“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

05
Abr 13


Ante Scriptum: A letra é genial, assim que ouvi a canção na série dos irmãos e do anjo caído, não cessei enquanto não a descobri, diz tudo.


It's cold outside
And I'm not quite
Ready for the morning light
My hands are tied

'Cause if I tried
To leave this place I'd surely die
I'd surely die
Hey, hey, hey, I'd surely die

There's stories of
Way back when
A guy got out and made it there
I think I'm gonna give it a try
Even though I'll surely die
I'll surely die


Hey, hey, hey, I'd surely die


lyrics by The Rubens/letra da autoria dos The Rubens

 

Olá tell-tale heart.

Foi há um ano, talvez?

Escuta a estória com as palavras sonorizadas da minha boca:

-Não consigo respirar, estas paredes, esta altura toda, já não são as pessoas, é o imbróglio todo, não sei o que fazer.

-Sai, se te sentes presa sai para onde não haja barreiras visíveis.

Saí do quarto, fechei a porta, desci a escadaria até à rua, abandonei a estrada, saí da cidade e mesmo se saísse do país o sufoco continuaria, como se a força da gravidade tivesse triplicado e me empurrasse, não para baixo, mas para dentro de uma caixa onde só podia estar corcovada.

Aninhada como uma cadela espancada.

Como podia parar de sentir aquilo se o mundo é redondo?

Se não há uma aresta por onde resvalar?

-Como abrir a porta daqui para fora?

-Espera.

E as mãos suavam e o peito contraía-se e não conseguia inspirar, doía-me o estômago, tremiam-me as pernas e o choro era convulsivo e aleijava que chegasse.

O medo de algo iminente era industrial e sangue caía-me do nariz para a boca.

Fechei os olhos e sentei-me no chão, com as palmas das mãos bem abertas no azulejo frio.

Rezei para que parasse.

Ainda houve uma noite em que acordei com uma hemorragia nasal e noites se seguiram em que queria chorar mas privei-me de o fazer.

Aprendi a distinguir o choro sufocado e agressivo, do natural e quando o primeiro me espremia a garganta, desabotoava o que quer que tivesse vestido e punha a música mais alto, sabia no que ia dar se me deixasse levar, tinha medo de morrer.

Era como se estivesse nua e o adamastor tivesse as patas a abarcarem-me as costelas todas.

Ainda tenho pesadelos de que acordo lavada em suor, estertores, dores no peito mas há também este caderno medicamentoso, violências, pingentes de gelo e visitas a Baco em dias de solenidade.

publicado por Ligeia Noire às 00:02
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19
Out 11


Não deveria escrever quando estou assim.

Não deveria escrever quando o sangue ainda me enche os olhos.

Não deveria escrever quando o coração ainda bate esganado de medo.

Não te entendo Supremo, juro.

Abres a porta e não me deixas ver-te, mandas mais um enganado, mais um que me vai odiar, ferir-se, esperançar-se.

Está assim escrito no teu caderno?

Devemos calcar o mesmo caminho duas vezes, três vezes?

Pois, o de hoje foi dos mais difíceis de percorrer.

Pela primeira vez tive medo que...

Queria desatar a correr, queria ser diferente naquele instante, corresponder-lhe mas não consigo.

E tu mandas sempre a mesma encomenda.

Já estou tão calejada que, paro e fico a olhar para o laço, sabendo que não vale a pena desatá-lo, o problema é que o conteúdo se abre a si mesmo e exige que eu seja receptiva, enamorada e constante… e isso passa como água de ribeira brava pelos meus braços, vai-se, foi-se, não quero.

Não sei sentir isso, ele não me navega nos olhos e eu não cheguei a casa.

Mais uma vez.

E chego ao quarto insípido e hospitalar e pouso as chaves, encosto-me ao armário e abro as costelas para que os pulmões se alarguem e me deixem respirar.

Tenho medo e tenho lágrimas.

Não as choro, não consigo, são lágrimas de raiva, lágrimas de pena e de frustração por saber, de antemão, que me tinhas colocado no início do caminho outra vez e, mesmo assim, permiti-me a percorrê-lo.

Caminho esse que causa o sofrimento de outrem, sofrimento que eu causo por não saber ser.

Não sei ser.

Pedi-te tanto, tanto que achei ridículo o que pedira e deixei de pedir, essas coisas não se pedem e como não se pedem tu quiseste dar-me uma lição e vestiste-te de rainha, encarnando eu uma branca de neve tosca e envenenaste a maçã vermelha.

Só porque te pedi que me provasses que estava enganada e que tal epifania existia.

Tu voltaste a abrir-me brasas nos pés e, desta feita, trouxeste um cavaleiro das terras brancas que teria tudo para ser um bom pescador mas que, como os outros, não soube lançar as redes.

A falha foi minha, não saltei para o balde.

Já te havia mencionado que me doem os pontos, que me coseste mal, que se vêem as costelas cada vez mais adelgaçadas?

Estou cansada de deixar funerais, cansada de macular esperanças alheias.

Ouve-me, aí na tua terra, prefiro que extingas os cavaleiros, prefiro que os deixes aí contigo.

No final de contas, nem eles sabem que é a mim que custa mais.

Sempre quis ser a presa e não a raposa, sempre quis ser a cativada e não a cativante.

E agora, que dou forma a estas inquietudes, a flor-selvagem volta às minhas mãos... rio, pois claro.

Esse, que finalmente parecia tão perto e tão meu, esse filho-da-lua que sempre quis desenlaçar e, tomando o seu laço, prender o meu cabelo.

O que mais perto esteve de me ter cativa, foi-se mais uma vez.

Levou-se do mundo dos vivos para voltar ao dos que não têm sopro e saber-me, néscia, ainda aqui.

Tive receio da sua vontade e pensei ter-me desinteressado do seu perfume floral mas acontece-me o aconchego, a protecção e a pertença que esse cavaleiro do final dos tempos me instiga.

Não te rias Supremo, a única coisa boa de toda esta balbúrdia, é saber que afinal ele continua a ser o mais perto que estive de casa e, no entanto, está sempre tão distante e tão inalcançável.

Talvez por isso me sinta protegida e cativada.


publicado por Ligeia Noire às 02:06

21
Jun 11

 

Tive de parar o filme, várias vezes, para respirar.

Medo puro, duro, real e numa esquina, casa, mundo perto de nós.

Sufocante, a noite.

A noite, quando temos medo, dura tempo incontado.

A casa grande na floresta, num país que ainda permanece tão recôndito quanto nos tempos do Drácula.

O telefone toca e… como descrever… são uma matilha, não têm leis, nem a moral que os idiotas das escolinhas acham que existe lá fora, às vezes, pergunto-me se vivemos no mesmo mundo...

Gosto muito de cinema de terror, gosto muito desta vaga de cinema extremo mas, a diferença, é que quando a ameaça é sabida como real, quando sucedeu, quando a vemos nas notícias a espancar velhos ou transexuais, ou a matar casais, o caso muda de figura.

Nunca apreciei bandos, tenho pavor de me cruzar com eles.

A diferença é que este mundo não tem veludos, nem anjos, nem risos, os problemas não são feitos de desamores e futuro, e diplomas e livros e sofrimentos de rendas e eyeliner, este sítio tem sangue, tem fome, tem cães humanos cheios de seiva.

Numa entrevista, que vi hoje, dos anos noventa, a Diamanda dizia trazer sempre com ela um revólver.

Uma vez que, não acreditava que se podia descer uma rua em Nova Iorque, incólume.

A menos que se parecesse invisível ou que não se saísse da norma porque há sempre algo que pode despoletar uma investida.

É por isso que, às vezes, rio sozinha quando me sento a uma mesa de quatro pernas a ouvir coisas dos livros, com gente à minha volta, parece-me tudo tão caricato.

É como se o mundo estivesse hipotérmico e nós saíssemos à rua de lingerie.

Tenho medo, claro que tenho medo, escrevo aqui muitas coisas mas aquelas que realmente me assustam, nem sequer tenho a audácia de lhes pôr letras.

E na cabeça funciona o: "não penses nisso, não penses nisso".

Não sei lidar com o medo, o medo assusta-me, o medo…

Vou contar uma história que me aconteceu há vários anos.

Na minha aldeia, quando eu era mais pequena, era costume mungir as vacas e levar o leite a uma leitaria.

Dava uns trocos e as vacas são muito bonitas.

As minhas eram turinas, o que eleva ainda mais a cena.

Às vezes, era eu que pegava na cântara às costas e levava o leite com a minha prima até ao destino, o qual não ficava nada perto, mas era fixe.

No Inverno, como escurecia muito cedo, tentávamos andar mais depressa mas a noite encontrava-nos sempre.

Um dia, quando vínhamos a descer o caminho já perto de casa, uma sombra moveu-se por trás de nos e falou qualquer coisa que agora não me lembro.

Congelei da cabeça aos pés e o coração esganou-se, senti tanto medo que não conseguia respirar e pareceu tempo infindável mas foram apenas segundos até me aperceber que a minha prima estava a cumprimentar a dita figura e que, na verdade, era um vizinho que voltava para casa depois de ter estado a roçar mato para as cortes.

O alívio foi tão mas tão grande que senti uma felicidade pura como nunca julguei ser possível.

Não sei se foi a primeira vez que senti medo mas sei que ficou gravado num neurónio qualquer.

No entanto, a noite, para mim, é como heroína, temo-a e amo-a, é mãe de todos e não excomunga ninguém.

E mesmo sendo uma temente do medo, não sou refém dele, aliás, uma das coisas que mais gosto é de me sentar à lareira a ouvir histórias, lendas, folclore ou seja lá o que for que os mais velhos têm para contar.

É delicioso.

Há uma história que o meu pai volta e meia conta e que me assusta sempre.

O meu pai sempre trabalhou longe e a maior parte das vezes vem à noite com o saco às costas.

Mais uma vez, a noite foi mãe e o Inverno pai.

E, não de propósito, moramos no monte, bosque, mato, floresta, com meia dúzia de casas, agora, a maior parte desabitadas.

Vinha ele de regresso do trabalho, era fim-de-semana, e no caminho vê ao fundo um vulto e, conforme o Jonathan Harker se refere às noivas como sendo senhoras pelos trajes que envergavam, ele pensou ser um homem pelo alto chapéu, casaco comprido e postura.

Como o meu pai é o meu oposto, destemido, nada de estranho lhe ocorreu e ao passar pelo dito saudou-o com um "boa noite" mas não ouviu resposta e nunca lhe chegou a ver o rosto, seguiu o caminho.

Quando chegou a um carreiro mais abaixo, olhou para o local e, o "homem", estava estacado no mesmo sítio.

Nada mais sucedeu.

Na minha terra, há uma superstição em relação a saudações, diz-se que, à noite, nunca se deve saudar ninguém a menos que se conheça.

O meu pai não vai nisso mas, até hoje, lhe ficou na memória o estranho vulto sem rosto que o olhava do alto do seu chapéu negro e casaco comprido.

Há muitas preciosidades destas que guardo no bolso.

E, embora este filme nada tenha que ver com o sobrenatural, que aprecio, invoca o medo, o medo da realidade, o medo do que sabemos que acontece e que tem pernas e mãos.

Sufoca, sufoca e sufoca.

E que barulho era aquele?

Que brinquedo era aquele?

E aqueles chamamentos animalescos e aquele autocarro que parou e que prosseguiu como prossegue a voz que ouço quando me sento na mesa de quatro pernas, a árvore que morre na floresta.

Ainda ontem me diziam que o pandemónio está aqui e agora.

E que, quando se começarem a deglutir uns aos outros, a diferença estará naqueles que tiverem dinheiro para construir muros altos ou então um frasquinho de salvação em direcção à luz.


publicado por Ligeia Noire às 23:51
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09
Mar 11


Os meus olhos não são azuis mas às vezes assemelham-se a rios imorredouros.

As mãos são pequenas, demasiado pequenas para cobrirem todas as imperfeições, golpes, fracturas, dores ressequidas e poças insalubres que vertem dos sonhos enquanto durmo.

E conturbam-se os meus olhos e vejo a lama, o lodo e as folhas mortas, deslizarem de um lado para o outro.

É, às vezes, fico assim instantaneamente, como se fosse um saco de pó virginal que num ápice se torna em fuga eterna e dá morte ao portador.

E sozinha prossigo, já nem tu, já nem tu…

O tempo terminou-nos.

Não queria prosseguir, levantar e retomar mas as mãos tapam os lanhos e a puta mente cada vez mais.

Sabes no que te estás a tornar, certo?

Sabes que para onde estás a descer não há retorno.

Podias ter saltado.

Podias ter saltado

Podias ter saltado

Podias ter saltado.

Tu...

podias

ter

saltado, foda-se!

Mas preferiste abandonar-te ao sono, à paralisia, ao veneno.

Podias ter sido uma pessoa.

Podias ter saltado...

Sinto tanta pena de ti, perco-me na misericórdia que te sinto quando te cobres e quando te levantas tarde para obrigar a noite a prolongar-se na tua cabeça.

Perco-me de pena quando te vejo os olhos rasos a perdurarem na lareira e aqueces as mãos devagarinho, para que o tempo não saia dali e te deixe sozinha.

Sento-me e vejo-te não dormir e vejo-te chorar e vejo-te o peito a doer e as mãos a enxugarem os olhos vermelhos.

Vejo-te assim e perduras-me na memória e tanta é a pena que sinto de ti.

Nunca ousei imaginar o tanto que durarias!

E não, não minha querida, sabes que não é uma vitória.

Sabes que é apenas o amontoar, cada vez mais veloz, de pedras feias que irás ter de contar e carregar até ao vale dos indigentes.

És como aquelas espigas mirradas, aquelas cerejas verdes, aquelas formigas aleijadas, o tempo que durais é sempre tempo a mais, tempo desnecessário, tempo de vergonha.

Deveria pegar-te ao colo e baloiçar-te o corpo magoado nesta minha cadeira mas sabes... não é a mesma coisa.

É como quando tocamos o nosso rosto, ou damos a mão à nossa mão, é tecido do mesmo fabricante e os leucócitos nem sequer se aborrecem em sair dos casulos.

A soberba arte de afastar tudo (mas mesmo tudinho) e todos de vossa mercê é notável!

Às vezes nem sequer se apercebem de que já não os queres ali... de que já vestiste a armadura.

E, meu amor, assim te vejo continuar a afundares-te nas tuas estórias e nos teus comprimidos pueris que te desmamam cada vez mais da vida, até te tornares incompreensível.

Até toda tu te conseguires deglutir.

A desumana consciência, constante e negra.

publicado por Ligeia Noire às 17:40

05
Dez 10


Shivers run through the spine
of hope as she cries
the poison tears of a life denied
In the raven black night
Holding hands with 

 

Dark light
Come shine in her lost heart tonight
And blind
All fears that haunt her
With your smile
Dark Light

 

In oblivion's garden
Her body's on fire
Writhing towards the angel defiled
To learn how to die
In peace with her God

 

Lyrics by His Infernal Majesty/Letra da autoria de His Infernal Majesty


publicado por Ligeia Noire às 05:12
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01
Mar 10


Às vezes, pensamos que se mantivermos a porta fechada o vento manter-se-á do outro lado, sem sequer o conhecermos.

Acontece que, as rajadas têm sido fortes e, hoje, a porta abriu-se mesmo.

O futuro deveria ser embrumado mas, às vezes, o passado parece-me mais obtuso do que o porvir.

Desde o meu despertar, que a música tem sido a minha corrente de suspensão.

Começa mesmo a ser um mundo à parte.

Como se estivesse enrolada no colo de Deus e tivesse um lírio vestido.

Meto-me dentro dela e o mundo desaparece ou pelo menos esbate-se.

E consigo vomitar o excesso de asco, a dor incrustada, a raiva violácea, o cansaço comatoso.

Para, enfim, poder chorar o meu corpo inteiro e deixar a alma em ferida.

Há dias em que lá fora, nada interessa.

Tenho a cabeça alagada de coisas mas ainda não estou preparada para as transformar em palavras.

Hoje voltei a sentir aquela tristeza descontrolada e espontânea.

Tão silvestre que o movimento da urbe me fazia chorar por dentro.

Já não posso dizer que estou cansada disto porque o adjectivo se desvalorizou.

Talvez esvaziada sirva melhor.

publicado por Ligeia Noire às 23:01
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21
Jan 10


Come, come inside

There's many places here where you... can hide

Don't, don't be afraid

It only hurts the very first time


Fall fast asleep

Fall fast asleep


Dried up and changed my name

Drift back, behave the same


Want to believe in something else

Digging my hole to hell


Dried up and changed my name

Drift back, behave the same


Want to believe in something else

Digging my hole to hell


Sleep with a gun


Dried up and changed my name

Drift back, behave the same


Want to believe in something else

Digging my hole to hell


Dried up and changed my name

Drift back, behave the same


Want to believe in something else

Digging my hole to hell


Sleep with a gun

Drive away, drive away


Drive away as fast as you can

Drive away, drive away


Drive away as fast as you can 

 

Autoria de Goon Moon/Lyrics by Goon Moon
publicado por Ligeia Noire às 13:25
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