“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

04
Fev 12


Mais um Sábado, não é?

Gosto muito de Sábados, são calmos e introspectivos.

Oiço um belo álbum, duma bela banda e a noite vai longa, quase a beijar a madrugada.

Magnífico céu, cheio de belas e castas estrelas, o frio espalha-se pelos dedos e torna tudo, ainda mais precioso.

Têm sido dias nebulosos, ou melhor, dias que não acontecem.

Dias que usam de demasiado tempo e que, provavelmente, um dia ressentirei mas, quanto a isso, nada posso fazer, sou assim, desatada.

A minha impulsividade, afinal, nem sempre é coisa má, perco o interesse pelas coisas, facilmente, e isso é eficaz.

No entanto, esqueço-me dos motivos pelos quais certas figuras, de um momento para o outro, me cruzaram os dias e as palavras.

Que nevoeiro me encontrou os olhos para que lhes abrisse a vedação de loureiros?

Há muito sal, muito sal nos seus actos, muita vontade de me verem, assim fraquita e de meias rotas.

Há uma coisa que estas figuras precisam de enfiar em todos os neurónios das suas lindas cabacitas cor-de-laranja:

Para que as minhas roupitas se rasguem, os meus olhos semeiem lágrimas e os meus joelhos provem o alcatrão, vossas mercês precisariam de ser limpas, precisariam de saber ultrapassar a sebe, aliás, quem vo-la abriu fui eu, quem vo-la fechou, adivinhem?

Ah pois é, que chatice também foi aqui a sarnenta.

Confesso, que me irritam mas apenas e só aquele leve desdém que causam as figuras que mentem.

Isso, mentir.

Vossas mercês não são limpas de alma e eu não gosto disso, para quê desdenhar os picos nos caules dos outros quando esses outros, pelo menos, andam sempre de mangas arregaçadas?

Quem se poderia enganar assim?

Só cegos de espírito não dariam pelos espinhos porque os de corpo, com certeza já os sentiram.

Prezo, de sobremaneira, os que demonstram toda a sua vileza tal e qual como os frascos de produtos tóxicos, as etiquetas são tão úteis, só se aproxima, por conta e risco, quem quer.

No entanto, há os dúbios, os que caem em espaços cinzentos, esses são os mais rudes.

Andam sempre de mangas descidas e lucram de espirituosidade e escassez de tempo.

Tempo, para lhes medir o pulso em abundâncias que se tornam ainda mais caudalosas quando mentem de cima de duas ou três caleiras, não há.

Eu sei que fico pequenita e insignificante vista daí mas não se preocupem meus amores, o brilho dos vossos dentes alumia-vos as crateras, mesmo para os mais vesgos.

E era só isto, irritais-me criaturas, irritais-me.

Nada mais.


publicado por Ligeia Noire às 01:57
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22
Nov 11

 

I

 

Gosto de me sentar ao sol quando tenho o sangue frio.

Gosto de senti-lo a acarinhar-me os olhos e a encher-me os dedos, afinal também sou filha Dele.

Não é da minha boca que estão a prosperar mentiras como ervas daninhas, é das vossas.

Todo o mistério de que me julgam refém, é do meu silêncio procedente. 

Sempre achei que os outros se aborreciam com frases mortas.

E estou ali, à frente deles e eles enrolam bolinhas de lã na língua e adubam e adubam falácias e falsas preocupações.

Dizem-me arredada dos outros, eu prefiro descrever-me como a assistência.

Fora do meu habitat, mexer-me é um perigo!

São quantidades industriais de pessoas, de sachola às costas, a cavar buracos, infelizmente, não para si.

  

II

 

Não sou vegetariana, vou comendo o que há.

Hoje, numa aulinha foi dito que o facto de os asiáticos paparem canídeos era repugnante, e eu, melosa de tão acriançada, perguntei:

"Não percebo, qual é a diferença entre um cão e uma vaca?" 

E foi-me respondido que o primeiro bicho mora connosco e há uma afinidade lógica que advém da convivência.

Repliquei então:

"pois, é que os meus papás tinham vacas e eu gostava muito delas."

Ora bem, também nunca entendi os citadinos que se julgam acima dos hominívoros porque defendem os

direitos dos bichos mas nunca os levaram a rapar erva... é assim como aqueles comunistas fofinhos que nunca

trabalharam numa fábrica…

Não preciso de advogar os direitos de ninguém, é a lei do mais forte, e como fatalista que sou, estaria a

mentir se dissesse que gostaria de ser vegetariana.

Gosto de carne mas não gosto do sofrimento pelo qual os bichos têm de passar para encherem o nosso prato,

e logo eu, que sou adepta de carnes frias, enchidos e por aí fora.

E, realmente, agora que penso nisso, a harmonia e a paz mundial são mesmo palavritas engraçadas, digo, ridículas!

Se encaixamos uma vaca numa jaula, em que nem um bezerro engrunhado caberia e depois a esventrámos e arrastámos do próprio sangue para... eh pá soa-me que querer tal coisa é um pouco contraditório.

Bem, não continuei o diálogo porque a pessoa em questão não me acha fofinha e eu, um doce de menina, prefiro guardar-me de altercações.

Aqui, é considerado moralmente incorrecto um cão ser papado, uma vez que é um bicho que se tem por casa e também o melhor amigo do Homem.

Ora bem, vaquita, estás fodida, ou começas a copiar a tua conterrânea do anúncio, ou vais continuar sendo

trinchada em mesas alheias.

Lá estamos nós com as pirâmides, já o outro achava que os judeus estavam no degrau abaixo, e a humanidade inteira, há uns séculos, achava o mesmo dos pretos e das mulheres, e etc. e tal.

Não gosto de grupos, não gosto de seguir, não gosto de filas, não gosto do "ser-se ()", daí não usar camisolas com logos de bandas, limita-me.

Ser-se feminista, vegetariano, ateu, cristão, comunista.

Esta mania das gavetas que só dá jeito com os CD e todos os objectos quejandos.

Como se a seres isto, tivesses um degrau só para ti, como se fizesses sentido, como se fizesses a diferença, quando esta não pode ser feita, uma vez que, somos todos a mesma escumalha.

Morremos todos sozinhos.

Morremos todos e sozinhos.

 

III

 

As vossas boquinhas são úteros cálidos de mentiras.

E falam-me assim, naquela tonalidade amenizada e eu de domino assente rio-me toda.

Às vezes magoa, como no teu caso flor-selvagem, porque ontem quando o fiz…. É que… de repente acordei e os meus pés estavam a calcar o azulejo gelado de um curral e um homem grande empunhava um ferro em brasa e cinzelou-me a testa.

Néscia, pobre néscia sou.

De resto, todo o resto que vou conhecendo por esses prados verdejantes e luzidios vai atestando a minha natureza de arredia.

Seu bando de mentirosos!

Sua corja de coisas pequenas e rompidas.

Têm-me por desprezível e violenta mas, pelo menos, na minha boca não se trocam as águas.

Bem, não foi por falta de aviso, a senhora de negro um dia disse que tínhamos de seguir o instinto dos gatos e não esperar nada de ninguém.

Por falar em gatos, o meu cão velho, o meu Roberto, foi embora para sempre e nem tive tempo de me despedir...

Como disse à manhosa da minha avó no Sábado, prefiro mil vezes animais, mil vezes animais, eles são o que são, não perdem tempo com coisas inúteis.

Não acham que dá muito trabalho?

É claro que não granjeamos muitos afectos mas também nunca gostei de amanteigados.


publicado por Ligeia Noire às 20:50
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13
Nov 11

 

I

 

Sabes o que sucedeu às filhas dos Homens que foram adentradas pelos Caídos?

Flor-selvagem, alcunha delicada que por mim te foi imposta, ah que infantil me saí.

Se pudesse esconder-me de ti, para não teres de te esconder de mim, fá-lo-ia de bom grado.

És mortal afinal, apenas e só um mortal que judia os céus mas que inveja as mãos quentes dos querubins.

Serviste apenas de inspiração, foi o que nunca te disse e que tu jamais foste capaz de perceber.

Serias completamente incapaz de me conter, não chegaste sequer perto do espelho onde miro os olhos.

Nunca cravaste as unhas nas conchas das minhas mãos e duraste o tempo que quis.

Se tive os olhos fechados, lê bem meu anjo, foi porque a anestesia se propalava nos capilares.

Seria tua serva, se tivesses o poder de me laçar os cabelos e silenciar os ruídos da minha filha negra.

Seria, pois, tua vítima meu amor, a teu bel-prazer.

Juro, que até conseguiste com que durasse um bocadinho.

Todo este tempo em que acreditei na possibilidade foi, como sempre, porque sua excelência estava suficientemente incógnita e distante para que eu pudesse criá-la à minha mercê.

Cheio de rendilhados e beijos labirínticos, gostei.

Mas a maçã vermelha caiu sem que a visse, e calquei a dita em cheio.

Tais foram os barulhos que a pobre derramava, que tive de baixar o rosto para com larvas guinchantes, de abdómens rompidos e de corpos agonizantes me confrontar.

A algibeira consultei e lá tive de macular o meu mais belo lenço branco, na árdua tarefa de limpar os sapatinhos.

Agora, que prossigo no caminho, reparo na proximidade da escadaria industrial e no alçapão que me levará ao nada, ao génesis.

 

II

In that house
there is no time for Compassion,
there is only time for Confession
and on his dying bed they asked him:

Do you confess? Do you confess?

And on his dying bed the dirty angels
flying over him like buzzards asked him,
Do you confess? Do you confess?

shshshshsh
It's so cold
It's so cold
shshshshs
It's so cold
It's so cold
Do you confess?
Do you confess?

Who are you?
Who are you?

Do you confess?
Do you confess?

Yes, I confess
Yes, I confess
When they laugh at the trial of the innocent
Yes, I confess
Let them laugh at the trial of the innocent
Swing swing
Let them laugh at the trial of the innocent
saying, "Here's the rope
and there's the ladder,"
Coming for to carry me home.
Yes, I confess

[tongues]

Yes, I confess
angels! angels!

[tongues]

Yes, I confess
Yes, I confess
Yes, I confess:

Give me sodomy or give me death!
 

 

 

lyrics by Diamanda Galás/Letra da autoria de Diamanda Galás


publicado por Ligeia Noire às 00:40

12
Abr 11


Bolachinha extra-saborosa hum… ah!

Isto é uma competição?

Descobri hoje, melhor, acreditei hoje.

Mas não precisais tirar as luvas para mostrardes as cicatrizes de noites e noites de incomensurável sofrimento e percepções lúcidas.

Eu nunca (lede!), nunca vos olhei nos olhos.

Nunca vos quis, nunca vos ambicionei.

Sabeis qual é o meu desejo?

Que chova demasiado no vale do desterro para que possa rebolar-me na lama e, que correndo, me esvaia em coisas de bicho.

Para vosso conhecimento, eu gosto de sal, muito.

Gosto de guardar namesinha-de-cabeceira uns cristais para ir deglutindo, gosto de vinagre vermelho, muito.

O meu êxtase jaz na delícia de os misturar com tomates frescos.

Nunca vos quis a coroa que infantilmente segurais na cabeça, fingi que ouvis, é tudo vosso.

Vós nunca chegastes a perder, vós sois a bolachinha das bolachinhas.

Eu não rivalizo com ninguém, apenas ergo o braço e digo que estou com sono e que a abundância e a lisonja não me interessam e sim, nem mesmo o reconhecimento.

Sou mulher de alma negra, quero flores, copos de vinho, Fields of the Nephilim e paz.

Todavia, vós pertenceis aqui, enquanto eu pertenço numa campa florida.

(Ah! Isto está a dar-me gozo!)

Cuidado! Não vos aproximeis.

Sou restos, sou suja, retalhada.

Se olhardes de perto a minha nuca, não vereis código de barras e do meu coração não saem coisas formosas.

Não sei ler nem escrever.

Não quero as vossas frases eloquentes, nem os vossos detalhes, nunca me apeteceu foder-vos.

E se vos pareço um pouco irritada, não sorrides, é apenas uma leve comichão nos meus pés de campónia analfabeta.

E se decidi escrever-vos, esse pobre facto advém da guerra declarada por entre curtos cruzamentos de espaço, as mulheres são exímias em guerras não declaradas.

Mas bolachinha, apenas vos escrevo para dizer que a vossa guerra é masturbação e não sexo, sabeis porquê?

Porque é vossa mercê que está assanhada.

E, portanto, como é referido na citação com que intitulei este devaneio, eu não quero ser salva, eu não me esforço por me agarrar à varanda, sou preguiçosa, a minha alcunha diz-me toda desde os dezassete anos.

Vós, bolachinha, fazeis demasiado, tentais demasiado, é como se estivésseis eternamente numa fotografia.

Aqui a indigente, é assim e o Inferno, só lhe exige a vida.

publicado por Ligeia Noire às 21:06

19
Set 08


Vendam-se longe de mim!

Sinto nojo de tudo isto.

Sinto a cabeça a explodir.

Tudo à minha volta a impingir-me larvas, lixo, desespero.

Responsabilidades alheias a atormentarem-me a toda a hora com a realização e felicidade de filhos da puta que nem sequer conheço!

Sabem que mais?

Matem-se e vendam-se bem longe de mim... Deixem-me na minha mediocridade.

Deixem-me inerte e estanque a um canto... Quando morrer dar-vos-ei aviso.

Para que me possam, finalmente, desvendar e conspurcar à vossa mercê.

Facilmente se vai com a corrente mas, se olharem bem de perto, eu vou com a corrente para morrer mais cedo.

Já que ir contra ela é prolongar o que de vendável não há em mim...

Não consigo ver tudo isto sem fechar a percepção.

É demasiado.

É simplesmente demasiado...

Também estou cá dentro.

Também preciso sobreviver.

Foda-se!

Estou a dançar com um corpo de vidro no fio demasiado afiado da navalha do universo.

publicado por Ligeia Noire às 15:23


Sejam rebeldes e alternativos longe das vossas escolinhas e amiguinhos.

Partam as vidas que vos enojam.

Gritem.

Gritem.

Berrem.

Grunham, até que vos arrastem pelos cabelos e o sangue viole a brancura do chão dos vossos papás.

Têm coragem e vontade para isso?

Claro que não!

Tudo acaba quando a venda começa.

Todas as lutas que fazemos com palavras, gestos e atitudes acabam quando precisamos de um filho da puta dum buraco para viver e um mísero salário para o manter.

E, para isso, não há carneiros ou ovelhas tresmalhadas que alguém queira contratar.

publicado por Ligeia Noire às 15:14
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