“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

28
Nov 10


E ele olha-me com olhos quietos e apaziguados e acha que me vê.

E ela faz palavras com os pensamentos e investe na minha atenção.

E o outro ele confunde-se no meu limbo e espera alcançar entendimento

Eu sou a vossa boneca de neve, de longas vestes subidas para não me conspurcarem na imundície dos vossos caminhos.

Para onde vocês se dirigem, eu tenho morada fixa quando quiser.

Deveríamos usar véus rendados no rosto ou então eternos óculos escuros.

Tenho dentro de mim esta disparidade de controlo absoluto e decadência miserável.

E eles aproximam-se e brincam comigo, gostavam de entrançar-me os cabelos, seduzir-me, tocar-me a fronte, beijar-me os lábios.

Envenenarem-me com a sua impaciência e medo.

Confesso que isso me dá um certo gozo.

Ela ainda é pequena, mas deixa os outros no fundo das escadas e, da varanda, vê-se boneca crescida.

Não tenho vontade de lhe dar corda, não a quero ver dançar para mim, é aborrecido, já conheço o acto.

Ele tem consciência que está a crescer mas ainda não sabe que eu não trago laços para serem desatados, a minha podridão não lhe cabe nos olhos.

O outro ele já está crescido, já me testemunhou mas eu era outra eu, quis ser lírio desabrochado em orvalho para ele.

No entanto, fechei as pétalas e fui embora, não me apetece ser Eu para ele, é cansativo.

Ele teria de ser eterno e já não é, senão, um moribundo, e eu não gosto de golpes de misericórdia.

Os três prostrados, de olhos e ouvidos cerrados, os portões permanecem lacrados.

Ainda não é desta, estou à espera do próximo receptáculo, Supremo.

publicado por Ligeia Noire às 18:43

01
Jun 09


Como se me tivesse superiorizado.

Acho que deixou de existir oxigénio.

Não estavas lá mas o vaso que te impunha, que te recebia, percebeu.

Senti o seu incómodo, a sua perturbação.

Ele mexia-se como se soubesse que algo estava errado.

Ele olhava para trás, de soslaio mas nada podia ligá-lo a uma estranha.

Eu desconhecia-o.

Foram momentos de cruzamento.

Momentos de limbo.

Momentos de inexistência que de tão fortes quase me permitiram voltar a sentir o perfume.

A fragrância que usavas quando me tomavas.

Desde aquela época que tentei volver ao sentido o cheiro mas não consegui.

Lembro-me da última vez que me invadiu.

Estavam muitas pessoas.

Eu estava a olhar a viagem pela transparência do vidro e o coração mudou o ritmo.

Era alguém que o usava ou então era a minha vontade que fazia com que alguém o usasse sem usar.

Era aquele mesmo cheiro.

A essência de um querer sufocado em maciez selvagem de animal cessante.

Desde esse dia, jamais o pude trasladar para as minhas veias.

Era-me impossível!

E hoje foi assustador.

Hoje, senti o perfume, ali, à minha espera mas não consegui chegar-lhe.

Foi bizarro.

Foi corpóreo.

Não havia nada e havia, no entanto, chamamentos, elevações, invisibilidades que me deixaram estática.

Será que o tempo, o espaço e a distância não se materializam para as almas?

Será que navegamos para lá dos receptáculos?

Mas como pode alguém preencher um vaso já preenchido?

Como pode alguém querer ausentar-se de si para o que distanciou?

Apenas para criar manifestações paranóicas?

Terei eu criado algo?

Terá "algo" tido a indiscrição de me perturbar?

Pensei que ia desfalecer ali.

Por entre os bancos, as janelas, a estrada deslocada, o calor venenoso e o teu vaso ou o meu encantamento.


publicado por Ligeia Noire às 23:44

mais sobre mim
Agosto 2015
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


Fotos
pesquisar
 
arquivos