“We are like roses that have never bothered to bloom when we should have bloomed and it is as if the sun has become disgusted with waiting”.

11
Out 10

 I

 

  

Têm sido tempos difíceis e a forma como lido com a realidade não mudou.

A realidade não mudou e os tempos sempre foram difíceis.

Ando em círculos até aprender a sair.

Não há paciência para ninguém.

Todos me parecem fora do contexto e tenho usado demasiado a domino para não os ofender. Os que seguravam a corda deixaram-na demasiado tensa, por demasiados anos...

A corda sempre me salvou mas eu nunca quis ser salva.

Eu sempre soube que tudo iria tornar-se demasiado penoso.

Eu.

Sou ainda mais insurrecta e obtusa mais apática e desmemoriada.

Perdi o sentido. Na minha cabeça nada faz sentido.

  

II

 

 

Um dia destes, quando estava nas escadas à espera, vi uma pessoa dispersa.

Cabelos e barba ruiva, cheio de chuva.

Foi a primeira vez que vi um olhar assim.

Ele olhava em frente para algo que não existia, ele fumava o cigarro lentamente.

Ele sentou-se e encostou a cabeça ao vidro.

A desvontade das suas mãos,

Os olhos dele estavam tão longe e tão irreparáveis que cheguei a casa e os meus agitaram-se.

  

 

III

  

 

Não estou receosa pelas brechas que encontrei na corda, talvez o caminho se esteja a desanuviar. Talvez já falte pouco. De facto, apenas espio por brechas mais fundas e esclarecedoras. O meu cansaço, não é, senão, irreparável.

  

IV

 

Toda esta semana foi demasiado violácea para que eu conseguisse sair de dentro.

Tudo o que venho a sentir adensou-se e multiplicou-se por mil. O que faz sentido é tão frágil e está tão poucas vezes comigo que talvez seja pouco provável o regresso.

Hoje não sinto medo ou peso.

Está perto.

Tenho alguma pena e muita tristeza

publicado por Ligeia Noire às 18:20
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22
Out 09


Prick your finger it is done

The moon has now eclipsed the sun

The angel has spread its wings

The time has come for bitter things 


Marilyn Manson

publicado por Ligeia Noire às 10:58

06
Mai 09

Era agora um completo incêndio e, os olhos marejados de lágrimas, quase a faziam estatelar-se nos degraus.

Passavam de dez, as vezes que quase foi atropelada que quase caiu por estar demasiado destruída.

Demasiado suicida.

Aliás, seria difícil falar-lhe.

Mas nem tudo seria absolutamente horrível e penoso.

Havia duas ou três garrafas de substâncias inebriantes que a aguardavam há já uns meses.

Estava demasiado calor para conseguir respirar mas chegou rapidamente ao pequeno quarto inundado de flores.

Muitas flores.

Rendas e velas a adornar as paredes velhas e cansadas.

Foi, quase sem ver, ao armário e escolheu-as.

Uma de vinho, uma de vinho e três de vinho.

Deixou cair as sandálias e a camisola perto da gata que a olhava.

Deu-lhe leite e a música submergiu-a.

O copo enchia e esvaziava.

Enchia e esvaziava.

Até não se aperceber do dia que terminava lá fora.

As mãos e o pescoço estavam encharcados.

Os ébrios não têm força mas conseguem sempre arrastar-se.

O espelho do lavatório era demasiado acusador e a vontade de o partir nascia-lhe nos dedos.

Não o estilhaçou "não há dinheiro para outro. Os miseráveis não podem exalar a raiva" e soltou-se-lhe um riso

abrupto e cansado da mordacidade que a acalmava todos os dias.

Sentiu que aquilo era o ponto final.

O término da fuga.


publicado por Ligeia Noire às 10:40
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