“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

21
Fev 13

 

É isso, Venom a rodar na aparelhagem, o Hell gravado com a cortesia dum professor que tive há uns anos e, já agora, para os meus camaradas que sempre atiçavam, não, nunca fui pra cama com o homem mas já se sabe que os apreciadores de música pesada ou obscura se reconhecem como lobos.

Por falar em música, estou a reler o Long Hard Road Out Of Hell, desta feita na língua original e a parte em que ele diz que há coisas que ainda hoje o atormentam em pesadelos, serve-me direitinha, assim como a milhares de pessoas, presumo.

Tenho sonhos que não conheço, de que não percebo a fonte e não sei se estão relacionados com o passado mas há outros, demasiado explícitos, que seria demasiado condescendente da minha parte fingir que não foram semeados lá atrás, o desta madrugada, por exemplo.

Quando era mais miúda, adolescente, tinha nítido o meu final, seria exposição, estás a ver o final dos tempos? A segunda vinda de Cristo à Terra para recompensar os justos e castigar os errantes?

O meu medo não era o de ser castigada, o problema era a minha concepção de Inferno, e, agora que estou a reler este livro… todo este imbróglio que é a religião, enfim todo este temor, este castigo constante que o levava a paranóias de apocalipse, verdadeiro terror, enfim, a minha concepção de Inferno, como ia dizendo, era mais ou menos a mesma, aliás o que me preocupava e acho que ainda me amedronta é o julgamento final.

Imagino um ecrã panorâmico onde todos os nossos silêncios serão apresentados em alta definição para todos aqueles que partilharam a nossa rotina…

Assusta-me, odeio os olhos ali todos, a turba, a alarvidade…

Gosta da minha música tão violenta quanto os meus filmes e isso não significa tremolo picking ou sangue e tripas, respectivamente.

Cada vez é mais notória a paz e o esquecimento que isso me garante.

Eu era longe e infante, não sabia o que era o bem e o mal, se calhar não os absorvi, isto é, como estão concebidos socialmente neste agora.

É curioso perceber que sempre fui mais, do que agora que sou, se calhar o laço branco vem daí.

 

 

publicado por Ligeia Noire às 00:35
música: "Straight to Hell" dos Venom
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02
Set 12


The man I was seeking among other men, died in his bed like a royal prince.


Há coisas insuportavelmente feias nesta caixa de sapatos.

Tão asquerosamente feias que almejamos, apenas, pelo minuto desinteressado em que vivíamos antes.

Choro o medo que me inunda e me mostra que ainda continuo neste mundo torto ao qual fui atirada.

Há coisas impiedosamente desfiguradas desde sempre e para sempre.

Vivem e respiram enquanto comes de faca e garfo, vivem e respiram no mesmo espaço-tempo do lírio branco, da trança loira e cheia, do espreguiçar dos olhos do gato ao sol e do céu estrelado no veludo azul.

Eu sei que não há homem ou mulher com engenho suficiente para me volver ao estado primeiro porque, eu sei, eu sei que a felicidade é um êngodo.

O mundo negro que jamais deveria ter deixado o seu estado de esterilidade.

O medo aterrorizado que me nauseia é tao putrefacto que já não conheço mais o raiar da vida.

Tudo em mim são formigas de importância e ratos de possibilidade.

O mundo dentro de mundos, a ordem de coisas:

porca, desumana, podre, abominável, ah sai!

Hoje a alma coloriu-se de um rubor de verdura negra, hoje sou dois retratos finais de Dorian Gray.

Que a música, as flores e o amor vermelho me guardem a sanidade e mantenham fechada e inteira a carpideira que me tenta subir, aos bocados, pelas orbitas côncavas.

Houve um filme, uma vez, que depois de visto foi escondido, tão bem escondido que o seu esconderijo foi esquecido, já sabes o que poderia ter escrito nesta linha que vês agora…

Mário de Sá-Carneiro dizia algo como: uma dor tão insuportável que não há mais necessidade de morrer por já estarmos mortos.

Imagina uma dor tão... dura que faz regressar o individuo ao seu estado primeiro.

Jamais suportaria a dor e a tristeza de trazer um filho a este mundo.

Sou demasiado pequena, quebrável e pobre para o conseguir manter bom.

Não existe vidro suficiente para lhe construir uma campânula e ainda assim seria impossível turvá-lo sem lhe roubar os esgares de beleza da Gaia.

São coisas estilhaçadas, estas que não escrevo por temor de profecia realizável.

São dores que tremem, estas de me saber rato de bigodes encarquilhados perante os tesouros vivos sem asas que os alberguem.

Já é dor farta, acordar e isto e isto e é tudo isto…

Chega, pára de me insuflar os lóbulos, não quero.

Não.

Isto não é negro, é verde apodrecido e doseado.

Ah Divino... e quando as vejo, os vejo, concernidos com isto e aquilo e as coisas de armar em bolbos, só me apetece subir-lhes pelas pernas e braços e espancá-los até ser só eu.

Se fosse só eu, iria embora.

publicado por Ligeia Noire às 16:01
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14
Ago 12

 

E se um dia ou uma noite um demónio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse:

«Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há-de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!».

Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demónio que te falasse assim?

Ou viveste alguma vez um instante descomunal em que lhe responderias: «Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!»

Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e, talvez te triturasse a pergunta diante de tudo e de cada coisa: «Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?»

Pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?

 

Friedrich Nietzsche in Gaia Ciência

 

A temperatura média do universo diminui à medida que se expande. Alguns autores afirmam que a partir de um determinado momento, quando universo for totalmente arrefecido, começará a diminuir de tamanho novamente, voltando à sua primeira forma, a do átomo inicial.

 

in Gamow, a explosão e a teoria da expansão

 

Ambos os excertos fornecidos com a cortesia da senhora Wikipedia.


publicado por Ligeia Noire às 16:02

12
Abr 11


Bolachinha extra-saborosa hum… ah!

Isto é uma competição?

Descobri hoje, melhor, acreditei hoje.

Mas não precisais tirar as luvas para mostrardes as cicatrizes de noites e noites de incomensurável sofrimento e percepções lúcidas.

Eu nunca (lede!), nunca vos olhei nos olhos.

Nunca vos quis, nunca vos ambicionei.

Sabeis qual é o meu desejo?

Que chova demasiado no vale do desterro para que possa rebolar-me na lama e, que correndo, me esvaia em coisas de bicho.

Para vosso conhecimento, eu gosto de sal, muito.

Gosto de guardar namesinha-de-cabeceira uns cristais para ir deglutindo, gosto de vinagre vermelho, muito.

O meu êxtase jaz na delícia de os misturar com tomates frescos.

Nunca vos quis a coroa que infantilmente segurais na cabeça, fingi que ouvis, é tudo vosso.

Vós nunca chegastes a perder, vós sois a bolachinha das bolachinhas.

Eu não rivalizo com ninguém, apenas ergo o braço e digo que estou com sono e que a abundância e a lisonja não me interessam e sim, nem mesmo o reconhecimento.

Sou mulher de alma negra, quero flores, copos de vinho, Fields of the Nephilim e paz.

Todavia, vós pertenceis aqui, enquanto eu pertenço numa campa florida.

(Ah! Isto está a dar-me gozo!)

Cuidado! Não vos aproximeis.

Sou restos, sou suja, retalhada.

Se olhardes de perto a minha nuca, não vereis código de barras e do meu coração não saem coisas formosas.

Não sei ler nem escrever.

Não quero as vossas frases eloquentes, nem os vossos detalhes, nunca me apeteceu foder-vos.

E se vos pareço um pouco irritada, não sorrides, é apenas uma leve comichão nos meus pés de campónia analfabeta.

E se decidi escrever-vos, esse pobre facto advém da guerra declarada por entre curtos cruzamentos de espaço, as mulheres são exímias em guerras não declaradas.

Mas bolachinha, apenas vos escrevo para dizer que a vossa guerra é masturbação e não sexo, sabeis porquê?

Porque é vossa mercê que está assanhada.

E, portanto, como é referido na citação com que intitulei este devaneio, eu não quero ser salva, eu não me esforço por me agarrar à varanda, sou preguiçosa, a minha alcunha diz-me toda desde os dezassete anos.

Vós, bolachinha, fazeis demasiado, tentais demasiado, é como se estivésseis eternamente numa fotografia.

Aqui a indigente, é assim e o Inferno, só lhe exige a vida.

publicado por Ligeia Noire às 21:06

24
Nov 10


Na podridão, que doa, que enoje, que deixe marcas de suor e unhas partidas.

Que aleije e perdure.

Que deixe o corpo amontoado, despido de pele.

Ou então deixa-me estar.

Que faça fechar os olhos e se funda comigo.

Que a luz expluda em lírios brancos e a pele seja toda ópio, absinto, heroína e rebuçados sem o dia de amanhã.

Corpo de linho, mãos de tecedeira afã.

Tão forte que o meu rosto se transforme no espelho de todos os dias.

Ou então eu jamais consentirei.

Ou então deixa-me estar.

 

II

 

 

E continuaremos a perder-nos, neste rio de tristeza e desilusão, até não sentirmos dor.

De pés ensanguentados, de mãos espinhosas e cobertas de abrolhos do vale do desterro.

Há golpes que demoram a ser desferidos.

Cresci a saber que todos somos desenhados para devorar o nosso próximo na fome.

 

 

III  


Sinto-me nua no meio do mato e do silvado.

O desejo de retornar, abre-me crateras no peito.

Tudo parece rodopiar e a minha cabeça não se segura.

Se pudesse gritar…

Se pudesse gritar tudo…

Gritar muito…

Gritar

Gritar

Gritar

Vociferar

Berrar

Bradar em silvos delapidados de graça.

Se pudesse gritar até rasgar a garganta e esfacelar o coração...

Partir o peito e calcá-lo como Cristo calcou a serpente no monte das oliveiras.

Se eu pudesse gritar esta indizível tristeza.

Este mundo de desespero.

Este caudal farto e infecto de dor que corre em círculos sistémicos e resulta em espasmos.

Desfazê-lo em sangue líquido e ir embora.

 

publicado por Ligeia Noire às 12:11
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11
Out 07


Pudesse eu ser a tua inspiração.

O ser a quem recorres para chorar.

Aquela que se aninha no teu colo e a quem tu levemente acaricias os cabelos, como se de leves brisas se tratassem.

Pudesse eu saborear as gotas de vinho escarlate que se confundem nos teus lábios.

Beber do teu veneno e adormecer perpetuamente nos teus braços.

Poder aproximar-me o suficiente para contemplar o inferno e o paraíso que brotam desses teus belos olhos.

Deslizar pelo teu corpo com a delicadeza de um pingente de gelo numa noite profunda de um sono teu.

Sentir o teu cheiro e guardá-lo na minha pele.

Chegar-me perto e arrepiar-me com a tua exalação no meu peito.

E aí guardar a chave para voltar quando quisesse…

publicado por Ligeia Noire às 12:16
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07
Set 07

Parece doce, assim falada

Escrita

Desejada

 

Não sei, não me apetece saber

Se assim é

Se assim tem de ser. 

 

Se desisti, se cá dentro faleci

Se me conheces

Se queres saber

Se te conheces

Ou queres conhecer

 

Se me tomas em teu manjar

Se me mataste

Ou queres matar.

 

Acabar-me de prazer

Ou, simplesmente, ver-me morrer.

Sucumbir à desistência ou, somente, perder a decência.

Afastar-te ou prosseguir a desejar-te

Querer-te ou apenas adormecer-te…



publicado por Ligeia Noire às 13:52

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