E os olhos, os meus olhos, o que mais me inquieta são eles... sempre foram eles porque sei que têm pessoas dentro, uma, duas, não sei...
Não perdeste tempo.
Tomaste-me a espada e foram eles, foram os olhos que me castigaste.
É essa a tua retaliação? Golpe baixo.
Não sei se cobres os pés mas, se eu estivesse neles, teria sido humana e teria optado pela alforria mas tu preferes ir mais longe, tu preferes que eu me enterre e saboreie o lodo.
Queres que te mate em mim também?
Não gostas de estar vivo é?
Consideras o teu estado vida?
Para onde foi a tua compaixão?
O que é que resta? Ah já sei... mas até isso estás a foder...
Quando cheguei a casa não havia força nos braços para levantar as coisas do chão, as enzimas corroíam o estômago mas o mostrengo apertava-me as costelas... pensei em anestesiar-me mas tenho todos os músculos a fermentar.
Não digas que sou eu que me desfaço, me destruo e me como, não ouses dizer que a culpa me cai nas mãos porque estou em ebulição.
Porventura, riste-te ao ver-me a atitude ante o prenúncio de desgraça mas não tive forças, senão, para me apagar e adormecer com olhos de ribeira.
Nunca em mim, o desejo de estar a sonhar foi tão pesado e ansiado
És mestre na arte de atingir as carnes mais frágeis, os instrumentos mais sagrados.
Contra tudo o que me naufraga nada posso fazer, sou o eterno tecido infectado, a dádiva muito querida que desgasta mais os bolsos que os sorrisos.
Prefiro não saber o que fariam os possuidores se pudessem volver no tempo.
Não me faças isto…
Sabes que não tenho espírito de mártir e rasgaria o cenário de uma golfada.
Não tenho medo de o fazer.
Podes condenar-me a outro receptáculo mas a vitória não te sairá incólume e não precisas dizer que não é a vitoria que procuras.
Se querias carregar-me de tão pesadas pedras, espessasses-me os ossos.
Ainda espero acordar e ver-me limpa.
À cabeça apenas acorreram violadores de pele e aos olhos as doses de sal do costume, não te ameaço, é a forma de me colar para prosseguir a tua história.
Quando o corpo nos falha, que interessa a alma?
Que interessam as palavras?
Que interessam as obrigações e as pessoas?
E perguntas-te então porque escrevo… porque és a única criatura que me pode ajudar.
Satisfeito?
Achas que estou com medo?
Não é medo, é terror.