vela abandonada?

E diz-me primeiro, sim diz-me.

Mais vale fingir que nos valemos sozinhos, do que esperar pelo que não existe.

Por isso sim, negritude!

Tu estás sempre aqui.

Abro os olhos e és presença assídua na madrugada de cetim amargo.

Fecho-os, para tentar imaginar o que não cabe neste mundo e tu, tu continuas aí fora…

A aguardar o pranto maquinal quando me aperceber que amanheceu de novo.

Tu és eu, e eu sou quem me ouve.

Sou o meu abraço.

Sou a redenção que enxuga as lágrimas do pescoço que se debate por alívio.

Adiantará alguma coisa esperar?

É que, sinceramente, já não sei pelo que espero.

Já chega de máscaras.

Eu e eu, só eu, sempre eu, eternamente eu!

Perdi o rumo e nem sequer está nevoeiro e eu vivo na floresta.

Voltei a apagar a luz.

A inundar o quarto de música e a fechar os olhos… mais um dia… mais um dia…

Mais um dia que me passou por cima.

Mais um dia que esperei… e essa espera é circular.


publicado por Ligeia Noire às 22:22
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